quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Satisfação com democracia atingiu "mínimo de sempre"
A satisfação com a democracia atingiu o "mínimo histórico de sempre" em Portugal, segundo um estudo do Instituto de Ciências Sociais.
Para um dos autores do estudo, o investigador António Costa Pinto, estas são as três conclusões mais relevantes do primeiro "Barómetro da Qualidade da Democracia", que será hoje apresentado em Lisboa.
O estudo revela que 64,6% dos inquiridos estão insatisfeitos com a maneira como funciona a democracia em Portugal, quando em 2009, e segundo um estudo da SEDES, eram 51%.
Por outro lado, em 1999, dados do World Values Survey mostravam que 81% dos portugueses consideravam a democracia um sistema muito bom ou bom, enquanto que segundo este barómetro do ICS, "apenas 55,5% consideram que a democracia é preferível a qualquer outra forma de Governo", o que constitui, segundo escrevem os autores, um "mínimo histórico de sempre".
Para António Costa Pinto, este "declínio sustentado no apoio à democracia" é "mais importante" do que a existência de 15% de inquiridos "suscetíveis de apoiarem, em certas circunstâncias, um regime autoritário".
"As democracias coexistem com segmentos da sociedade que expressam valores autoritários e isso não representa em geral grande problema, a não ser que seja canalizado politicamente", o que não acontece em Portugal, onde os partidos populistas ou extremistas não têm
"sucesso eleitoral" e onde "o desencanto e até o sentimento antipartidario ou antissistema se expressa mais pela abstenção".
Outro aspeto que Costa Pinto sublinha é a importância dos movimentos sociais independentes dos partidos como instituições ou entidades que os portugueses veem mais próximas das suas preocupações.
Assim, 47,6% dos inquiridos dizem não se sentir representados pelos partidos. Por outro lado, os autores do estudo sublinham que "depois do Presidente da República (21,7%)", são "os movimentos sociais de protesto (11,9%) que melhor voz dão às preocupações dos portugueses, à frente dos partidos (10,3%), sindicatos (9,5%), igreja (7,3%) e autarcas (2,7%)".
O surgimento dos movimentos sociais neste grupo é, segundo Costa Pinto, "um dado novo, a correlacionar não só com a conjuntura atual, como também com a natureza independente, apartidária, dos movimentos sociais, ou seja, quanto mais autónomo dos partidos é percecionado um movimento social, maior identificação".
"O forte sentimento antipartidário é uma marca que se começa a consolidar na sociedade portuguesa", sublinha o investigador, que destaca ainda "o elemento de continuidade" relativo à confiança no Presidente da República e uma "nota mais interessante": "Num sistema político que vê as autarquias como as instituições mais próximas das populações, estas estão muito abaixo nesta escala de identificação dos portugueses das instituições que lhe estão mais próximas e que correspondem melhor as suas preocupações e interesses".
Por fim, Costa Pinto destaca uma conclusão relacionada com o momento atual: "Mais de 50% dos portugueses associam estas medidas de austeridade, de diminuição de bens sociais", ao "constrangimento internacional", ou seja, "estão a associar efetivamente estas medidas de austeridade e a falta de alternativa para elas não tanto à decisão autónoma dos governantes mas ao compromisso que Portugal assinou" internacionalmente.
O investigador sublinha ainda que para os portugueses a austeridade e a diminuição de benefícios sociais são um elemento muito importante na associação que fazem à democracia, "por vezes mais do que algumas dimensões exclusivamente politicas e de liberdades fundamentais".
Este estudo, feito com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e a Fundação Calouste Gulbenkian, passará a realizar-se a cada dois anos. As conclusões baseiam-se numa amostra representativa da população com 18 ou mais anos residente em Portugal Continental e constituída por 1207 inquiridos.

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