quarta-feira, 29 de junho de 2016

Conheça a criatura mais solitária do planeta, isolada no Buraco do Diabo

Conheça a criatura mais solitária do planeta, isolada no Buraco do Diabo

Um peixe pequeno ostenta um dos apelidos mais incríveis de todas as criaturas da Terra. O Cyprinodon diabolis, conhecido como peixinho-do-buraco-do-diabo, sobrevive num dos lugares mais secos do mundo, o Deserto de Mojave, nos EUA.

Estas criaturas não medem mais que 2,5 cm e estima-se que existam apenas 50 espécimes.

Mas talvez o mais surpreendente seja que, desde o seu aparecimento no mundo, há milhares de anos, a existência desta espécie resumiu-se a um espaço equivalente à da sala de uma casa.

Isto faz destes peixinhos os mais raros vertebrados aquáticos do mundo. Uma espécie isolada e solitária na Terra. Agora os cientistas dizem finalmente ter desvendado de onde eles vêm.

O C. diabolis vive numa caverna de pedra calcária conhecida como o Buraco do Diabo, no Estado americano de Nevada.

Embora a caverna tenha uma abertura para o ar livre, a água que está dentro não se conecta com nenhuma outra fonte aquática.

A 15 metros de profundidade, encontra-se a piscina na qual vive esta espécie específica de peixes da família Cyprinodontidae.

No fim dessa piscina, há uma placa de calcário de cerca de 3 m x 6 m. É a única fonte conhecida de alimento e desova destes peixes - a espécie com a menor área de distribuição geográfica do mundo.

O animal também sobrevive sob condições continuamente difíceis, com temperaturas constantes de 32º C a 33º C, baixos níveis de oxigénio e mudanças esporádicas no nível de água.

Estas características ajudaram a transformar os peixinho-do-buraco-do-diabo em verdadeiros ícones científicos e conservacionistas.

Em 1966, pela sua raridade, estiveram entre as primeiras espécies incluídas na Lei de Protecção das Espécies Ameaçadas dos EUA.

As raras condições em que vive o C . diabolis levanta uma questão fundamental: como chegaram ao Buraco do Diabo?

Os estudiosos acreditaram desde sempre que a espécie chegou ao local há milhares de anos e aí evoluiu até se transformar no que é agora.

Estudos mais recentes sobre a geologia da caverna e a aparência da espécie sugeriram que foram os indígenas desta zona que introduziram este animal no seu habitat relativamente há pouco tempo.

Outras hipóteses indicam que espécies da mesma família, que também viviam no Vale da Morte, no Deserto de Mojave, colonizaram a caverna, talvez transportados por pássaros ou através de rotas subterrâneas.

Se se confirmar uma destas hipóteses, então os peixinho-do-buraco-do-diabo perderiam a sua reputação de espécie excepcional.

Agora, um estudo feito por pesquisadores americanos e publicado na revista Molecular Ecology oferece uma resposta sobre a origem deste peixe.

A equipa, coordenada por Ismail Saglam e Michael Miller, da Universidade da Califórnia-Davis, examinou a história genética do C. diabolis e comparou-a com a de outras duas espécies da mesma família - C. radiosus e C. nevadensis mionectes - para determinar em que momento se bifurcaram.

A surpresa foi descobrir que o peixinho-do-buraco-do-diabo se separou dos seus primos entre 50 mil e 80 mil anos atrás - mais de 40 mil anos antes do que se pensava.

O período coincide com o aparecimento do próprio Buraco do Diabo, entre 50 mil e 60 mil anos atrás.

Para os pesquisadores, isto sugere que a espécie colonizou e sobreviveu no Buraco do Diabo desde o aparecimento da caverna, na superfície do deserto.

«Os dois eventos, a colonização e o colapso do tecto da caverna, podem ter uma causa comum que ainda não identificamos. Um evento geológico», escrevem.

O estudo confirma a raridade deste animal icónico, que sobrevive em completo isolamento há 60 milénios. E as conclusões vão dar mais peso aos esforços para conservá-lo.

Fonte: DD

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