sexta-feira, 16 de março de 2018

Fazem, hoje 44 anos que...

A coluna das Caldas que marchou sozinha para fazer História


Às quatro da manhã do dia 16 de Março de 1974 uma coluna militar composta por 30 oficiais e cerca de 300 sargentos e praças, cruza a porta de armas do quartel das Caldas da Rainha e marcha sobre Lisboa com o objectivo de ocupar o aeroporto, de acordo com a ordem de operações que tinham recebido da comissão militar do Movimento das Forças Armadas. Pouco antes, um pequeno grupo de oficiais tinha detido o comandante e o segundo-comandante e tomado o controlo do então Regimento de Infantaria 5 (RI5).

A coluna caldense, composta por 14 Berliets e alguns Unimogues e GMCs pensa que está atrasada em relação a outras unidades militares do país que a essa hora também estariam a marchar sobre Lisboa. Mas descobre, à entrada de Lisboa, que está sozinha. Os quartéis de Lamego, Santarém, Mafra e Vendas Novas, que era suposto terem aderido a este golpe, acabaram por não se sublevar e Caldas da Rainha tinha ficado só.

A três quilómetros da entrada de Lisboa, apesar de o regime não ter preparado a defesa do capital, a coluna volta para trás, entrando no quartel pelas 10h00 da manhã, fechando os seus portões e preparando-se para ser cercada pelas tropas – alegadamente – fiéis ao regime.

Pouco depois o quartel caldense fica sitiado por forças do RI7 de Leiria, da Escola Prática de Cavalaria de Santarém (a mesma que iria ter um papel decisivo no 25 de Abril), e também da Policia Móvel e GNR, para além, claro, de elementos da PIDE.

Entre as brumas da memória
Em inferioridade numérica, os militares cercados procuram capitalizar o tempo a seu favor, na esperança de que esta tentativa de golpe tivesse repercussão nacional e internacional (na verdade viria a tê-la).

O comandante das forças de cerco, um brigadeiro de 76 anos, ameaça fazer fogo se os revoltosos não se renderem e corta-lhes a água, luz e telefones. As horas passam, para espanto da população caldense que, discretamente, com o receio próprio de quem vive num país em ditadura, circunda o quartel na expectativa de notícias.

Apesar de estarem seguros que jamais os seus camaradas disparariam contra eles – como mais tarde confirmaram à Gazeta das Caldas alguns dos oficiais mais destacados do movimento – os militares do RI5 compreendem que a situação lhes era desfavorável e que não havia mais nada a fazer.

Pelas 17h00 rendem-se e as forças de cerco entram no RI5. Os oficiais são reunidos na biblioteca do quartel, onde ouvem um sermão do brigadeiro. Os oficiais mais comprometidos com a tentativa de revolução assumem as suas responsabilidades e procuram ilibar os seus camaradas dizendo que estes apenas cumpriram ordens.
Mas de pouco serviu porque são enviados para o quartel RALIS, em Lisboa, de onde alguns partiriam para o presídio militar da Trafaria.

Entretanto, sargentos e praças são detidos no refeitório das praças e recambiados para Santa Margarida.

O golpe das Caldas falhara. Nessa noite, Marcelo Caetano, anunciaria na televisão que “reina a calma em todo o país”.

Uma “calma” que perdurou os 40 dias exactos que mediaram até à madrugada de 25 de Abril de 1974. Afinal, a prisão dos militares do RI5 acabaria por acelerar os preparativos para a revolução que viria a ser dos cravos.

Carlos Cipriano


Fonte: Youtube

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