sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

'Planeta 9': Ele vai influenciar as nossas vidas?


Ainda ninguém o viu mas, a existir, isso implica uma revolução no exercício da astrologia? Fomos ao encontro de quatro astrólogos para descobrir

A verdade está lá fora”. Na série Ficheiros Secretos, um clássico dos anos noventa e que está de regresso aos ecrãs, a dupla de agentes do FBI confronta-se (e confronta o espetador) com dois mundos aparentemente inconciliáveis: o da evidência e o da transcendência. No passado dia 20, cientistas americanos anunciaram a (quase certa) presença de um nono planeta com uma massa dez vezes mais densa que a daquele em que habitamos, valendo-se de modelos computacionais. E então? Quanto tempo vamos ter de esperar para ver imagens desse objeto longínquo, que levará entre dez mil e vinte mil anos a percorrer a sua órbita em torno do sol? Provavelmente, alguns anos. Numa perspetiva otimista, talvez alguns cinco, como na icónica música de David Bowie, nos anos setenta, aludindo às teorias sobre o fim do mundo (e angústias associadas).

Explorar limites faz parte do ADN da natureza humana. Fazemo-lo pela via da observação de fenómenos, da construção de hipóteses e de instrumentos de medida para as testá-las (exemplo: astronomia, ciência). Fazemo-lo, ainda, através da construção de grelhas de leitura simbólicas, subjetivas e apoiadas em mitos que confiram algum sentido à nossa permanência na Terra (caso da astrologia, entre outros). E aqui, surge a pergunta incontornável: a descoberta de novos planetas, como o de que se fala agora, embora ainda não se veja, pode influenciar as nossas vidas de modo comparável às luas e às marés do planeta azul e dos seus “irmãos” do sistema solar? Saiba o que dizem quatro astrólogos e tire as suas conclusões.

Maya, astróloga e taróloga

Não há nenhum planeta que nos venha salvar

As novas descobertas que têm vindo a ser feitas podem ter implicações na astronomia, mas em nada comprometem a astrologia. Este sistema de interpretação ancestral mantem-se inalterado e, à semelhança do Tarô, que assenta em arquétipos (no caso 22 arcanos), tem base no sistema solar clássico e nos planetas da Antiguidade que já eram conhecidos. Pode ser que um dia se crie um novo sistema com permissas, parâmetros e técnicas de análise diferentes, mas isso já não seria a astrologia como a praticamos. Em última análise, não há nenhum planeta que nos venha salvar. Vamos continuar a ter os nossos defeitos e virtudes e a usar a astrologia para nos conhecermos melhor.

Luis Resina, astrólogo e investigador

A interpretação só poderia ser feita no plano coletivo

Este não é o único objeto descoberto na Cintura de Kuiper (que está para além de Neptuno), mas estranho que lhe chamem 'planeta 9', já que o nono seria Plutão, despromovido a planeta-anão, em 2006. Por a sua órbita também sair fora do sistema solar, ele não era usado nas análises dos astrólogos, nem Fernando Pessoa o fazia. A interpretação teria de ser feita no plano coletivo (e não na dimensão individual ou social), mas é prematuro tecer considerações. É que no caso de Plutão, a sua existência só foi confirmada em 1930 através do telescópio. Quanto ao novo planeta, ele apenas existe em cálculos e está por confirmar e batizar pela comunidade científica.

Cristina Candeias, astróloga cármica

É cedo para falar em possíveis efeitos ou influências

Tratando-se de uma descoberta tão recente e dada a sua dimensão gigante, bem como o tempo de rotação à volta do Sol, ainda é cedo para falar em possíveis efeitos ou influências na Humanidade. Entre a descoberta de Plutão e o seu impacto no plano coletivo passaram algumas décadas. É de admitir que a possível influência deste novo planeta na dimensão coletiva e transcendente só venha a ser conhecida daqui a muito mais tempo.

José Prudêncio, astro-filósofo

O movimento deste planeta é tão lento que não permite fazer grandes previsões

Uma descoberta científica atualiza formas de organização. Na astrologia, que pode incluir elementos científicos mas é um sistema de interpretação criado por nós e um processo coletivo de produção de significados, não é assim. O movimento deste planeta é tão lento que não permite fazer grandes previsões. Além disso, está tão distante que se torna difícil integrá-lo ou traduzi-lo em termos humanos, ou seja, em referências que possam ser incluídas no nosso tempo de vida. Basta pensar que Urano demora 84 anos a dar a volta ao Sol, que a órbita de Neptuno dura 165 anos e a de Plutão leva 248 anos! O que quer que se diga além disto é pura especulação.

Em síntese, nós, humanos, somos um grão na poeira cósmica. Objetivamente, temos uma natureza subjetiva. A forma como nos posicionamos no mundo e conduzimos as nossas escolhas é, e continuará a ser, uma grande incógnita. Uma história relativa. Talvez seja esse o segredo da popularidade da sérieFicheiros Secretos e do par que lhe dá vida. Afinal, Fox Mulder e Dana Scully personificam um velho dilema, em máximas tão simples como estas: "Não confies em ninguém" e "Eu quero acreditar".

Fonte: Visão

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