07 Dezembro 2012 [Regional]
Afinal o corte de 4 mil milhões de euros passa sobretudo pela Educação Pública, diga-se. Disse-o o primeiro-ministro Passos Coelho e desmentiu-o o mesmo responsável. Em entrevista, referiu que a Constituição dá margem para cortar pelo menos parte daquele valor na área que deveria estar imune a qualquer medida austera. Lá fora, disse que não.
Incongruências cada vez mais palpáveis, que desestabilizam um país em sobressalto. Seria agora o momento de ouvir Passos dizer que as tais gorduras são precisamente o Estado Social que tanta falta faz aos portugueses. É essa a essência do sistema que ajuda os que menos têm. Ainda que hoje este sistema esteja longe da perfeição, amputá-lo dos seus objectivos primordiais é levá-lo à destruição.
Qualquer dia faz dois anos que este governo tomou posse. Não sei contudo, se esta coligação lá chegará. Não acredito nisso. São muitos os telhados de vidro de um conjunto de homens e mulheres de duas forças políticas que pouco mais têm do que o orgulho pessoal a defender. Acredito até que Passos e Portas (e Gaspar no meio, já sabemos) deverão cair por eles, pelas inconsistências de um executivo perdido. Perdido na senda de destruir a escola pública como a conhecemos, transformando-a naquilo que bem entenderem. Para isso ninguém lhes conferiu mandato.
Destruir primeiro para depois vender ao privado com a desculpa de que se destruiu por ser público, parece ser o lema. Já assim foi com a saúde, com o nascimento de hospitais privados e clínicas que floresciam ao lado de cada cuidado de saúde público fechado. Com o sistema de Segurança Social, a teoria parece ser a mesma. Nunca esteve tão descapitalizada como hoje. Os descontos de empresas e trabalhadores têm servido para tapar buracos abertos por patrões sem escrúpulos, que enriquecem à custa dos impostos de todos nós. Agora a Educação.
A maior e mais importante marca da igualdade de acesso a uma vida digna. Introduzir qualquer forma de condicionamento à escolaridade obrigatória, é coartar o direito de cada um a lutar por uma vida melhor. É limitar o acesso de um direito universal, aos que financeiramente o podem fazer. É voltar atrás no tempo, quando noutros pontos do globo se faz precisamente o contrário. Dilma, no Brasil, decidiu empregar todos os lucros do petróleo no sistema educativo federal. Por cá, Passos não sabe o que quer.
*Professor
ferdomarta@gmail.com
Autor: Fernando Marta*
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