sábado, 8 de dezembro de 2012

Base das Lajes condenada em 2009


Uma avaliação feita pelo Pentágono há três anos já ditava o destino da base nos Açores pelas alternativas e proximidade aos EUA. Os ventos fortes também serviram de argumento.

O desinvestimento dos EUA na Base das Lajes, Açores, estava anunciado desde 2009, altura em que o Pentágono defendeu, num documento interno, a «desclassificação» daquela base para um nível inferior.
Os EUA apontavam dois factores para a despromoção, no White Paper elaborado pelo Air Mobility Command do Pentágono, a que o SOLteve acesso. Por um lado, «devido à sua proximidade aos EUA, a base das Lajes é muito pouco utilizada pelas aeronaves norte-americanas». Por outro lado, «os Açores são frequentemente fustigados por ventos fortes durante o Inverno, o que impede as operações».
Mesmo assim, o Pentágono não defendia o abandono puro e simples da base número 65 dos EUA. Recomendava, antes, a sua «manutenção, mas com uma despromoção do seu actual estatuto (nível 3) para um estatuto de apoio expedicionário (nível 4)», ou seja, apoio à projecção de forças, quando necessário.
Na prática, ao reduzir os actuais 800 militares para 160, tal como foi há duas semanas formalmente anunciado, os EUA estão a transformar as Lajes numa espécie de bomba de gasolina para abastecimento esporádico dos aviões. A base era, na verdade, elogiada como ponto de reabastecimento de aviões. Tem «espaço livre adequado para estacionamento de aeronaves» e acesso para petroleiros, lê-se.
O documento de 2009 referia ainda que a base se situa num «local ideal quando for necessário desviar uma rota a meio do Atlântico». E, por outro lado, mantém a sua importância como base «de rectaguarda», numa altura em que as operações em África «podem aumentar».
Na análise que faz sobre as prioridades nas rotas áreas da Defesa norte-americana até 2025, o Pentágono listava também as bases consideradas ‘rivais’ das Lajes. Como apoio a operações em África há a base da Ilha da Ascenção (território britânico) e o Camp Lemonier, no Djibouti (renovada em 2001 depois do 11 de Setembro). Aliás, esta base subiu no ranking do Pentágono, trocando, na prática, de lugar com as Lajes, de acordo com a análise de 2009.
No centro-Atlântico, existem as bases de Rota e Moron (Espanha), Sigonella (Itália), Souda Bay (Grécia) e Cairo West (Egipto).
Já depois desta tomada de posição do Pentágono, o ex-ministro da Defesa de José Sócrates, Augusto Santos Silva, em visita às Lajes, em Abril de 2010, anunciava que estava «a aumentar o investimento norte-americano e português nas condições operacionais» daquela base.
A retracção – que será faseada – dos EUA nas Lajes é hoje debatida no Parlamento, numa audição conjunta do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, e da Defesa, Aguiar-Branco. Portas falou esta semana com a secretária de Estado Hillary Clinton sobre esta questão, à margem de uma reunião dos chefes das diplomacia dos países NATO, em Bruxelas.
Perante a inevitabilidade da redução do contingente norte-americano, o Governo português já apresentou aos EUA a ‘factura’ de quanto vai custar a Portugal aquele abandono. Nas palavras do ministro da Defesa, pretende-se «mitigar» os efeitos dessa saída.
Ainda este mês vai realizar-se uma reunião extraordinária da comissão bilateral permanente, a pedido de Portugal, embora os EUA já tenham vindo esclarecer, através do seu embaixador em Lisboa, que «nada» no acordo justifica uma reavaliação, pois esta redução de militares já está prevista nas regras que tinham sido revistas em 1995.
Hoje também, reúne-se, pela primeira vez, a Comissão de Trabalhadores com o comandante norte-americano da Base das Lajes para ficarem a saber os planos práticos da redução. Os trabalhadores civis portugueses vão baixar de 800 para 300.

Fonte: SOL

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