segunda-feira, 25 de outubro de 2010

FORÇA AEREA - 40 ANOS A RAF NOS AÇORES

Alemães interessados nos Açores

o desejo de utilização dos Açores pelas forças alemãs, manifestado pelos estrategas do expansionismo territorial de Hitler, parece datar de 1936 ou 1937, ano em que o navio escola da Marinha de Guerra, Endem Hoklsten, visitou os Açores.
Durante as visitas de 1937 e de 1938, não passou despercebido, aos
mais atentos observadores, frequentes deslocações da tripulação ao interior das ilhas onde, recorrendo a sofisticada aparelhagem, procediam a trabalhos topográficos.
Não subsistiam, portanto, dúvidas quanto ao interesse germânico pelo Arquipélago. Nem sequer os desfiles marciais, as competições desportivas e a exibição de escolas de ginástica - evidenciando, aliás, um inexcedível aprumo e vigorosa disciplina - a que  se dedicavam os marinheiros, escondiam os verdadeiros objectivos da aparente manobra de propaganda do «Reich».
Com dois anos de antecedência sobre o início da guerra, a dupla Doenitz-Ribbentrop procurava já, então, uma posição chave que lhes permitisse o domínio do Atlântico.

Os U·Boat no Atlântico

Após a abertura das hostilidades pelos chamados países do eixo Alemanha, Itália e Japão - em 1939, a Europa encontrava-se em guerra.
Para contrapor à rapidez e ao esmagador poder bélico alemão, os aliados europeus utilizavam técnicas e equipamentos que pouco tinham evoluído desde a I Guerra Mundial.
A entrada dos Estados Unidos da América no conflito, veio revitalizar a energia dos aliados europeus, dando uma nova esperança na vitória.
No entanto, com uma avaliadora precisão e a um ritmo estonteante, os submarinos germânicos vinham infligindo graves baixas aos comboios navais entre os dois continentes, retardando a chegada dos abastecimentos e reforços americanos à Europa.
Esta situação revelava-se intolerável por mais tempo, sob pena de tornar inoperante o gigantesco esforço de guerra americano e de baixar, de novo, o moral das tropas que combatiam na frente europeia.
De realçar que talvez se tenha ficado a dever ao enorme número de submarinos que os alemães colocaram
na água a desistência do projecto imediato de invasão dos Açores quando rebentou a guerra. Na verdade, os submarinos podiam ser reabastecidos, por navios em pleno mar, sem necessidade de aportarem a terra firme.

Churchill prepara invasão das Canárias

Entretanto, informado pelos Serviços Secretos Britânicos das pressões de Hitler e de Mussolini sobre a Espanha, para que esta entrasse no conflito, Churchill desde logo se apercebeu de que, a verificar-se esta hipótese, se tornaria inevitável um ataque espanhol
a Gibraltar.
A perda deste território significava, antes de mais, para a Inglaterra, o fim de qualquer hipótese de intervenção na zona do Mediterrâneo e da manutenção do apoio ao controlo e combate à ofensiva submarina alemã, no Atlântico.
Perante uma tal eventualidade, urgia preparar as coisas de modo a
encontrar uma alternativa.
Ela seria consubstanciada num projecto inglês de invasão das Ilhas Canárias.
Muito embora se previsse um elevado número de baixas nesta operação, a Inglaterra preparava-se também, para, assumir esse risco, pois a «loucura das ilhas» que Hitler vinha evidenciando, aconselhava a uma imediata jogada de antecipação. Contudo,
o projecto alemão para a conquista das ilhas atlânticas não se viria
a concretizar devido à temerária acção do almirante Reader que a ele se lhe opôs com firmeza.
Churchill, no entanto, apressou-se a dar conhecimento do seu plano a
Roosevelt.

Em nome de uma velha Aliança

Contrariamente ao que se tem escrito, partiu do Governo português a
iniciativa das negociações para uma franca e desinteressada colaboração com a causa aliada. Pretendia-se com esta atitude auxiliar a defesa e incrementar a segurança das rotas marítimas
utilizadas pelos comboios navais aliados, alvos de constantes ataques, por parte dos submarinos alemães na zona dos Açores, tendo como consequência directa o reforço das forças aliadas no continente europeu.
Assim, em princípios de Março de 1941, deslocou-se a Londres uma
missão militar portuguesa, chefiada pelo coronel do Estado Maior, Barros Rodrigues.
Seria então que, pela primeira vez, foi reconhecida a importância estratégica das ilhas dos Açores, tendo chegado a ser aventada a hipótese de instalação de uma base inglesa naquele território. Esta sugestão encontrou, na pessoa do Major Humberto Delgado, um acérrimo entusiasta. Após este primeiro encontro, seguiram- se outros em território nacional, com o objectivo de negociar a colaboração solicitada pelo Governo de Sua Majestade Britânica para a utilização de uma base nos Açores, partindo do espírito do Tratado assinado em 1373 entre Eduardo III de Inglaterra e D.Fernando de Portugal.
A 16 de Junho de 1943, o embaixador da Grã-Bretanha em Portugal, Sir Ronald H. Campbell notificou a Salazar que o Governo Britânico partilhava da sua opinião de que havia passado o perigo de uma invasão alemã da Península, podendo-se encarar, à luz da nova situação causada pelo avanço dos aliados, uma colaboração mais directa de Portugal ao esforço de guerra inglês, permitindo-se o uso
de facilidades nas ilhas portuguesas do Atlântico, mormente nos Açores, para o emprego de aviões e navios de superfície. Considerava-se que, deste modo, se poderia infligir uma rápida derrota na campanha submarina alemã no Atlântico, contribuindo para a vitória das Nações Unidas.
A 17 de Agosto de 1943 Portugal e Inglaterra assinavam um Acordo Relativo ao Uso de Facilidades nos Açores, por parte do segundo.

A RAF chega aos Açores

A 1 de Outubro de 1943, uma força britânica constituída por três mil oficiais, sargentos e praças, dos três ramos das Forças Armadas, embarcou no navio de transporte "Franconia», em Liverpool que, acompanhado pelo "Garland» e "Inconstant» iria juntar-se  ao porta-aviões "Fencep" e aos escoltadores "Hanelock», "Burza», "Whitehall» e "Volunteer».
A operação, conhecida pelo nome de código "Alamity», iria colocar na ilha Terceira o equipamento e os homens necessários à instalação de uma base aérea na zona das "Lagens ».
A 8 de Outubro, a Royal Air Force do comando do Vice-Marechal do Ar Geoffrey Bromet, desembarca no porto de Pipas, em Angra, instalando o seu primeiro quartel-general no Castelo de S. Sebastião.
O desembarque no porto de Angra do Heroísmo processou-se com inúmeras contrariedades. Tiveram de lutar contra temporais próprios da época invernia no Atlântico Médio e usaram barcaças de fundo chato para descarregar, tonelada por tonelada, secção por secção, todo o equipamento e abastecimentos necessários. Como se isto não bastasse, o transporte da vila para as Lajes teve de se efectuar com a ajuda de animais. Entretanto, iniciaram-se de imediato os trabalhos, tendentes a cobrir a pista com chapas metálicas e instalando barracas "Nissen» para alojamento do pessoal. Os ingleses ocuparam ainda, os terrenos adjacentes, necessários aos seus serviços.
Pelo fim de 1943 estavam concluídos os trabalhos da pista de aviação, em que se depositavam todas as esperanças.
Os seus quase 2000 m. de grelha de aço, cuja instalação fora obra de quase todos os braços disponíveis dos elementos britânicos e da população local portuguesa, .foram inaugurados pelo brigadeiro Tamagnini Barbosa. A um gesto do General de divisão aérea, Bromet, foi disparado um sinal luminoso vermelho e outro verde (as cores nacionais portuguesas - felizmente, as únicas cores que aquela pistola Very possuía) e o governador civil cortou a fita que era segurada nas extremidades por homens da Royal Air Force e do Exército Português. Uma Fortaleza-Voadora, pilotada pelo Tenente-Coronel P. E. Hadlow, comandante da esquadrilha nº 220, encerrou as comemorações com uma exibição de voo a baixa altitude. Em fins de Fevereiro de 1944, elevava- se já a 13 o número de submarinos atacados, dois dos quais tinham sido afundados.
Praticamente todas as localizações, ataques e afundamentos de submarinos, pelos aviões de Esquadrilhas do Grupo nº 247, foram efectuadas a leste e a nordeste dos Açores, onde as principais concentrações do inimigo tinham sido referenciadas, nas proximidades das linhas de navegação aliadas no Atlântico Central com destino ou em proveniência do Reino Unido.
Na fase inicial da acção do Grupo Anti-Submarino, a maioria dos ataques realiza-se dentro do perímetro operacional de 500 milhas à volta dos Açores. No entanto, durante o mês de Fevereiro de 1944, e com poucas excepções, os submarinos mantiveram- se afastados da orla do "círculo» dos Açores, que se tornara numa área bem protegida e de perigo certo.

O exito da Base das Lajes na vitória aliada

Com a chegada dos ingleses aos Açores, aumentou o número de comboios marítimos aliados cruzando o atlântico, uma vez que a sua missão fora simplificada pela utilização da ba· se aérea.
Em 1942, só no Atlântico Norte, tinham sido afundados 54800001. de navios. No cômputo global do último quartel de 1943, tinham já sido afundados 53 submarinos, muitos outros foram afugentados das suas áreas de reabastecimento, até então seguras, e perderam-se apenas 146 000 1. de navios.
Em 2 de Junho de 1946, terminada que estava a guerra mundial com a vitória dos aliados, as tropas britânicas deixaram a Terceira, procedendo-se à descida do pavilhão inglês e paralelamente ao hasteamento da bandeira nacional no aeródromo das Lajes, numa cerimónia a que, entre outros, assistiram em representação de Sua Majestade Britânica, o Vice-Marechal do Ar, Spackman, e do Governo Central, o Brigadeiro Alfredo Sintra, além do Comandante Militar dos Açores, Brigadeiro Ferreira Pinho.

O discurso do Vice·Marechal Spackman

«(,.,) Em Outubro de 1943 a guerra tinha atingido o seu auge no ar e no mar, contra os submarinos, Os nossos comboios usando a rota norte, combatiam o mau tempo dessas ásperas regiões e ainda combatiam os grupos de submarinos.
Os submarinos operavam ainda na zona de Gibraltar e África Ocidental, tornando-se imperiosa a necessidade de Bases para assegurar' a rota sul não só para escoltar os nossos comboios, mas também para dar caça aos submarinos inimigos.
No dia 8 de Outubro de 1943 após o acordo celebrado entre o Governo Português e Inglês, fizeram-se os primeiros desembarques.
Quinze dias depois deste desembarque, as esquadrilhas do comando costeiro estavam prontas a actuar e trinta dias depois do referido desembarque, foi afundado o primeiro submarino.
Durante os meses seguintes, sete esquadrilhas do comando costeiro desta Base, (cujos números são 220, 206, 233, 172, 179, 269 e 280) saíram para operações,
Fizeram-se três mil cento e quinze (3115) descolagens, num total de 24 978 horas. Avistaram-se trinta e oito. submarinos, tendo-se realizado dezanove ataques,
As Forças Aéreas, tanto as Britânicas como as do Exército e Marinha Americana, jamais esquecerão a boa vontade do povo Português que, na hora mais crítica para nós e no local onde auxílio mais vantajoso podernos-ia ser prestado, cedeu-nos Bases Aéreas que contribuiram grandemente para a condução da guerra,»

Do discurso do Vice-Marechal Spackman

Fonte: Revista Ecos do Atlântico de 1981 - Força Aérea Portuguesa

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