Autor espanhol considera que Portugal foi "atacado sem piedade"
Jornalista Santiago Camacho escreveu um livro sobre a crise. Acusa as corporações privadas de encherem os bolsos à custa dos cidadãos e considera Portugal "o caso mais trágico" do "ataque dos mercados". Deixa ainda críticas duras às agências de "rating" e ao FMI.
Portugal "caiu numa teia especulativa sem precedentes", afirma o espanhol Santiago Camacho, que está em Lisboa para apresentar o seu último livro "A Troika e os 40 Ladrões".
“O caso de Portugal é mais trágico, porque vocês foram atacados pelos mercados sem piedade, como nenhum outro país da Europa", começa por dizer à Renascença.
"Cada vez que as coisas começavam a melhorar, recebiam nova avaliação negativa da Fitch, da Moody's ou da Standard & Poor's. E a profecia deles acabava por se cumprir. A culpa é da cobiça dos investidores internacional e dos mercados, que continuam a especular à conta de países como Portugal”, sustenta.
No livro, o escritor e jornalista apresenta inúmeros exemplos de corrupção e fraude, envolvendo organizações internacionais e corporações privadas. A começar pelas agências de “rating”, que chumbaram numa investigação do senado norte-americano.
“Havia funcionários com interesses pessoais em empresas e países classificados por eles. Foi também detectado um comportamento quase mafioso por parte destas agências, que ofereciam os seus serviços a empresas que não tinham manifestado interesse. Muitas vezes, um ‘rating’ positivo ficava dependente do pagamento da avaliação. Estas empresas estavam claramente a ser chantageadas”, relata.
Santiago Camacho garante que não há inocentes nesta crise, nem mesmo instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o que chama de “eurocratas”. "Todos são responsáveis", considera.
O escritor aponta ainda o dedo àquela que é descrita como "a organização mais improvável, mas também mais perigosa": a Organização Mundial do Comércio, que "controla cerca de 500 das maiores empresas e mais de 90% do comércio mundial".
“A Organização Mundial do Comércio está actualmente a impedir a aplicação de ferramentas que podiam ajudar a combater a crise, protegendo as economias das importações e animando a indústria nacional. Desafiar as orientações da Organização Mundial do Comércio pode conduzir a um embargo como o de Cuba”, argumenta.
Em mais de 300 páginas, Santiago Camacho promete revelar a verdade sobre a actual crise e acusa as corporações privadas de encher os bolsos à custa dos cidadãos, que arriscam agora perder o nível de vida a que estão habituados, se nada mudar.
Consumidores mal informados
Outra forte ameaça ao actual sistema é a falta de informação. Os consumidores de produtos financeiros não sabem onde estão a investir o dinheiro e nem “os próprios funcionários dos bancos chegam a perceber como funcionam”.
“É uma consequência da cobiça sem limites que se instaurou sobretudo a partir dos anos 90. Começaram-se a criar produtos financeiros cada vez mais complexos. Muitos dos que adquiriram aplicações, como as hipotecas do ‘subprime’, não sabiam o que estavam a comprar, nem sabiam que os bancos já estavam a apostar contra eles, contratando seguros para cobrir a perda de valor desses produtos. Eles nunca ficavam a perder”, revela.
As soluções
O livro avança também soluções, que passam desde logo pelo tão prometido reforço da regulação. É também essencial diluir o poder das agências de “rating”, segundo o autor.
“O problema das agências é que funcionam em oligopólio. A única solução é aumentar o número de agências a operar – não existe nenhuma europeia, o que é altamente irregular – e, sobretudo, que seja reforçada a regulação. E que, quando forem chamadas a tribunal, onde já foram várias vezes, não se desculpem com o argumento de que se limitam a dar opiniões. Opiniões que nem sequer valem tanto! Na véspera do Lemon Brothers cair, tinha uma classificação máxima de triplo A”, recorda.
Outra medida fundamental para o autor é acabar com os paraísos fiscais, um refúgio para o dinheiro do crime e da corrupção, que podia corrigir o défice de muitos países, incluindo o português.
O autor de "A Troika e os 40 Ladrões" defende ainda a refundação do capitalismo, com novas regras e mesmo uma nova doutrina ideológica. Santiago Camacho refere que "se nada mudar, a Europa ameaça tornar-se uma potência periférica".
“O caso de Portugal é mais trágico, porque vocês foram atacados pelos mercados sem piedade, como nenhum outro país da Europa", começa por dizer à Renascença.
"Cada vez que as coisas começavam a melhorar, recebiam nova avaliação negativa da Fitch, da Moody's ou da Standard & Poor's. E a profecia deles acabava por se cumprir. A culpa é da cobiça dos investidores internacional e dos mercados, que continuam a especular à conta de países como Portugal”, sustenta.
No livro, o escritor e jornalista apresenta inúmeros exemplos de corrupção e fraude, envolvendo organizações internacionais e corporações privadas. A começar pelas agências de “rating”, que chumbaram numa investigação do senado norte-americano.
“Havia funcionários com interesses pessoais em empresas e países classificados por eles. Foi também detectado um comportamento quase mafioso por parte destas agências, que ofereciam os seus serviços a empresas que não tinham manifestado interesse. Muitas vezes, um ‘rating’ positivo ficava dependente do pagamento da avaliação. Estas empresas estavam claramente a ser chantageadas”, relata.
Santiago Camacho garante que não há inocentes nesta crise, nem mesmo instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o que chama de “eurocratas”. "Todos são responsáveis", considera.
O escritor aponta ainda o dedo àquela que é descrita como "a organização mais improvável, mas também mais perigosa": a Organização Mundial do Comércio, que "controla cerca de 500 das maiores empresas e mais de 90% do comércio mundial".
“A Organização Mundial do Comércio está actualmente a impedir a aplicação de ferramentas que podiam ajudar a combater a crise, protegendo as economias das importações e animando a indústria nacional. Desafiar as orientações da Organização Mundial do Comércio pode conduzir a um embargo como o de Cuba”, argumenta.
Em mais de 300 páginas, Santiago Camacho promete revelar a verdade sobre a actual crise e acusa as corporações privadas de encher os bolsos à custa dos cidadãos, que arriscam agora perder o nível de vida a que estão habituados, se nada mudar.
Consumidores mal informados
Outra forte ameaça ao actual sistema é a falta de informação. Os consumidores de produtos financeiros não sabem onde estão a investir o dinheiro e nem “os próprios funcionários dos bancos chegam a perceber como funcionam”.
“É uma consequência da cobiça sem limites que se instaurou sobretudo a partir dos anos 90. Começaram-se a criar produtos financeiros cada vez mais complexos. Muitos dos que adquiriram aplicações, como as hipotecas do ‘subprime’, não sabiam o que estavam a comprar, nem sabiam que os bancos já estavam a apostar contra eles, contratando seguros para cobrir a perda de valor desses produtos. Eles nunca ficavam a perder”, revela.
As soluções
O livro avança também soluções, que passam desde logo pelo tão prometido reforço da regulação. É também essencial diluir o poder das agências de “rating”, segundo o autor.
“O problema das agências é que funcionam em oligopólio. A única solução é aumentar o número de agências a operar – não existe nenhuma europeia, o que é altamente irregular – e, sobretudo, que seja reforçada a regulação. E que, quando forem chamadas a tribunal, onde já foram várias vezes, não se desculpem com o argumento de que se limitam a dar opiniões. Opiniões que nem sequer valem tanto! Na véspera do Lemon Brothers cair, tinha uma classificação máxima de triplo A”, recorda.
Outra medida fundamental para o autor é acabar com os paraísos fiscais, um refúgio para o dinheiro do crime e da corrupção, que podia corrigir o défice de muitos países, incluindo o português.
O autor de "A Troika e os 40 Ladrões" defende ainda a refundação do capitalismo, com novas regras e mesmo uma nova doutrina ideológica. Santiago Camacho refere que "se nada mudar, a Europa ameaça tornar-se uma potência periférica".
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