sexta-feira, 19 de maio de 2017

Já é possível produzir células que dão origem ao sangue


Cientistas conseguiram pela primeira vez, depois de 20 anos de tentativas falhadas, criar células estaminais sanguíneas

As células estaminais que dão origem às células sanguíneas, e que todos temos na medula óssea, foram pela primeira vez criadas em laboratório, culminando duas décadas de trabalho - e de muitas tentativas falhadas. Apesar de apresentar ainda alguns problemas técnicos, este é um novo marco que poderá no futuro abrir a porta à produção de sangue em laboratório, diminuindo a dependência de dadores, ou permitir a criação de novas terapias para doenças como as leucemias.

O resultado foi obtido de forma independente, e com métodos diferentes, por duas equipas de investigação dos Estados Unidos, e os dois estudos foram publicados ontem na revista Nature.

O grupo de George Daley, do Hospital das Crianças de Boston, Massachusetts, utilizou no seu trabalho células humanas adultas de pele que reprogramou para que se tornassem células pluripotentes - estas dão origem a quase todos os tecidos que constituem o organismo. Depois, os investigadores manipularam as células assim obtidas para conseguirem transformá-las em células estaminais sanguíneas.

Foi nesta fase que o grupo deu um passo inovador, porque isso envolveu inserir nas células pluripotentes "ordens" químicas para elas se tornarem células sanguíneas. O pacote assim formado foi depois injetado em ratos e, ao fim de 12 semanas, as células pluripotentes tinham-se transformado em células estaminais sanguíneas. "É fantástico", diz George Daley, o coordenador da equipa de Harvard. "Estamos muito contentes com este resultado", garante.

A outra equipa, liderada por Shahin Raffi, da Weill Cornell Medical College, em Nova Iorque, utilizou um método diferente, criando as células estaminais sanguíneas sem passar pela fase das células pluripotentes. Para o fazer, a equipa usou células de ratos, retiradas dos tecidos que formam as paredes dos pulmões, e manipulou-as no laboratório de forma que se transformassem em células estaminais sanguíneas - o que conseguiram. Depois, quando a equipa pegou nestas células e as injetou em ratinhos doentes, que quase não tinham células do sangue, os animais recuperaram, porque as células estaminais criadas em laboratório "fabricaram" sangue novo.

Apesar destes resultados, que cientistas da área que não participaram nestes estudos não hesitam em classificar como uma grande proeza, estes métodos não poderão ser utilizados a breve prazo para tratar doentes ou para produzir sangue destinado a transfusões. Nesta fase, há o risco de se darem mutações que provocam cancro e, além disso, estas células estaminais sanguíneas criadas em laboratório ainda não são tão eficientes como as que existem natural mente na medula óssea. Certo, portanto, é que o trabalho vai continuar.

Fonte: DN

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