07 Novembro 2012 [Regional]
Missão dos
investigadores do Woods Hole Oceanographic
Institution
passou por Ponta Delgada
A
passagem do navio científico ‘Knorr’ pelo porto de Ponta Delgada no âmbito da
missão que levou à constatação de que o aumento da salinidade no meio do oceano
Atlântico, a Sul dos Açores, tem impacto no recrudescimento das secas e
tempestades no planeta, põe a região na rota dos mais conceituados
investigadores de todo o mundo desde os Estados Unidos, passando pela Europa
até ao Japão e China. As informações que colheram são consideradas
“fundamentais” por proporcionarem uma visão mais precisa de como os padrões de
salinidade do oceano e o ciclo da água estão a mudar e como essa evolução pode
estar a afectar a terra, explica o investigador norte-americano, Ray Schmitt.
Em sua opinião, estão a criar-se condições para que as tempestades sejam mais
intensas e surgem mais tornados.
Os Açores estão na encruzilhada da operação ‘Spurs’, desenvolvida pelo Woods
Hole Oceanographic Institution de estudo do impacto da salinidade dos oceanos
nas mudanças climáticas a bordo do navio científico ‘Knorr’ que fez escala no final
de Setembro em Ponta Delgada.
Em Setembro deste ano o investigador Ray Schmitt e oceanógrafos Dave Fratantoni
e Tom Farrar navegaram a bordo do navio de pesquisa ‘Knorr’ à região mais
salgada do Oceano Atlântico ao largo da África, a Sul dos Açores, para
participar de uma expedição com cientistas de uma dezena de instituições
internacionais.
Para o estudo dos processos de salinidade nesta zona do oceano Atlântico, os
cientistas utilizaram uma matriz de tecnologias oceanográficas, incluindo
planadores, carros alegóricos, e vagabundos, para colectar medições de alta
resolução de salinidade que podem ser acopladas com dados do satélite Aquarius.
Os cientistas ficaram surpreendidos ao descobrir que os níveis de salinidade
dos oceanos na região estudada foram muito maiores do que eles esperavam. No
seu entender, os níveis de salinidade “parecem estar a atingir níveis recorde”.
Esses dados são considerados “fundamentais” por proporcionarem uma visão mais
precisa de como os padrões de salinidade do oceano e o ciclo da água estão a
mudar e como essa evolução pode estar a afectar a terra, explica o investigador
Ray Schmitt.
“Apesar das pressões de orçamento, não podemos reduzir satélites e sensores do
oceano”, sublinha o mesmo investigador para, depois, concluir: “Quando
perguntaram ao famoso criminoso Willie Sutton por que roubava bancos, ele
respondeu: ‘É lá que está o dinheiro.”
E Schmitt conclui, a propósito: “É por isso que temos de estudar o oceano – é
lá que a água está”.
A origem das tempestades
“Ao longo dos últimos 50 anos, em geral, as regiões salgadas do oceano estão
ficando mais salgada, e as regiões mais frescas estão a ficar mais frescas”,
dizem os investigadores para concluírem, a propósito, que “essa é a melhor
prova de que o ciclo da água tem vindo a intensificar-se.”
Só recentemente os cientistas começaram a ter as ferramentas para monitorar,
com grande precisão, a salinidade no vasto oceano. Durante a última década,
oceanógrafos dispersaram cerca de 3.500 carros alegóricos ‘Argo’ em todos os oceanos.
Equipado com sensores para medir a temperatura e salinidade, estes carros
alegóricos transmitem os dados para terra de dez em dez dias. “Eles são como
balões meteorológicos do oceano”, diz Ray Schmitt.
Em 2011, a
NASA lançou o Aquarius, um novo satélite de sensoriamento salinidade, para
fornecer medições contínuas de padrões de salinidade dos oceanos por todo o
globo, disse Gary Lagerloef, chefe da missão Aquarius.
A forma mais directa de aprender se o ciclo da água na Terra se está a
intensificar seria ver se a evaporação sobre o oceano está a aumentar. Mas essa
é uma medida assustadoramente complexa para os cientistas. Em vez disso, eles
podem calcular, indirectamente, a evaporação medindo o sal no oceano, na lógica
de que mais evaporação leva a uma maior salinidade do oceano. E, partindo da
surpresa dos investigadores americanos perante os grandes níveis de salinidade
na missão que desenvolveram em Setembro deste ano a Sul dos Açores, há razões
para preocupação.
O oceano contém 96 por cento da água livre na Terra, e ele age como uma enorme
bomba de água. O oceano é alimentado pelo calor que transforma a água em vapor
de água. A atmosfera transporta este vapor de água para longe, até que condensa
em chuva ou neve e completa o ciclo de queda directamente de volta no mar ou,
indirectamente, por terra, rios e aquíferos subterrâneos.
Agora, como as temperaturas globais têm vindo a aumentar, há fortes indícios de
que a bomba de água do mar foi acelerada.
“À medida que o planeta continua a aquecer, mais calor significa mais
evaporação, e isso significa mais precipitação e clima mais extremo”, diz Ray
Schmitt, cientista do Woods Hole Oceanographic Institution.
Basta olhar para as manchetes recentes dos jornais: O furacão Sandy matou, pelo
menos, 90 pessoas e dezenas de bilhões de dólares em danos. A seca escaldante
em todo o continente dos Estados Unidos em 2012 resultou em perdas de colheitas
e num aumento dos preços dos alimentos…
Eventos climáticos extremos se tornaram mais frequentes em todo o mundo.
Inundações tremendas em 2011 causaram estragos na América do Sul e do Sudeste
Asiático. Na Austrália, as piores inundações em décadas causaram 30 bilhões de
dólares em danos. Em 2010, as inundações no Paquistão mataram 1.400 pessoas e
200.000 deslocados. A onda de calor de 2010 no oeste da Ásia causou perdas de
colheitas maiores e incêndios em toda a Rússia, causando pelo menos 56 mil mortes
e 15 bilhões de dólares em danos, incluindo 2.000 edifícios destruídos…
“O ciclo da água está a intensificar-se e as áreas onde, normalmente, a chuva
cai, vão ter mais chuva e neve; e as áreas onde normalmente não chove vão ficar
ainda mais secas”, disse Ray Schmitt. “O aquecimento da temperatura global vai
causar problemas. Mas as mudanças no ciclo da água causada por temperaturas
mais quentes terão impactos ainda mais importantes para as sociedades.”
Segundo os investigadores, a temperatura da Terra aumentou 1,4°C no século passado,
principalmente devido ao aumento dos níveis de retenção de calor dióxido de
carbono pela queima de combustíveis fósseis.
Uma atmosfera mais quente também pode conter mais vapor, diz o oceanógrafo
Lisan Yu. Ela estimou que a evaporação sobre o oceano, onde 86% de toda a
evaporação ocorre na Terra, aumentou quatro por cento nas últimas três décadas.
Com cientistas a prever o aumento das temperaturas entre os 3 a 5,5 graus centígrados
durante o século XXI, a taxa de evaporação aumentará significativamente, afirma
Paulo Durack, cientista do Laboratório Nacional Lawrence Livermore.
“Quando a água se condensa é lançado vapor de água para a atmosfera,
libertando-se calor e impulsionando movimentos fortes na atmosfera”, disse Ray
Schmitt. “É por isso que as tempestades são mais intensas e há mais tornados”.
Texto com
base em artigo de Lonny Lippsett no site do Woods Hole Oceanographic Institution
Fonte: Correio dosAçores
Sem comentários:
Enviar um comentário