segunda-feira, 9 de abril de 2012

Portugal: pão, queijo e vinho durante a crise

Em Portugal o fim do inverno e o advento da primavera são acompanhados tradicionalmente pelas festas gastronômicas, chamadas de festivais. Via de regra, destes festejos participam os habitantes de pequenas regiões e hóspedes das grandes cidades.
 
Nestas festas, realizadas normalmente no fim da semana, funcionam feiras, em que se vendem produtos e bebidas locais, são organizadas exposições de cães, exibem-se animais domésticos, - vacas, ovelhas e suínos, - e promovem-se competições esportivas.
O nosso correspondente em Portugal Vitali Mirni teve a oportunidade de visitar uma destas festas no limiar do inverno e da primavera.
A festa, chamada “Festival de queijo, pão e vinho”, foi promovida a cerca de 30 quilômetros de Lisboa, junto do centro distrital Palmela.
Mas gostaria de assinalar, antes de mais, que em Portugal os conceitos de primavera e de inverno são bastante convencionais. De acordo com os nossos critérios, agora aí é início típico do verão.
O clima da Lusitânia, - antiga província do Império Romano, e agora, Portugal, - é subtropical e suave. Aqui praticamente não cai a neve, - a única exceção é um só monte, existente em Portugal, cuja altura chega a dois quilômetros.
Na última década de março a temperatura em Lisboa já chegava a 27 graus centígrados. Tudo em torno é verde, e as plantações enormes de uva também irão cobrir-se de folhagem bem em breve.
O tempo quente durante quase todo o ano e a ausência de frios tornam Portugal um local excelente para todas as formas da atividade agrícola. Por exemplo, aí se pode obter durante o ano duas colheitas de batata e os canteiras das hortas portuguesas estão verdes durante o ano inteiro.
O pão, o queijo e o vinho são alimentos básicos dos portugueses desde épocas imemoráveis. Recordo que quando acabei de chegar a Portugal, fiquei pasmado com as narrativas de habitantes do campo sobre uma fome que tinha ocorrido aí outrora. Os camponeses locais disseram-me que houvera época em que não existiam alimentos, não havia nada para comer, exceto, - segundo diziam, - o pão, o queijo e o vinho.
Vamos, voltar, todavia ao “Festival de queijo, pão e vinho”, realizado nas proximidades da cidadezinha de Palmela, situada nos arredores de Lisboa, que tive a oportunidade de visitar.
Pedro Fontes, chefe do comitê de organização do festival, declarou à “Voz da Rússia” que esta ação é realizada pela décima terceira vez e o seu organizador principal é a associação local de granjeiros que se dedicam à criação do gado bovino e miúdo e à produção do queijo. Como é de praxe, os produtores locais de vinho também foram convidados a participar do festival.
Pedro Fontes afirma que todos os três produtos, apresentados no quadro do festival, isto é, o pão, o queijo e o vinho, completam de uma forma natural um a outro. Historicamente eles sempre foram consumidos em conjunto no território de Portugal.
Agora a economia portuguesa, incluindo a agricultura, atravessa um período muito difícil. Apesar da ajuda financeira internacional, as conseqüências da crise afetaram dolorosamente a economia, incluindo o setor agrícola. Os apelos do governo de Portugal de incrementar a produção não surtem por enquanto um efeito visível, e isso diz respeito, em primeiro lugar, à agricultura.
Agora fazem-se muitos comentários pouco lisonjeiros a respeito dos estadistas que dirigiam Portugal na época em que o país ingressava na União Européia, o que resultou na redução das suas cotas de produção agrícola.
E embora Portugal tivesse recebido naquela ocasião da União Européia uma compensação monetária pela diminuição da produção, a agricultura perdeu devida atenção por parte das autoridades, perdeu tecnologias modernas e parou no seu desenvolvimento.
As festas gastronômicas no campo, do tipo do “Festival do queijo, pão e vinho”, de que acabo de falar, agora não passam de um tributo a uma tradição secular dos portugueses.
O país, em que a produção agrícola sempre foi a base da economia, necessita agora de grandes investimentos na agricultura a fim de elevá-la ao nível moderno.

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