quinta-feira, 25 de maio de 2017

Cmoo é que o crberéo cnosgeue ler etsa farse?


O cérebro tem capacidades extraordinárias e consegue mesmo fazer sentido do que parece caótico. Teresa Firmino e Filomena Naves, autoras do livro Por Que As bailarinas Não Ficam com a cabeça a Andar à Roda, aqui em pré-publicação, explicam tudo

Mesmo com as letras trocadas, conseguimos perceber o que está escrito nesta frase. Uma das razões é esta: a primeira e a última letra de cada palavra mantêm‑se no lugar certo, apesar de as outras estarem baralhadas. Esse não é o único segredo para se compreenderem palavras com gralhas ortográficas – há algumas regras simples.


Em Setembro de 2003, um texto que começou a circular pela Internet tornou‑se viral. Estava escrito em inglês, com letras trocadas, e contava que um investigador tinha dito que a ordem das letras numa palavra não importava desde que a primeira e a última estivessem no sítio correcto. O resto, dizia ainda o texto, podia ser uma confusão total que, mesmo assim, conseguiríamos lê‑lo sem problema e que isto acontecia porque a mente humana não lia todas as letras individualmente mas as palavras como um todo.

Logo nessa altura, um investigador da Unidade de Ciências Cognitivas e do Cérebro do Medical Research Council britânico, Matt Davis, deu‑se ao trabalho de ir ver se a história era mesmo como a contavam, à luz do que já tinha sido publicado sobre o cérebro e o processamento da linguagem. Nalgumas partes da mensagem há um fundo de verdade, noutras não é bem como lá se dizia, concluiu Matt Davis, que estuda o que ocorre no cérebro quando processamos a linguagem verbal e escrita, e divulgou os resultados da sua pesquisa na página pessoal na Unidade de Ciências Cognitivas e do Cérebro, em Cambridge.

Manter a primeira letra e a última tem importância, mas a ordem pela qual as letras do meio da palavra aparecem não é irrelevante. Pode ser difícil perceber frases com palavras que tenham letras misturadas se, por exemplo, com as mesmas letras se puderem formar palavras diferentes (como preto e perto).

Quais são então as regras para que o crberéo sjea cpaaz de ler etsa farse? Além de palavras cujas letras não formem outras palavras, as palavras pequenas são mais fáceis de ler, uma vez que assim há duas ou três letras que não mudam e as do meio não fazem tanta mossa na compreensão da leitura.

Geralmente, as palavras funcionais ou gramaticais – artigos (o, um…), pronomes (eu, tu…), preposições (em, com, por…) ou conjunções (mas, e…) –, que servem de elementos de ligação na frase, mantêm‑se quase na mesma, até porque também são pequenas. «Isto ajuda realmente o leitor a preservar a estrutura gramatical do original, ajudando a perceber a palavra que se segue», explica Matt Davis. «Isto é particularmente crucial na leitura de textos baralhados – as palavras previsíveis são mais fáceis de ler nesta situação.»

A troca de letras adjacentes é mais fácil de ler do que a troca de letras mais distantes, exemplifica Matt Davis (porbelma em vez de pbrolema). Tentar manter o som da palavra original e ter um texto que seja relativamente previsível são outros segredos de uma leitura facilitada nestas condições.

Num aspecto, o investigador diz que a mensagem que circulou na Internet estava correcta: geralmente, não lemos individualmente cada letra de uma palavra, excepto numa forma de dislexia rara, a leitura letra‑a‑letra ou alexia pura.

Seguindo estas regras, é fácil ao cérebro interpretar o que devia estar escrito numa frase com as letras baralhadas. Agora que já sabemos as regras básicas, por que não deitar mãos à obra e inventar um texto? Boa srote!



O nosso cérebro é a sede de tudo o que somos, percebemos, inventamos ou criamos. É sobre isso este livro Porque as Bailarinas Não Ficam com a Cabeça a Andar à Roda: sobre essa complexidade que faz de nós o que somos, e que nos é desvendada pela ciência através dos muitos estudos feitos por neurocientistas de todo o mundo, incluindo de Portugal.

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