A formiga da espécie Harpegnathos saltator CLINT PENICK |
Como as substâncias químicas influenciam comportamentos complexos numa colónia de insectos sociais.
As formigas gerem a ascensão à “realeza” como um ritual e através de uma “feromona princesa” a colónia sabe quais as larvas que vão ser preparadas para serem rainhas, segundo um estudo agora publicado.
Feito numa espécie de formigas saltadoras que existe na Índia, no Sri Lanka e Sudeste da Ásia (Harpegnathos saltator), o estudo veio mostrar que se uma larva dá sinais de maturação para rainha no momento errado é fisicamente impedida pelas formigas comuns, mas que os mesmos sinais no momento certo levam todo o formigueiro a dar à larva os recursos de que precisa para se tornar rainha.
“As pessoas têm estudado as feromonas das formigas nos últimos 50 anos, mas praticamente tudo o que aprendemos diz respeito à forma como as formigas adultas usam as feromonas para comunicar entre si”, disse o investigador Clint Penick, da Universidade Estadual da Carolina do Norte (Estados Unidos) e principal autor da investigação publicada num artigo na revista Animal Behaviour.
As feromonas são substâncias químicas que promovem reacções específicas em seres da mesma espécie. Segundo o responsável, o estudo em causa é possivelmente o primeiro a revelar que as próprias larvas de formigas produzem feromonas que influenciam o comportamento das colónias.
As formigas em questão produzem novas gerações de rainhas anualmente, na altura das primeiras chuvas, que depois deixam as colónias e se reproduzem com machos criando novas colónias.
Mas se uma larva indica que se está a desenvolver como rainha no momento errado, por exemplo no Inverno, e por isso o seu “voo de reprodução” não terá consequências, a colónia entende que ela está a consumir recursos sem motivo e morde-a. O stress físico provocado leva a larva a desenvolver-se como uma formiga obreira e já não como uma rainha.
“As obreiras também podem impedir o desenvolvimento de uma rainha no caso de se estarem a desenvolver mais rainhas do que aquelas que a colónia pode suportar”, explicou o especialista, citado num comunicado da sua universidade, acrescentando que a “feromona princesa”, como os cientistas lhe chamam, quando libertada no momento certo garante que as obreiras facilitam o desenvolvimento da nova geração de rainhas.
Na investigação sobre como as obreiras interagiam com larvas aparentemente iguais, os investigadores examinaram a camada de cera encontrada na cutícula da larva, quer nas maiores, que claramente iam ser rainhas, quer nas mais pequenas, supostamente obreiras. E descobriram que as composições químicas das diferentes camadas de cera eram completamente diferentes.
O passo seguinte dos investigadores foi transferir camadas de cera das larvas de rainha para as larvas de obreiras, verificando que as formigas trabalhadoras começaram a tratar as larvas destas como se fossem de rainhas.
“Sinais como a ‘feromona princesa’ são essenciais para os insectos sociais”, disse Clint Penick, acrescentando que “as formigas têm que ter uma forma de garantir que haja trabalhadores na colónia, caso contrário todas as larvas podiam desenvolver-se como rainhas e a sociedade dos insectos desmoronava-se.”
Esta investigação “forneceu mais informações sobre a complexa biologia evolutiva por detrás dos comportamentos sociais dos insectos”, disse o investigador, segundo o qual é preciso agora investigar se a “feromona princesa” está presente em outras espécies de insectos.
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