Evolução. Pequeno roedor consegue recorrer à frutose como fonte alternativa de energia
Pequeno, quase cego, desprovido de pelo e com uma existência passada quase integralmente debaixo do solo, nos desertos da África oriental o rato-toupeira-nu não é exatamente o mais popular dos animais. Mas este roedor continua a surpreender os cientistas com o seu repertório de recursos evolutivos que, por comparação com outros mamíferos, quase parecem sobrenaturais.
Nos últimos anos têm surgido estudos revelando que, por exemplo, estes animais são extremamente resistentes ao cancro, para além de serem praticamente insensíveis a uma variedade de formas de dor. Agora, um estudo, coordenado por cientistas da Universidade de Illinois, em Chicago, acrescenta ao "arsenal" biológico do rato-toupeira-nu uma nova arma habitual...no reino vegetal.
À semelhança das plantas, explicou Thomas Park, um dos autores do estudo, o pequeno roedor "reconfigurou alguns pilares básicos do seu metabolismo para se tornar super-tolerante a condições de baixo oxigénio".
Como atestam inúmeras notícias trágicas de acidentes ocorridos em minas, a permanência no subsolo implica riscos de intoxicação por gases tóxicos, elevadas concentrações de monóxido de carbono ou a quebra acentuada nos níveis de oxigénio. Mas, ao longo do seu processo evolutivo, o rato-toupeira-nu desenvolveu a solução para este problema. Quando o oxigénio no ar baixa para níveis críticos, o metabolismo deste animal reage, bloqueando a respiração aeróbica (pulmonar) e libertando elevadas quantidades de frutose na corrente sanguínea. Esta frutose é então utilizada para substituir a energia que seria obtida do ar. Para garantir a sobrevivência máxima, estes animais entram então num estado de animação suspensa, até que as condições melhorem.
De acordo com os investigadores, através deste mecanismo, o rato-toupeira sobrevive até 18 minutos em ambientes totalmente desprovidos de oxigénio. Por comparação, um rato comum não sobrevive mais do que 20 segundos nestas condições. E com níveis baixos de oxigénio, que matariam um humano numa questão de minutos, estes animais aguentam até cinco horas.
Este recurso é particularmente importante porque o rato-toupeira-nu vive em grandes grupos, que facilmente consumiriam o oxigénio disponível numa crise. De resto, esta concentração de indivíduos afeta outros aspetos da organização social desta espécie: o grupo é dominado pelas fêmeas (maiores), sendo que apenas uma se reproduz. Há até quem os compare às formigas.
Fonte: DN
Sem comentários:
Enviar um comentário