quarta-feira, 25 de março de 2015

Adensa-se o mistério em torno da queda do A320 da Germanwings

Emmanuel Foudrot/Reuters

A aeronave não explodiu, não sofreu uma descompressão abrupta e a sua descida de oito minutos até ao choque com a montanha foi controlada. Os pilotos não pediram socorro, não responderam às perguntas dos controladores aéreos e o radar seguiu o aparelho até às 09h40 da manhã, praticamente até ao ponto de impacto - uma encosta abrupta dos Alpes franceses.

São dados referidos esta tarde pelo responsável pelas investigações, Remi Jouty, e que pouco ajudam a esclarecer o que se passou terça-feira de manhã.

O mistério em torno da queda do voo 9525 da lowcost da Lufthansa, a Germanwings, está a deixar os investigadores perplexos. 

Frio e neve que se fazem sentir na área da queda, entre as aldeias de Digne-Les-Bains e de Barcelonnette, o difícil acesso ao local e uma área de análise entre dois e quatro hectares dificultam ainda mais a busca de respostas. 




Também só foi resgatada uma caixa negra e muito danificada, tendo sido possível recuperar somente um arquivo áudio cuja análise deverá demorar. 

Mas Remi Jouty, do BEA (Bureau d'Enquêtes et d'Analyses), a agência que coordena as investigações, mostrou-se seguro de que se virá a entender o que se passou com o avião que ligava Barcelona a Dusseldorf levando 150 pessoas a bordo.

"Estou confiante de que iremos descobrir o que sucedeu" afirmou, perante os jornalistas, a partir de Seyne-les-Alpes, onde foi instalado o dispositivo de buscas e de investigação. 


Descida controlada

É por exemplo importante perceber que a descida foi gradual e controlada. Jouty admite que talvez fosse o piloto-automático quem comandava a aeronave nos últimos minutos. 

"O percurso é compatível com o avião estar a ser controlado por pilotos, exceto que é difícil imaginar um piloto que lançasse um avião contra uma montanha e (a descida) é compatível com um auto-piloto".

A ultima mensagem do avião veio às 10h30 da manhã, afirmam os investigadores. A essa hora o controlador de tráfego de Aix-en-Provence, respondeu ao pedido da tripulação para continuar a sua rota. 

"Pouco depois o avião iniciou a sua descida que seguiu até ao impacto, menos de 10 minutos depois", revelou Jouty. "Perdemos o sinal de radar do aparelho extremamente perto do local de impacto. Nesse ponto o aparelho estava a 6.000 pés de altitude. O radar seguiu o avião até logo antes do impacto."

Jouty referiu que os investigadores necessitam perceber porque é que o avião continuou a descer sem resposta aos apelos dos controladores. 

Mistérios e silêncios que intrigam os analistas.

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"Sons e vozes"

O arquivo áudio recuperado da caixa negra da cabine de pilotagem do voo 9525 da Germanwings poderá por isso "ser muito interessante, talvez pelo seu silêncio" referiu à AP Television News, Jim Hall, ex-diretor da agência norte-americana de segurança aérea. O silêncio poderia indicar que os pilotos estavam inconscientes.

Os investigadores falam de "sons, vozes", no arquivo de som recuperado. A sua análise não será "simples" reconheceu Jouty. A primeira missão dos investigadores é "um trabalho... de compreender os sons, os alarmes, as vozes, atribuir as vozes a pessoas diferentes", afirmou.


"Não pudemos dizer quem está a falar. Leva tempo perceber estas coisas. É demasiado cedo para tirar conclusões sobre o que sucedeu", avisou.

Psicólogos poderão também estudar o registo, para escutar as inflexões de voz, de forma a perceber se os pilotos estavam embriagados ou debilitados, cansados ou zangados um com o outro.

O CVR grava sons de quatro microfones dentro do cockpit, documenta todos os diálogos entre os pilotos, com os controladores de tráfego aéreo e todos os sons da cabine de pilotagem. Neste caso, todo o voo, desde a descolagem, deverá ter sido gravado.

Os dados do CVR deverão também ser cruzados com os dados de voo gravados pela outra caixa negra do A320 da Germanwings. Esta grava até 25 horas de informação sobre a posição e condições de praticamente todos os principais componentes da aeronave. 

Esta caixa está desaparecida e poderá até não ser encontrada. Se for recuperada os investigadores irão dar prioridade à análise dos motores, flaps, lemes e instrumentos de pilotagem.

Pela quantidade e fiabilidade de dados gravados nas caixas negras, estas são sempre um dos alvos dos investigadores. Podem contudo ser irrecuperáveis ou estar demasiado danificadas para ser possível recuperar dados úteis.

Outras análises

A fuselagem e a análise à área de impacto também permitem recolher pistas.

O Airbus 320 ficou desfeito em milhares de pedacinhos (os maiores mais pequenos do que um carro pequeno), numa área de dois a quatro hectares. 

Serão todos fotografados, localizados, recolhidos e analisados, assim como restos humanos identificáveis. Os registos de manutenção da aeronave e outras pistas semelhantes serão igualmente examinados. 

"O mapear do local do acidente é um processo muito detalhado que pode levar dias e às vezes semanas", referiu Hall à APTN. Centenas de bombeiros e de polícias têm estado a vasculhar as encostas e ravina onde se espalham os destroços. Muitos têm de andar três horas ate ao local, outros são levados de helicóptero, quando as condições meteorológicas o permitem. Especialistas franceses foram enviados de Paris, assim como três investigadores alemães. 

As equipas do BEA foram distribuídas por três grupos. "Um ocupa-se da aeronave e da recuperação das suas partes, outro da análise pormenorizada das caixas negras e o terceiro vai analisar a capacidade de funcionamento e a utilização das diversas partes do avião", revelou Jouty.

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