quinta-feira, 16 de março de 2017

O negócio das notícias falsas feito pelos utilizadores do Facebook sem o saberem


Nem o Papa Francisco cancelou a visita a Fátima, nem apareceu um crocodilo em Porto de Mós, nem Ricardo Quaresma está de regresso ao FC Porto. São "partidas" nas redes sociais que escondem um esquema para gerar lucros

codilo em Porto Mós, Leiria”, “Quaresma regressa ao Porto”, “Estado paga 5 mil euros a cada nascimento em 2007”. São fresquinhas e há para todos os gostos, só não se devem confundir com notícias. Mas, como estão concebidas para serem publicadas enquanto tal, via Facebook ou Twitter, aumentam o risco de serem tomadas como verdadeiras por utilizadores mais incautos, sobretudo quando a leitura se resume ao título. Pelo menos desde terça-feira, um tornou-se especialmente popular: “Papa Francisco cancela visita a Fátima".

O fenómeno parece estar a criar adeptos em Portugal, ajudado por uma ferramenta online com propósitos humorísticos (e lucrativos) que já provocou situações de pânico na Alemanha e em França. Apresentada como um meio de pregar partidas a amigos, permite a qualquer pessoa inventar uma notícia e partilhá-la nas redes sociais com uma paginação que os mais desatentos podem confundir com um site noticioso.

Apesar da conceção básica, resumida a nove destaques e um top-5 (fictício) dos “artigos” mais populares, entre muitos anúncios, a “brincadeira” foi suficiente para deixar várias localidades francesas em alerta, em 2014, quando alguém se lembrou de escrever que existia um surto de Ébola e a “informação” ganhou eco online - levando hospitais e autoridades a virem a público descansar as populações das regiões supostamente afetadas. Já na Alemanha, os falsos relatos de aparições de palhaços assustadores, servidos em forma de facto verídico nas redes sociais, alimentaram o medo de uma bizarria que chegou a vários países no ano passado e que, no mais rico da Europa, meteu a Polícia em campo.

A ferramenta em causa, que começou por estar disponível em francês, inglês e espanhol e foi depois traduzida para alemão, italiano e português (do Brasil), é acessível através de um sem-número de endereços URL. Mas na verdade vão todos dar ao mesmo site, tanto o espanhol “noticias-frescas.com”, como o alemão “24aktuelles.com” ou o português “cnoticias.net”. Ali, na página inicial, o “autor” é avisado ao que vai em letras garrafais: “Faça sua piada de maneira fácil.” Ao lado dos campos para o título e o corpo do texto, até há dicas para “chamar a atenção dos curiosos”. Depois, o conteúdo é partilhado nas redes sociais e estas fazem o “favor” de o amplificar, já sem qualquer referência explícita à trapaça.

O francês Nicolas Gouriou, de quem pouco mais se sabe além da identidade, é o mentor da ideia. Mantém mais de 80 endereços URL registados em nome próprio e mais de uma centena em nome da sua empresa Media Vibes SNC, sediada na Bélgica. Há muitos anos que gere sites de jogos gratuitos e agora parece bem lançado no negócio das notícias falsas, cujo retorno lhe chega pela mesma via: a dos cliques na publicidade. O que o distingue de outros profissionais das “fake news” é que não tem trabalho nem encargos com a produção de conteúdos, uma vez que são os utilizadores que os escrevem (em forma de piada) e os partilham (em formato de notícia), levando tráfego para seus sites e lucros para os seus bolsos - num esquema que a VISÃO explicou neste artigo (clique para ler).

“É um lugar de liberdade de expressão”, comentou Nicolas Gouriou, em 2014, a propósito do seu site actualites.co, que esteve na origem dos boatos sobre a presença do vírus Ébola em França. “É uma nova forma de média: faça você mesmo”, acrescentou, numa rara declaração por e-mail à rádio Franceinfo, assumindo que também ele se divertia a brincar às notícias. “Temos esse direito, não?”

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