Trabalhadores dizem que os registos foram solicitados para uma investigação aos danos causados a um carro da empresa durante a manifestação. Mais um "passo" no caso que já provocou a demissão do diretor de informação.
Os vídeos da manifestação do passado dia 14, em frente à Assembleia da República, e dos sequentes confrontos entre polícia e manifestantes foram copiados para DVD, a pedido da direcção da RTP, na véspera da polícia solicitar essas imagens à empresa, segundo disse ao Expresso o porta-voz da Comissão de Trabalhadores da RTP, Camilo Azevedo.
O Expresso tentou até agora sem sucesso obter mais esclarecimentos sobre o assunto junto do subdiretor de Informação, Luís Castro, a pessoa que terá gerido este caso.
O porta-voz da Comissão de Trabalhadores diz que foram alertados da transcrição para DVD das imagens, quinta-feira, pelos técnicos da empresa, que estranharam o pedido da direcção.
Seis horas de imagens
Ao todo, foi solicitada a transcrição de quase seis horas de imagens - emitidas e não emitidas - todos os registos efetuados pelas cinco equipas que cobriram a manifestação que acabou em confrontos, no dia da greve geral.
A Comissão de Trabalhadores diz que alertou o Conselho de Redação e o Sindicato dos Jornalistas sobre o sucedido.
O sistema de cassetes da RTP atualmente já só pode ser lido em Portugal por equipamento da empresa, pelo que o seu visionamento por terceiros implica a transcrição.
Ainda segundo Camilo Azevedo, as transcrições para DVD foram efetuadas quinta-feira (o dia seguinte à manifestação) e na sexta-feira a polícia pediu à RTP as mesmas imagens, que os serviços jurídicos da empresa indicaram não poder ser fornecidas.
O porta-voz da Comissão de Trabalhadores indicou ainda ao Expresso que o pedido da direcção foi justificado com a necessidade de investigar os danos causados a um carro da empresa, um Renault Megane de 1998, que ficou com um vidro partido durante a manifestação.
Trabalhadores da RTP não querem ser figurantes de encenações
A Comissão de Trabalhadores difundiu um comunicado intitulado "A RTP não é figurante das encenações do Governo", que lança sérias acusações ao ministro da Administração Interna, Miguel Macedo.
"Não pode tolerar-se que Miguel Macedo, para efeitos de propaganda do Governo induza ao crime - seja com as pedradas dos seus infiltrados, seja com pedidos de imagens que pressupõem uma violação da legalidade pela RTP. Não pode tolerar-se que homens de mão do ministro entrem na televisão pública como numa quinta sua, sem mandado judicial, para visionar e requerer cópia de imagens destinadas exclusivamente a trabalho jornalístico", refere o comunicado.
COMENTÁRIO:
"A RTP NÃO É FIGURANTE NAS ENCENAÇÕES DO GOVERNO"
alix07 (seguir utilizador), 2 pontos , hoje às 18:01COMUNICADO Nº. 49/12
A RTP NÃO É FIGURANTE NAS ENCENAÇÕES DO GOVERNO
Toda a gente sabe que, no dia 14 de Novembro, a polícia foi apedrejada durante hora e meia sem reagir. Toda a gente sabe que, depois disso, a carga policial cilindrou po...r igual manifestantes violentos e manifestantes pacíficos, passantes acidentais em S. Bento e alguns no Cais Sodré. Toda a gente sabe que as dezenas de pessoas detidas foram depois privadas de contacto com os seus advogados e submetidas a vexames em Monsanto. Toda a gente sabe que o ministro Miguel Macedo negou com solenidade a mesma existência de infiltrados que a PSP veio depois confirmar.
A actividade dos infiltrados e a passividade da polícia, durante uma hora e meia, só podem ter servido para justificar aos olhos da opinião pública as violências e arbitrariedades policiais. Em última análise o plano só pode ter consistido em intimidar as centenas de milhares de pessoas que nos últimos meses têm participado em protestos contra o Governo e em dissuadi-las de voltarem à rua. Tudo teve os contornos de uma grande operação de guerra psicológica.
Para continuar, nos dias e meses seguintes, a fazer render essa operação de guerra psicológica, o Governo quis lançar mão de todos os recursos. Entre eles, quis contar com imagens gravadas pela RTP. Aqui enganou-se. A cada passo que dava dentro da RTP, o pedido governamental tropeçava na resistência dos trabalhadores.
Fonte: Expresso
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