CASO MIGUEL CANTONEIRO
1973 Ilha do Pico, Açores
Um caso inédito
Foi na freguesia de Santo António, na Ilha do Pico, Açores, numa tarde de Setembro de 2005, que a SPO iniciou a investigação de um caso inédito de EI de 3º Grau, passado há mais de 30 anos naquela ilha açoriana. Uma história esquecida nas memórias da família e amigos da principal testemunha, Miguel Silveira Alexandre, mais conhecido por Miguel “Cantoneiro”, infelizmente falecido em 1998. Nessa tarde, Filipe Gomes, membro de direcção da SPO, e Rolando Alves, tal como o primeiro, natural da ilha do Pico e apaixonado pelos fenómenos OVNI, deslocaram-se a casa de Maria do Carmo, viúva de Miguel Alexandre, que se mostrou completamente receptiva a uma entrevista sobre o insólito episódio vivido pelo seu marido.
Geografia do local
O caso que a SPO agora vem expor publicamente, teve lugar na pequena localidade de S.Miguel Arcanjo, pertencente à freguesia e concelho de S.Roque do Pico, um dos três que compõem a ilha do Pico, nos Açores. Os Açores são um arquipélago de nove ilhas, localizado a meio do Atlântico Norte, entre o velho e novo mundo, e uma das duas regiões autónomas de Portugal. Geologicamente têm origem vulcânica e encontram-se na confluência das três importantes placas tectónicas Euro-Asiática, Americana e Africana. O arquipélago está dividido em três grupos: O grupo oriental, composto pelas ilhas de Santa Maria e São Miguel, o grupo central, composto pela Terceira, Graciosa, São Jorge, Faial e Pico, e o grupo ocidental, composto pelas Flores e Corvo, a ilha mais pequena dos Açores. Por sua vez, o Pico, é a segunda maior ilha dos Açores, com um total de 448km2, 42km de comprimento e 15km de largura máxima. A ilha, com uma população de pouco mais de 15000 habitantes, tem a origem do seu nome na montanha do Pico, um estratovulcão único no território português, com uma altitude de 2351 metros, sendo o ponto mais alto de Portugal.
A observação
Miguel “Cantoneiro”, assim conhecido por ser um dos cantoneiros do município de São Roque, era casado com Maria do Carmo, ambos naturais de São Miguel Arcanjo, onde viviam na altura, com as suas três filhas. O casal possuía ainda várias terras na encosta acima da povoação, entre as quais uma roça de 15 alqueires, numa zona mais plana e rodeada de terrenos com vegetação. Terrenos de lenha, como a população local lhes chama. Foi nessa roça, nesse terreno de pasto, que Miguel teve a oportunidade de observar um estranho objecto a pousar e dois pequenos “homenzinhos” a sair do mesmo. Numa tarde de verão de 1973, a data mais provável para o acontecimento, Miguel Alexandre tinha-se deslocado a esse terreno, depois de, no dia anterior, ter cortado a erva de pasto, com o objectivo de terminar o trabalho, arrancando uns silvados que se encontravam no limite mais baixo da propriedade. Estava um dia típico de verão, sem haver vento digno desse nome. Foi por isso que um som como uma “zoadinha”, de deslocação de ar, lhe chamou a atenção, achando estranho, uma vez que o tempo estava tranquilo. Olhou para trás, na direcção do som, e viu então um objecto, com a forma de uma peneira, e de um azul-esbranquiçado, aproximando-se do meio do seu terreno e pousando no mesmo. O objecto parecia um espelho e reflectia a luz solar. Quando pousou a meio do pasto, a erva cortada, que repousava sobre o solo, foi afastada para fora do perímetro ocupado por aquele estranho aparelho. Miguel Alexandre, apesar do temor, manteve-se sempre no local a observar o que sucedia. Abriu-se uma porta a meio do objecto e de lá saiu uma pequena escada de três degraus, pela qual desceu um pequeno homenzinho, em tudo semelhante a um típico anão humano. Seguindo este primeiro ser, saiu um segundo de aspecto muito semelhante. Não traziam nada nas mãos, possuíam umas barbichas na face e tinham roupagens justas. Falavam um com o outro numa linguagem que Miguel não conseguiu entender. Tinham um comportamento bastante familiar, chegando, por exemplo, a colocar as mãos atrás das costas. Não ficaram indiferentes à presença de Miguel Alexandre, que observava desde o início todo o incidente; pelo contrário, olharam-no, mas não lhe deram importância. Pouco depois voltaram a entrar na sua peneira voadora e partiram exactamente na direcção de onde tinham vindo, ou seja, do lado do mato, na direcção da encosta da serra, para sul. O aparelho, ao elevar-se, provocou o mesmo afastamento da erva cortada que tinha acontecido aquando da sua aterragem. Miguel Alexandre, depois de findo o dia de trabalho, voltou para a aldeia pela canada que sempre tomava, encontrando pelo caminho um colega cantoneiro, que tinha estado a trabalhar num terreno um pouco mais acima do terreno de Miguel.
A segunda testemunha
Foi então que o amigo lhe contou que, enquanto trabalhava na sua pequena plantação de inhames, planta comummente cultivada nos Açores, ouviu um vento fora do comum e viu as árvores a mexerem-se, achando isso muito estranho pois não fazia vento naquela tarde. Miguel Alexandre, percebendo que não tinha sido a única testemunha, contou-lhe então que não só tinha ouvido o som, como tinha visto a sua origem, descrevendo-lhe o seu insólito encontro. A notícia mais se espalhou quando os dois chegaram junto à Ermida de S.Miguel Arcanjo, onde, ao fim do dia, o povo se costumava reunir para pôr a conversa em dia. Nessa noite Maria do Carmo de nada soube, pois Miguel Alexandre não lhe quis causar medo de ir ao local.
Especulando sobre o sucedido
Reunindo pistas
No local onde o objecto pousou a erva não sofreu nenhuma secagem posterior, segundo nos informou Maria do Carmo, fenómeno que por vezes ocorre em outros casos de pouso de OVNI. Durante a observação Miguel Alexandre ainda se lembrou de tentar ver o outro lado do aparelho, para confirmar se era uniforme, mas o medo foi mais forte que a curiosidade. Foi forte, mas não o suficiente para fazê-lo fugir logo ao início da observação. O facto de ter havido uma segunda testemunha daquele vento anormal provindo do objecto, mesmo que não tenha observado o OVNI em si, contribuiu para que a população local acreditasse na veracidade da história de Miguel Alexandre. E é até possível que Miguel não contasse a sua experiência se o colega não corroborasse parte da mesma. Quantas outras histórias semelhantes não andarão esquecidas e escondidas devido ao medo do ridículo que todas as testemunhas reais costumam ter? Esta história, esta vivência de Miguel Alexandre ficou então incluída no rol de histórias de vida deste homem do povo, igual a tantos outros. Era uma história que costumava contar aos netos, ávidos de aventuras, de preferência fora do comum. Mas será que o que ele viu foi algo fisicamente real, tal como todo o ambiente local onde a cena se desenrolou, ou não passou de uma alucinação de algum tipo? É algo difícil de concluir. Podemos especular um pouco sobre a influência da natureza vulcânica do local, através das propriedades electromagnéticas das rochas basálticas, na mente humana, tal como a actividade solar, que se pensa poder influenciar-nos. Mas qual das hipóteses será mais realista? Vários factos defendem a hipótese de que simplesmente, o que Miguel Alexandre testemunhou, passou-se na realidade como um fenómeno físico, tal como toda a realidade que nos rodeia no dia-a-dia. Esses factos são, nomeadamente, o testemunho do seu colega que trabalhava mais acima e várias corroborações, as quais serão aprofundadas mais à frente. Partindo então do princípio que o OVNI e os seres eram completamente reais, porque teriam pousado o seu engenho voador naquele local específico? As características do terreno podem dar-nos uma resposta satisfatória. Segundo Maria do Carmo, a roça de 15 alqueires fica numa área mais plana da encosta que vai sempre subindo desde o mar à serra, estando, como já foi dito, rodeada de terrenos de lenha. Sendo o melhor sítio para algum aparelho voador aterrar nas redondezas, tal como, por exemplo, um helicóptero, ou neste caso um OVNI com as características observadas por Miguel Alexandre. E como se deslocava o objecto? Rolando Alves, durante a conversa com Maria do Carmo, deu a ideia de funcionar através de algum tipo de jacto de ar, pois as descrições apoiam uma hipótese dessas. E de onde vinha? Essa é uma da questões mais difíceis de responder, mas à qual, em Ovnilogia, há a tendência de responder logo ao início, dando preferência à origem extraterrestre. Mas na verdade não há nada que nos faça crer que seja obrigatoriamente de origem extraterrestre, aliás vários factores parecem apoiar uma origem mais terrena. Mas voltando ao local do acontecimento, e mais uma vez partindo do princípio que a experiência foi completamente real, podemos chegar a conclusões muito interessantes. Se a roça de 15 alqueires era e continua a ser a melhor área plana para aterragem da zona, então não faria sentido o objecto ter vindo de muito longe, pois nesse caso teria pousado noutro sítio qualquer. A sensação que o seu comportamento nos transmite, é a de estar em viagem e ter feito uma pequena paragem naquela região. Mas a viagem não seria feita de forma desordenada, seguindo qualquer direcção, nesse caso o objecto não teria voltado ao ponto de partida. Dá-nos a entender que seguia uma espécie de auto-estrada que passava pela zona e que saiu por momentos da mesma, escolhendo o melhor sítio para fazer uma pequena pausa. Como se a roça de Miguel Alexandre e Maria do Carmo fosse uma estação de serviço... Não passa tudo de pura especulação. A realidade total será sempre muito difícil de descobrir.
1973 - O ano dos humanóides
Perguntámos a Maria do Carmo se fazia alguma ideia do ano em que teria ocorrido a experiência insólita do seu falecido marido, ao que nos respondeu negativamente. Apenas sabia que tinha sido durante o verão. Mas com um exercício conjunto de exclusão de partes, eliminando os anos impossivéis, chegámos à conclusão que só poderia ter sido no verão de 1973. E há um factor, que não só vem confirmar-nos o ano, como vem apoiar a veracidade do testemunho de Miguel Alexandre. O ano de 1973 testemunhou uma vaga OVNI, tal como outras vagas ocorridas em anos anteriores, vaga essa que não só foi OVNI como teve um grande índice de EI de 3º Grau, chegando mesmo a ser apelidado de o “Ano dos Humanóides”. Essa maior incidência de casos centrou-se sobre os Estados Unidos, apanhando de surpresa muitos, pois apareceu numa altura em que os relatos de OVNI tinham passado a ser muito mais condenáveis e desprezados, devido à publicação do famoso Relatório Condon, um estudo científico sobre os OVNI que chegou a conclusões contrárias a uma origem física e real da fenomenologia OVNI. Claro que esse relatório está envolto numa certa polémica, mas o resultado da divulgação das suas conclusões, não só originou o encerramento em 1969 do Livro Azul, como fez com que muitos jornais deixassem de publicar tantas notícias sobre OVNI. Assim, a vaga de 1973 aparece isolada, numa altura desfavorável a relatos de OVNI. No seu livro The Hynek UFO Report, editado em Portugal pela Portugália, no final dos anos setenta, Allen Hynek transmite-nos de forma clara o que ocorria na época e o porquê da formação do CUFOS (Centro de Estudos OVNI): “A súbita vaga de relatórios em 1973 constituiu surpresa para mim e para os meus colegas. Assim, e porque não se estava fazendo nada oficialmente, nós decidimos organizar o Centro para Estudos sobre OVNIs, o qual serviria de centro para os cientistas e outros indivíduos treinados que tivessem interesse em aprender mais acerca dos OVNIs, e em fazer algo por esse fenómeno”. Mais à frente, ainda sobre o mesmo tema, diz-nos o seguinte: “Contudo, os OVNIs aparentemente não leram o Relatório Condon. Quando em Outubro de 1973 surgiu uma vaga de relatórios sobre OVNIs nos Estados Unidos, a mão fria do Relatório Condon foi finalmente retirada pelo próprio fenómeno OVNI”. Concluímos daqui que o episódio vivido por Miguel Alexandre em 1973 não aparece isolado, mas sim integrado num contexto, na vaga OVNI e de EI de 3º Grau desse ano, sendo mais um factor favorável à veracidade da sua observação.
Açores – OVNIs detectados em radar?
E nos Açores, que aconteceu em 1973? Que seja do meu conhecimento, para além do caso que agora expomos, não existe mais nenhum ocorrido nesse ano que seja do conhecimento público. Excepto um. Navegando pela selva de informação, muita dela duvidosa, que é a Internet, encontrei uma informação interessante de um tal Henry Deichman, que dizia ter estado ao serviço na Força Aérea Americana, como controlador aéreo, na Base das Lages, precisamente em 1973. Ele estava a trabalhar como Controlador do Radar de Aproximação do Aeroporto das Lages, e na altura do conflito isrealoárabe, em que a USAF estava a apoiar Israel, foi detectado nas Lages, durante algumas semanas, cerca de um incidente OVNI por dia. Chegou-se mesmo a enviar aviões da US Navy P3 Orion na tentativa de identificar os OVNI, o que se revelou completamente inútil. Os OVNI seguiam os aviões durante o dia e aproximavam-se da pista de descolagem durante a noite. Chegaram a enviar caças F-4 na perseguição do objecto, mesmo sabendo que este se deslocava a uma velocidade muito mais rápida. É uma informação bastante impressionante de episódios ocorridos em território português, mas que provêm de fontes difíceis de confirmar. A ser fidedigno este relato, estará de certo modo relacionado com o EI de 3º Grau de Miguel Alexandre? É possível. Mais uma vez este caso não aparece isolado, tendo mais uma pista a seu favor, a favor de uma natureza física e real para o mesmo.
Conclusão
Considerações Finais
Neste texto que aqui vos faço chegar tentei transmitir de forma o mais clara possível os factos sobre o episódio insólito vivido por um simples homem de uma aldeia insular. É um caso que estava esquecido e que, na minha opinião, tem um grande valor de estudo, mesmo tendo em conta o desaparecimento da principal testemunha. É um caso que continua em investigação, podendo encontrar-se sempre novos pormenores, factos e até, quem sabe, novas testemunhas de locais distintos. Chegamos à conclusão que o caso não aparece num contexto isolado, mas sim num cenário que apoia uma realidade física do fenómeno observado. Todos estes factores tornam o Caso Miguel “Cantoneiro” um dos mais interessantes ocorridos em território português.
Fevereiro de 2006
Texto: Filipe Gomes
Investigação: Filipe Gomes e Rolando Alves
Nota Final: Como a investigação deste caso ainda continua em curso, o texto poderá sofrer futuras actualizações ou alterações.
Extracto do artigo publicado pela SPO
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