sábado, 24 de novembro de 2012

Lajes: Portugal “nunca conseguiu rentabilizar este activo”

José Filipe Pinto, especialista em ciência política

Base das Lajes
Portugal "tem-se demitido de exercer a soberania sobre um território que é seu" relativamente à base das Lajes, disse este sábado à Lusa José Filipe Pinto, professor catedrático da Universidade Lusófona.


"Os EUA têm sabido negociar. Portugal, à excepção de uma curta passagem do Estado Novo, nunca conseguiu rentabilizar este activo", afirmou José Filipe Pinto, especialista em ciência política, lusofonia e relações internacionais.
Na segunda-feira, os Estados Unidos informaram Portugal sobre a ratificação de uma proposta da Força Aérea norte-americana que prevê uma forte redução da presença na base nos Açores, disse à Lusa um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Miguel Guedes.
Luís Filipe Pinto considera que as Lajes são um "elemento fundamental" para a defesa dos Estados Unidos, e que sucessivos governos portugueses não têm conseguido aproveitar a importância estratégica dos Açores.
O investigador publicou recentemente um livro ("Lisboa, os Açores e a América") sobre a história da base das Lajes, cujo subtítulo é "Jogos de Poder ou Rapina de Soberania?". José Filipe Pinto conclui que os EUA não estão a "roubar soberania" a Portugal.
"Nós é que nos estamos a demitir de a exercer. Parece que ficamos contentes com migalhas. Neste momento, as populações dos Açores estão apavoradas, principalmente na Terceira, pela redução dos postos de trabalho", considera o académico.
"Isso só é possível porque Portugal nunca percebeu a importância dos Açores. Não é Portugal que precisa das Lajes, são os EUA. Mas parece que Portugal está contente com o que recebe."
José Pinto, que é também académico correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa, recorda ainda que "entre 1990 e 1996 foram despedidos 600 trabalhadores das Lajes". Muitos destes, "por causa de Guantanamo e dos voos da CIA, foram desaconselhados a falar".
O professor da Lusófona rejeita ainda que, na actual estratégia dos Estados Unidos, o Atlântico tenha perdido relevância e que o Pentágono esteja a concentrar recursos no Pacífico.
"Os Açores representam, tanto nos quadros da NATO como para os EUA, um elemento imprescindível", afirmou, recordando que os Açores ficam a uma distância semelhante da costa Leste americana como a que separa o Havai da Califórnia.

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