quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Porque hoje é quarta...: Um grave problema anunciado

28 Novembro 2012 [Opinião]
Quando a 14 de Agosto passado alertamos nesta nossa crónica semanal para a quase certeza da redução de efectivos na Base das Lajes e consequente necessidade do Governo dos Açores começar a pensar numa solução para minorar os seus efeitos, algumas vozes se levantaram defendendo que os esforços se deveriam centrar na área diplomática e tendo como principal argumento as responsabilidades americanas na defesa dos postos de trabalho e pelas ligações mantidas ao longo de mais de meio século, ilusoriamente convictas que os responsáveis norte-americanos seriam sensíveis ao desastre económico e social que será para os Açores. E expressamos as nossas dúvidas no êxito de tais diligências por, e recordamos o que na altura escrevemos, “…a avaliar pelo que se tem passado por todo o mundo, ter escassas previsões de sucesso. Oxalá que nos enganemos, mas a experiência diz que nestas matérias o pragmatismo fala mais alto que outras razões, por mais legítimas e justas sejam”.
Infelizmente tínhamos razão e a realidade aí está.
Atropelando o que dita a Constituição, o Governo da República da responsabilidade do “PSD” e do CDS/PP”, mantém afastado o Governo dos Açores, em muitas das questões que à Região dizem respeito. Não podemos contar com a sua colaboração. O Secretário da Defesa dos Estados Unidos, Panetta, quando no princípio do ano esteve em Portugal, deixou o recado. Mas nem o Primeiro-Ministro nem os Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa comunicaram, que se saiba e como é sua obrigação constitucional, as intenções norte-americanas acerca das Lajes. Governantes e trabalhadores iludiram-se, acreditando que os Estados Unidos tivessem em atenção a defesa dos postos de trabalho, quando é exactamente a sua redução um dos objectivos da reestruturação em curso, em todas as bases norte-americanas, no estrangeiro e no próprio país.
Ao Governo dos Açores coloca-se um enorme desafio. Não vai ser nada fácil encontrar solução para uma tão grande avalanche de desempregados, numa só ilha, e minimizar os reflexos da redução do contingente militar e civil norte-americano na Terceira.
Mais uma vez, a República, liderada pelo “PSD” e pelo “CDS/PP”, vai fugir às suas responsabilidades para com os Açores. Oxalá nos enganemos, mas dias ainda mais difíceis aí vêm.
Este é mais um caso, lamentavelmente muito grave, a dar razão aos que defendem que o Governo dos Açores deve possuir os instrumentos para acompanhar as implicações externas da nossa situação geográfica, que não são só militares mas envolvem outros domínios nos quais muitas movimentações, e até compromissos internacionais, são feitos à revelia dos órgãos de governo próprio da Região. E para tanto estará vocacionado o “CERIE – Centro de Estudos de Relações Internacionais e Estratégicas” da “Universidade dos Açores”. E é açoriano um dos mais conceituados peritos portugueses nesta matéria, o Professor Miguel Monjardino, que, certamente, não recusaria a sua colaboração.
Vasco Cordeiro tem razão ao afirmar que os Estados Unidos não podem “usar e deitar fora” mas a história ensina-nos que, lamentavelmente, é assim que tem sucedido e não só com os norte-americanos, pois Inglaterra, França e até Portugal o tem feito. É a sina dos Açores. A nossa vida colectiva é muito condicionada pelo que nos chega de fora e ainda nunca fomos capazes de nos libertar dessa dependência.
* * *
Para descontrair e, também, para o uso correcto da língua portuguesa, coloco a questão aos doutos professores da nossa terra.
A Doutora Piedade Lalanda é Secretária ou Secretário da Solidariedade Social? Segundo o jornalista e académico António Valdemar, respondendo à questão que lhe coloquei, será Secretário pois “o género é pessoal; o cargo ou a função não se subordinam ao género feminino”. E acrescenta o nosso conterrâneo, ilustre investigador e académico, “quando as mulheres no tempo do Marcelo foram para o governo e direcções gerais eu estava na Capital (acumulando com o Primeiro de Janeiro). Surgiram estas dúvidas. O Norberto Lopes consultou o Rodrigues Lapa e o José Pedro Machado e a partir daí ficou assente: Senhora Secretario. A questão regressou após o 25 de Abril com a Pintassilgo mas a regra continuei a adopta – la
Senhora Primeiro Ministro.”.
Em que ficamos?
* * *
O alerta que aqui lançamos há oito dias sobre as eventuais consequências da merecida eleição de Carlos César como Presidente do PS/Açores, motivaram esclarecimentos socialistas, que registo e agradeço. Compreendo e acho correctos e bem fundamentados os princípios da proposta a ser apreciada por um futuro congresso do “PS/Açores”. Espero, e certamente comigo estarão os que correcta e bem intencionados levantaram as mesmas dúvidas, que a prática venha a confirmar os princípios anunciados. Se assim acontecer, como confiamos venha a suceder, à justiça da proposta e da previsível eleição, juntar-se-á o respeito pela boa prática democrática e todos ganharemos.
Autor: Gustavo Moura

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