A Polícia Federal norte-americana (FBI) e a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) querem impedir grandes grupos da Internet, como Apple ou Google, de porem à venda telemóveis encriptados invioláveis.
O argumento usado para justificar a pretensão é o do risco de estes aparelhos serem utilizados para fins terroristas ou criminosos.
Na segunda-feira, perante uma plateia de peritos em cibersegurança reunidos em Washington, para um colóquio, o chefe da NSA, almirante Mike Rogers, a mais poderosa das agências de espionagem eletrónica, repetiu o grito alarme feito em outubro pelo diretor do FBI, James Comey.
"Não, não se deve deixar a indústria comercializar telefones portáteis invioláveis, dos quais só o utilizador possuiria a chave de acesso aos dados, como números, fotos ou mensagens", disse Rogers.
O chefe da NSA desejou que se alcance um compromisso com a indústria, para que se estabeleça um "quadro legal" que permita à polícia ou aos serviços de informações o aceso aos dados do telemóvel de uma pessoa visada por um processo judicial, por exemplo.
"Este é um verdadeiro problema de segurança nacional", estimou.
Mas o diretor da NSA avança sobre terreno minado. As revelações do ex-colaborador desta agência Edouard Snowden sobre a dimensão da espionagem eletrónica que faz decuplicaram o interesse pelas técnicas da encriptação, tornadas necessárias para indivíduos e empresas se protegerem de curiosidades indesejáveis.
E as revelações prosseguem. Na sexta-feira, o sítio de divulgação de atividades de investigação na internet The Intercept, animado por Glenn Greenwald, um próximo de Snowden, revelou que a NSA tinha montado um programa para obter as chaves de desencriptação dos cartões SIM, produzidos pelas principais empresas do setor, como a Gemalto.
As grandes empresas dos EUA da Internet têm agora de encontrar a forma de tranquilizar os seus clientes, ou perder partes do recado em benefício de empresas de outras nacionalidades. Em consequência, multiplicaram nos últimos meses anúncios sobre reforço da encriptação.
"A Costa Oeste (berço da alta tecnologia nos EUA) está cheia de desafios ao Governo", destacou Tim Maurer, investigador na Fundação Nova América, que organizou o colóquio na segunda-feira. "Não foi por acaso que o Presidente Obama se deslocou" a Stanford, no Estado da Califórnia, há dez dias, para falar da cooperação entre o Governo e a indústria na cibersegurança, adiantou.
A proposta da Apple e da Google, através do sistema de exploração Android, é dar apenas ao utilizador a chave de desencriptação do seu telemóvel -- nem mesmo o fabricante teria acesso ao aparelho a partir do momento em que o utilizador tomasse posse deste.
Muitos peritos destacaram que neste particular não há meias medidas.
Prever uma porta para permitir a uma autoridade pública aceder aos dados significaria deixar pairar a dúvida sobre a segurança destes, justificaram.
"Sem contar com a possibilidade de, se os EUA conseguirem o acesso legal aos dados, os outros Estados também o quererem", o que transformaria a situação num quebra-cabeças para os industriais, disse Tim Maurer.
Mas o almirante Rogers apelou a ultrapassar esta abordagem do "tudo ou nada".
É preciso encontrar uma via alternativa entre sistemas de encriptação porosos e sistemas de encriptação totalmente inacessíveis às agências de segurança e informações, como o FBI ou a NSA, defendeu, apelando a um "diálogo nacional" sobre o assunto.
Diálogo que parece difícil de avançar. Na segunda-feira, Rogers recusou, de forma categórica, responder às questões sobre o acesso aos códigos dos cartões SIM pela sua agência.
Fonte: JN
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