As minas que ficaram de herança das guerras que assolaram África e a Indochina, são verdadeiros pesadelos para quem vive nas regiões e um sério entrave ao desenvolvimento das respectivas economias. Com a ajuda de ratazanas, treinadas pela APOPO, uma associação humanitária sem fins lucrativos, sediada na Tanzânia, já foram detectadas e destruídas cerca de 50 mil minas e outros explosivos.
Vídeo. A fotógrafa belga Lieve Blancquaert mostra como estes
ratos podem ser, afinal, bichos dóceis e domesticados
Os ratos têm a fama de ser uma fonte de doenças, mas até nisso estes animais fazem a diferença. Enquanto alguns são treinados para descobrir minas enterradas, outros são usados para identificar vestígios de tuberculose em humanos, outro dos flagelos que afecta parte da população africana.
A ideia surgiu a Bart Weetjens, um engenheiro belga, quando andava à procura de soluções para o problema das minas, em 1995. Ele próprio, durante a infância tinha tido todo o tipo de ratos como animais de estimação. Por isso, e porque sabia que são dos mamíferos com maior sensibilidade olfactiva, resolveu treiná-los.
Vídeo. Apresentação do belga Bart Weetjens sobre as potencialidades dos
super-ratos na detecção de minas e de pessoas com tuberculose
Além disso, esta espécie, encontra-se com facilidade em África e, por pesar em média um quilograma, não tem peso suficiente para fazer accionar os engenhos explosivos, logo não arriscam a vida.
O método é muito simples, barato e sustentável. Consiste em usar uma técnica semelhante à que o fisiólogo russo, Pavlov, desenvolveu com cães. Neste caso há também um som (um click) que serve de estímulo, os animais associam-no à comida que lhes é dada, como recompensa, pelos treinadores, e farejam a zona até descobrir o cheiro dos explosivos presentes nas minas.
Foto de Jeroen Van Loon
O treino começa às quatro semanas de vida dos ratos. A primeira etapa é socializar, ou seja, habituar-se aos humanos e a responder a estímulos. Depois começa o trabalho de campo que passa por vários estágios, incluindo a passagem por um campo de minas desactivadas e colocadas a diferentes profundidades.
Foto de Lieve Blancquaert
Em nove meses estão prontos para entrar em acção. E fazem-no com afinco, tendo por objectivo a recompensa que receberão por cada mina encontrada – até agora já foram localizadas e neutralizadas centenas de milhares de engenhos (alguns já não estavam activos) através deste método, o que significa que muitos quilómetros quadrados de terreno voltaram a ser seguros.
Foto de Eric Nathan
O programa de desminagem da APOPO desenvolve-se em vários países: Angola, Tailândia, Cambodja, Laos e Vietnam e tem tido bons resultados. Um dos casos de maior sucesso é o de Moçambique, que já foi um dos países mais minados do mundo, mas que está prestes a tornar-se numa zona livre de minas.
Foto de Xavier Rossi
Num campo completamente diferente, mas que também resulta na poupança de vidas humanas, a APOPO usa ratazanas para, através de amostras de saliva, diagnosticar casos de tuberculose. Tanto em Moçambique, como na Tanzânia, os países em que o programa está a ser aplicado, a tuberculose é uma das principais causas de morte. Os ratos são muito rápidos a descobrir novos casos da doença, permitindo assim iniciar o tratamento e impedir que outras pessoas sejam contagiadas – um rato pode analisar 100 amostras em 20 minutos, um técnico demora quatro dias para chegar ao mesmo número.
Foto de Jeroen Van Loon
Só nas clínicas da Tanzânia e de Moçambique, houve 7.000 doentes a quem as análises laboratoriais tinham dado negativo, mas que ao passarem pelos ratos para reconfirmação, eles apontaram-nas correctamente como infectadas.
A APOPO está agora a estudar novas formas de usar os seus farejadores de élite e, de acordo com Timhothy Edwards, o director de Treino e Pesquisa Comportamental, há interesse por parte da indústria da saúde em usá-los para detectar doenças como o cancro ou a diabetes e do sector da segurança, por exemplo dos aeroportos, em explorar novas vertentes.
E agora, ainda vê os ratos da mesma maneira? Ainda vai entrar em pânico se, no futuro, os vir a "trabalhar" num hospital ou num aeroporto? Se até passou a simpatizar mais com eles, saiba que, através da APOPO, pode adoptar um rato-herói por €5/mês, a associação trata de tudo o resto.Veja aqui os detalhes.
Foto de Lieve Blancquaert
Para ajudar a alimentá-los pode financiar a compra de umcacho de bananas com €12. Patrocinar a desminagem de 100 m2 de terreno custa €100 e, se estiver mais abonado, pode mesmo pagar o treino completo de um destes heróis, por €6.000. É fácil e todo o apoio que a APOPO recebe faz a diferença.
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