quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Assim fala o chefão dos Bilderbergs em Portugal...

"Não coloco no catálogo do impossível uma guerra generalizada"


Em entrevista à revista XXI, Durão alerta para o perigo de guerra à escala global por não haver uma ordem mundial definida. Diz que não se combate terrorismo com fronteiras e desafia o islão moderado a lutar contra o extremismo

Sem arriscar cenarizar como Huxley ou Orwell, Durão Barroso acredita que "está ainda por construir a ordem política da globalização" e alerta para o risco de "guerras generalizadas". Numa entrevista publicada hoje na revista XXI - à qual o DN teve acesso - , o ex-presidente da Comissão Europeia afirma que "o ideal seria um mundo onde não houvesse fronteiras", defende Schengen e quer que o Islão moderado assuma responsabilidades no combate ao extremismo.

Durão Barroso, que faz parte do Comité Diretor do grupo de Bilderberg (clube muitas vezes acusado de querer construir uma nova ordem mundial, à semelhança da ficção do Admirável Mundo Novo de Huxley ou do 1984 de George Orwell) fala, de forma despudorada sobre a organização política do mundo. Nesta entrevista à revista da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Barroso atenta então que a verdadeira ordem política do século XXI ainda está por construir, constatando que "na realidade, o mundo é ainda mais perigoso quando nenhuma superpotência faz valer a sua hegemonia de modo inequívoco".

Para o antigo primeiro-ministro português neste "momento de transição" o mundo "está à procura de pontos de equilíbrio" e, quando o novo desenho estiver feito, Barroso espera que "uma nova ordem possa refletir os valores da liberdade e da dignidade da pessoa humana."

Durão Barroso reflete que, por força da globalização, "os Estados já não controlam os acontecimentos", havendo um "problema de legitimidade e de efetividade."

Risco de guerras

Na mesma reflexão, Barroso adverte que "o conflito e a guerra fazem parte da história humana", daí que não seja possível "colocar no catálogo das coisas impossíveis uma guerra generalizada. Pelo contrário, guerras generalizadas são hoje uma possibilidade".

Este risco de guerras generalizadas (onde se pode incluir, por exemplo, uma Guerra Mundial) é para Durão Barroso "uma probabilidade (...) visto que não está estabelecida uma ordem suficientemente clara nesta era da globalização".

O ex-presidente da Comissão Europeia recorda que, na atual conjuntura "proliferam guerras regionais, muitas guerras civis." E acrescenta: "Isto é um grande fator de risco".

Defender Schengen

Durão Barroso adverte que o congelamento dos acordos de Schengen (que permitem a livre circulação de pessoas e bens no espaço europeu) seria a "vitória dos terroristas".

Para o antigo governante português "o melhor modo de lidar com qualquer ameaça à segurança interna não é fechar fronteiras, é cooperar, trocar informações". Barroso defende que a Europa deve "reforçar a sua fronteira externa, mas é uma completa ilusão e demagogia dizer que se conseguem melhores resultados pelo encerramento de fronteiras internas". Ou seja: entre membros da União Europeia.

Durão Barroso defende no entanto que deve haver um reforço das "secretas" a nível europeu. "Precisamos de maior capacidade de inteligence", defende.

O antigo líder do órgão executivo da União Europeia abordou a temática da migração, defendendo a política da chanceler alemã Angela Merkel. Barroso diz que é necessário "distinguir refugiados de imigrantes ilegais", considerando "legítimo que os Estados se protejam de imigração ilegal alimentada por redes criminosas". Porém, sem esquecer que "há um dever inclinável, moral e humanitário de as receber".

Barroso elogia e defende a política alemã de "integrar os refugiados, fazer com que possam ter uma profissão e evitar guetos". Mas há um inimigo: a xenofobia. O antigo governante recorda que "pensa-se em muitos países que já há estrangeiros a mais... Temos um problema de xenofobia que é real."

A xenofobia e o crescimento dos nacionalismos é uma das preocupações de Durão Barroso que a alerta que este não é apenas um problema europeu, aproveitando para lançar mais umas farpas a Donald Trump. "Veja-se o que se passa nos EUA, onde no campo republicano há um candidato com um discurso populista, xenófobo, com tons racistas, e que lidera as sondagens...", lamenta.

Islão deve combater terrorismo

Durão Barroso quer ainda que os moderados do islão saiam da sombra para combater o extremismo. Para o antigo presidente da comissão europeia "os moderados do islão procuram demarcar-se, mas a verdade é que os terroristas invocam o islão" e, dessa forma, "o perigo de identificação de toda uma religião com esse messianismo extremista é real".

Barroso defende assim que "o mundo islâmico deve ser mais claro e tomar a vanguarda da luta contra esse fanatismo. Deve ser uma luta travada por todas as forças moderadas do islão". Caso contrário, defende Barroso, "corrermos o risco de transformar a chamada guerra de civilizações numa profecia que se auto-realiza".

Fonte: DN

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