terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O mistério das placas de borracha da Indonésia que desaguam em praias europeias

O caso ganhou relevo nos últimos meses, quando os jornais europeus começaram a relatar a estranha história
Tom Quinn Wiliams
A história de como uma plantação numa ilha do Oceano Índico levou pessoas de toda a Europa a unir-se em redor de um mistério que envolve navios naufragados, guerra e placas. Muitas placas.

Tjipetir. A palavra era absolutamente desconhecida para Tracey Williams no verão de 2012, quando, certa manhã, enquanto passeava o cão numa praia da Cornualha, Reino Unido, deu de caras com uma placa com essa inscrição. A Benjamin, um francês que passeava com a família na praia de Mimizan, perto de Bordéus, aconteceu o mesmo. E também a Lou, a Yael, a Nick e a muitos outros. Desde há uns anos, placas com a palavra Tjipetir têm dado à costa em várias praias da Europa e, agora, parece ter-se descoberto finalmente a sua origem.


Primeiro os factos: Tjipetir é uma pequena localidade da ilha indonésia de Java onde existiu, entre o fim do século XIX e início do XX, uma plantação de borracha e derivados. As placas que chegam às costas europeias não são de borracha, como pensaram inicialmente aqueles que as encontraram, mas sim de guta-percha, uma substância semelhante à borracha obtida a partir da árvore Palaquium, encontrada em países do subcontinente asiático.


Como é que placas de uma substância semelhante à borracha produzidas há mais de 80 anos na Indonésia acabam nas praias europeias? É isso que Tracey Williams tenta descobrir desde aquele verão de 2012. Para tal, criou a página de Facebook “Tjipetir Mistery“, onde são publicadas fotografias e testemunhos de pessoas que também encontraram placas destas. Para já, não há registo de que Tjipetir tenha chegado a praias lusas, mas isso não será improvável, uma vez que já se encontraram exemplares na Galiza, em Espanha.

Neste momento, parece ponto assente que a guta-percha de Tjipetir chegou à Europa devido ao naufrágio de um navio. Resta saber qual. Quando, em abril, o jornal francês Le Figaro contou como Benjamin tinha descoberto a sua placa, avançou no mesmo artigo que o mais provável era que esses materiais viessem no Titanic. “Consultei o manifesto de bordo e descobri que realmente transportava guta-percha”, conta Tracey Williams à BBC.

Poderia ser o fim da história, o último segredo do Titanic, como o apelidou o Le Figaro. Mas, em 2013, um navio japonês veio interferir com a lenda e adensar o mistério em redor das placas. Miyazaki Maru. Era assim que se chamava o barco nipónico construído em 1909 e afundado em plena Primeira Guerra Mundial, em 1917, por um submarino alemão, enquanto viajava de Yokohama para Londres. Entre a carga que transportava, placas de Tjipetir.

Essa informação chegou a Tracey através de duas pessoas diferentes sem qualquer relação entre si. E parece encontrar apoio junto das autoridades britânicas responsáveis pelos navios naufragados e sua carga. “As nossas investigações com estes materiais apontam para esse náufragio específico. Apesar de ainda não o termos confirmado, o Miyazaki Maru é a fonte mais provável dessas placas”, explicou à BBC Alison Kentuck, responsável governamental por naufrágios.

Mistério resolvido? Talvez. Mas é muito provável que as placas continuem a aparecer nas praias da Europa. Segundo alguns especialistas em destroços oceanográficos, até podem continuar a chegar nos próximos cem anos. Portanto o caro leitor fica desde já convidado: se encontrar alguma destas placas nas praias portuguesas, avise o Observador.


Fonte: Observador

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