segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Nova bengala para cegos detecta obstáculos que causam todos os anos centenas de acidentes

Nova bengala para cegos detecta obstáculos que causam todos os anos centenas de acidentes

Uma bengala que utiliza ultra-sons para detectar buracos e declives com o objectivo de ajudar pessoas com deficiência visual está a ser desenvolvida na Universidade de Aveiro (UA).

A bengala, já em fase de protótipo, produz vibrações no punho avisando com isso o utilizador que se aproxima, por exemplo, de uma escadaria ou de um buraco no pavimento.

O projecto nasceu no Departamento de Electrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) como resposta a um desafio lançado à academia de Aveiro pela Associação Promotora do Ensino dos Cegos (APEC) que quer acabar com as centenas de acidentes sofridos anualmente pela população invisual portuguesa, muitos dos quais com consequências graves, derivados dos obstáculos indectetáveis com uma normal bengala.

«A bengala desenvolvida na UA é, sem qualquer dúvida, uma grande ajuda para as pessoas com deficiência visual porque dá muito mais informação do que as bengalas existentes», congratula-se Victor Graça, presidente da APEC.

O responsável pela associação mais antiga dedicada aos cegos portugueses (foi fundada em 1888) aponta que os avisos lançados pela bengala para a existência de obstáculos ao nível do chão «são uma grande mais-valia para esta população».

«Dado que a informação possível de obter com esta bengala é muito maior do que a que é possível obter com as que actualmente existem no mercado, quanto mais informação a pessoa cega ou amblíope tiver menos acidentes existem», aponta Victor Graça lembrando que as barreiras abundam por todo o país: «Basta pensarmos, por exemplo, na enorme quantidade de carros estacionados em cima do passeio, nas esplanadas, nos buracos, nas obras não sinalizadas ou nos caixotes do lixo.»

Para já, os obstáculos suspensos ao nível da cabeça do utilizador não são ainda detectados pelo protótipo do DETI. No entanto, essa funcionalidade será objecto de futuros desenvolvimentos. A expectativa dos investigadores da UA é também criarem um produto acessível com um preço que ronde os 100 euros. «O custo das que se fabricam no estrangeiro [com funcionalidades similares] são vendidas no nosso país por um valor que as pessoas com deficiência por norma não conseguem pagar de modo nenhum», diz Victor Graça salientando o preço mais acessível da bengala da UA como outra das grandes vantagens do projecto.

«Esta bengala ganhou forma por solicitação da APEC que nos propôs o desenvolvimento de uma bengala que reduzisse duas das principais necessidades de quem as utiliza: a detecção de buracos e desníveis no chão e a detecção de obstáculos ao nível da cabeça», lembra José Vieira, investigador do DETI e coordenador do projecto que contou com a participação dos estudantes Nuno Dias e o Pedro Rosa.

Outro requisito apontado pela APEC foi a colocação na bengala de LEDs de alto brilho que sinalizem a presença da pessoa com deficiência visual ao anoitecer e de forma automática, funcionalidade já implementada pelos investigadores do DETI. «Também está pensado o desenvolvimento de uns óculos com sensores de ultra-sons e de um altifalante paramétrico para a detecção de obstáculos. No entanto, estes dispositivos ainda estão numa estado embrionário de desenvolvimento», aponta José Vieira.

A bengala do DETi tem incorporado um emissor de ultra-sons que envia um sinal que é reflectido pelo solo. Dois recetores de ultrassons detectam o eco e medem o tempo entre a emissão e a recepção. A partir deste tempo consegue-se saber a distância ao solo. Quando esta ultrapassa um determinado valor, o punho da bengala vibra. «A electrónica utilizada é de ultra-baixo consumo de modo a prolongar ao máximo a duração das baterias», explica José Vieira lembrando que «numa primeira versão incluiu-se uma célula fotovoltaica para prolongar a duração das baterias».

Actualmente, no mercado, já existem bengalas que utilizam ultra-sons para a deteção de obstáculos, mas a adesão é nula. Os motivos, aponta José Vieira e a própria APEC, prendem-se com a «pouca fiabilidade na detecção de obstáculos e o preço elevado». O facto de não serem articuláveis também em nada ajuda à respectiva adopção. 

Jorge Anjos, funcionário da UA e invisual, a pedido do DETI já experimentou a bengala e tem ajudado os investigadores a melhorá-la. «Os primeiros passos estão dados. Agora é preciso não parar», aponta.

Para o futuro próximo, Jorge Anjos já alertou os investigadores para a necessidade da bengala «poder ser articulada para quando um cego necessitar de a dobrar, que os sensores [instalados na extremidade da bengala que perscruta o chão] devem estar colocados de forma a que o utilizador possa executar normalmente as técnicas de manuseamento da bengala e, já agora, que possam também identificar obstáculos em altura». Melhorias que a equipa de José Vieira já está a implementar.

Fonte: DD

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