Uma avaliação feita pelo Pentágono há três anos já ditava o
destino da base nos Açores pelas alternativas e proximidade aos EUA. Os ventos
fortes também serviram de argumento.
O desinvestimento dos EUA na Base das Lajes, Açores, estava
anunciado desde 2009, altura em que o Pentágono defendeu, num documento
interno, a «desclassificação» daquela base para um nível inferior.
Os EUA apontavam dois factores para a despromoção, no White
Paper elaborado pelo Air Mobility Command do Pentágono, a que o SOLteve acesso.
Por um lado, «devido à sua proximidade aos EUA, a base das Lajes é muito pouco
utilizada pelas aeronaves norte-americanas». Por outro lado, «os Açores são
frequentemente fustigados por ventos fortes durante o Inverno, o que impede as
operações».
Mesmo assim, o Pentágono não defendia o abandono puro e
simples da base número 65 dos EUA. Recomendava, antes, a sua «manutenção, mas
com uma despromoção do seu actual estatuto (nível 3) para um estatuto de apoio
expedicionário (nível 4)», ou seja, apoio à projecção de forças, quando
necessário.
Na prática, ao reduzir os actuais 800 militares para 160,
tal como foi há duas semanas formalmente anunciado, os EUA estão a transformar
as Lajes numa espécie de bomba de gasolina para abastecimento esporádico dos
aviões. A base era, na verdade, elogiada como ponto de reabastecimento de
aviões. Tem «espaço livre adequado para estacionamento de aeronaves» e acesso
para petroleiros, lê-se.
O documento de 2009 referia ainda que a base se situa num
«local ideal quando for necessário desviar uma rota a meio do Atlântico». E,
por outro lado, mantém a sua importância como base «de rectaguarda», numa
altura em que as operações em África «podem aumentar».
Na análise que faz sobre as prioridades nas rotas áreas da
Defesa norte-americana até 2025, o Pentágono listava também as bases
consideradas ‘rivais’ das Lajes. Como apoio a operações em África há a base da
Ilha da Ascenção (território britânico) e o Camp Lemonier, no Djibouti
(renovada em 2001 depois do 11 de Setembro). Aliás, esta base subiu no ranking
do Pentágono, trocando, na prática, de lugar com as Lajes, de acordo com a
análise de 2009.
No centro-Atlântico, existem as bases de Rota e Moron
(Espanha), Sigonella (Itália), Souda Bay (Grécia) e Cairo West (Egipto).
Já depois desta tomada de posição do Pentágono, o
ex-ministro da Defesa de José Sócrates, Augusto Santos Silva, em visita às
Lajes, em Abril de 2010, anunciava que estava «a aumentar o investimento
norte-americano e português nas condições operacionais» daquela base.
A retracção – que será faseada – dos EUA nas Lajes é hoje
debatida no Parlamento, numa audição conjunta do ministro dos Negócios
Estrangeiros, Paulo Portas, e da Defesa, Aguiar-Branco. Portas falou esta
semana com a secretária de Estado Hillary Clinton sobre esta questão, à margem
de uma reunião dos chefes das diplomacia dos países NATO, em Bruxelas.
Perante a inevitabilidade da redução do contingente
norte-americano, o Governo português já apresentou aos EUA a ‘factura’ de
quanto vai custar a Portugal aquele abandono. Nas palavras do ministro da
Defesa, pretende-se «mitigar» os efeitos dessa saída.
Ainda este mês vai realizar-se uma reunião extraordinária da
comissão bilateral permanente, a pedido de Portugal, embora os EUA já tenham
vindo esclarecer, através do seu embaixador em Lisboa, que «nada» no acordo
justifica uma reavaliação, pois esta redução de militares já está prevista nas
regras que tinham sido revistas em 1995.
Hoje também, reúne-se, pela primeira vez, a Comissão de
Trabalhadores com o comandante norte-americano da Base das Lajes para ficarem a
saber os planos práticos da redução. Os trabalhadores civis portugueses vão
baixar de 800 para 300.
Fonte: SOL
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