sexta-feira, 25 de março de 2016

Fungo torna rãs mais «sexys» para facilitar propagação, indica pesquisa

Fungo torna rãs mais «sexys» para facilitar propagação, indica pesquisa

Cientistas na Coreia do Sul descobriram que um fungo está a tornar as rãs asiáticas mais atraentes às fêmeas da espécie colaborando no sucesso da evolução de uma geração a outra.

Em entrevista à BBC, o professor-associado da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul, Bruce Waldman, falou sobre a sua pesquisa com uma rã comum na Ásia, a Hyla japonica, e um fungo que ataca rãs, o Batrachochytrium dendrobatidis, também chamado de Bd.

Segundo a pesquisa de Waldman este fungo causa uma doença pandémica que pode matar o anfíbio além de afectar de várias formas a saúde do hospedeiro.

«Bd interfere com o equilíbrio electrolítico e a osmorregulação, causando insuficiência cardíaca nos indivíduos afectados», escreveu o pesquisador.

Além disso, o fungo também interfere no sistema imunológico e em muitos outros tecidos o que leva o anfíbio a ficar letárgico, perder a coordenação além de outras mudanças no comportamento.

Mas Waldman notou que os machos da espécie estudada infectados por este fungo mudam o padrão de vocalizações para atrair mais fêmeas para a reprodução.

O investigador chegou à conclusão de que «machos infectados chamam (as fêmeas) mais rapidamente e produziram chamamentos mais longos do que os machos não infectados».

E isto, de acordo com Waldman, pode mudar a reação das fêmeas.

«Muitas rãs procuram parceiros através de vocalizações (dos machos). Nem todas, mas muitas rãs fazem isso», disse o pesquisador em entrevista à BBC.

«Por conseguinte, um factor preliminar determinante do sucesso reprodutivo é como se chama (uma parceira). Se chama muito, arranja uma parceira melhor, ou mais parceiras.»

Waldman afirmou que o fungo afectou os anfíbios, principalmente no instinto de colocar mais esforço nos chamamentos pelas fêmeas.

«A estrutura do chamamento é diferente, eles fazem chamamentos mais longos, mais rapidamente. Eles parecem fazer chamamentos mais vigorosos do que os feitos por indivíduos saudáveis, que não foram infectados», afirmou.

Quando perguntado se a fêmea da rã asiática pensa que o macho infectado é mais viril, o cientista respondeu com bom humor: «Não sei exactamente o que ela pensa (risos). Mas é mais provável que escolha o macho infectado ao invés do não infectado.»

«Aquele macho poderá infectá-la e é possível que as crias também sejam infectadas», acrescentou.

Waldman afirma que as rãs estudadas sobreviveram à infestação por este fungo.

«Fizemos outros estudos que mostram que, mesmo que este tipo de fungo mate rãs noutras partes do mundo, na Coreia e na maior parte da Ásia ainda não vimos uma grande mortandade de anfíbios. E muitos deles estão infectados por este fungo.»

«As rãs sobrevivem. Na verdade elas parecem estar muito bem! Esta descoberta é muito surpreendente, não é o que esperávamos», acrescentou.

O pesquisador afirmou que os anfíbios na Ásia parecem ter desenvolvido uma «boa resposta imunológica que permite que mantenham o fungo sob controlo».

«Lançar este tipo de resposta imunológica (geralmente) parece ter um custo (...) e nós esperávamos que (este custo) seria uma diminuição de energia noutras actividades como o chamamento (pela parceira). Mas a energia aumentou e este resultado foi surpreendente para nós», afirmou o cientista à BBC.

O cientista afirma que as rãs, asiáticas ou não, têm um papel importante já que «o ecossistema tem que ser visto como um todo e todos os animais e plantas têm um papel».

«Rãs têm um certo papel para eliminar insectos ou (também) noutros tipos de necessidades humanas, mas isto não é o principal. Temos que manter a biodiversidade e rãs são parte da biodiversidade.»

Fonte: DD

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