Em abril, a Polícia Judiciária (PJ) apreendeu duas toneladas de haxixe numa embarcação de pesca ao largo do Algarve. O barco suspeito foi seguido pela Marinha e pela Força Aérea, mas a abordagem esteve a cargo do DAE, o Destacamento de Ações Especiais, uma unidade de elite da Armada, rodeada de secretismo, que deu os primeiros passos em 1985. E embora seja uma força militar, o DAE está preparado para operar em apoio das investigações da PJ, em particular no combate ao tráfico, não apenas na abordagem de embarcações como na vigilância de ações suspeitas para recolha de informações.
É uma flexibilidade que deriva do "know how" ganho em anos a fio de operações militares, com capacidades que vão desde o combate ao terrorismo às ações encobertas. E quantos são? “Entre 30 e 100”, respondem com um sorriso, numa nebulosa simpatia que se estende aos pormenores das ações reais.
O JN foi descobrir o DAE e mostra o que é possível mostrar, em imagens que pela primeira vez chegam ao grande público. O resto é “classificado”.
Formação
Integrado no Corpo de Fuzileiros, é ponto assente que para o DAE só entram militares profissionais, ou seja, que fazem parte do Quadro Permanente da Armada.
Naquela unidade de operações especiais não existe, pois, o conceito de voluntário e contratado, que ao fim de determinado tempo pode regressar à vida civil.
No DAE quem entra pode sair, mas é mantido no quadro permanente, porque, afinal, são homens que sabem sempre demais: os pormenores das operações, sobre explosivos e sobre os tipos de armas.
A arma orgânica é a HK G-36, mas são igualmente preparados para operar, por exemplo, com uma AK-74, ou com qualquer tipo de arma a que tenham acesso. E, quanto a explosivos, sabem inativar um engenho, mas também construir outro recorrendo a meios e produtos de recurso.
É uma instrução feita em 18 semanas, mas onde só chegam ao fim entre cinco a dez por cento dos candidatos. A formação envolve 21 matérias, tantas quanto a flexibilidade de emprego que é exigida aos DAE, e que reflete a necessidade de adaptação aos distintos cenários de operações.
São treinados para sair de um submarino em imersão, assim como para saltar de um avião, em salto automático ou manual - e para um espaço terrestre ou aquático.
Escalada e salvamento integram igualmente a formação, onde é de destacar o socorrismo avançado, ditado pela necessidade de garantir a sobrevivência em ambientes de quase total isolamento.
Missões
Saber onde esteve o DAE e em que missões sabe-se alguma coisa, ou pelo menos aquilo que Estado deixa que se saiba. O que fizeram concretamente e em que circunstâncias fica no segredo de alguns deuses.
A primeira missão conhecida foi na Guiné-Bissau, na operação “Crocodilo”, em 1998, quando uma força anfíbia portuguesa foi resgatar os refugiados, na sequência do conflito entre o Governo local e os rebeldes. A seguir veio Timor, em 2004, mas uma das mais importantes foi no Congo, em 2006, no âmbito de uma força da Eurofor, durante as eleições naquele país. O DAE estava integrado numa estrutura de operações especiais, onde também participavam a França e a Suécia, e uma das missões era o patrulhamento, no sentido de garantir a calma no processo eleitoral.
O Afeganistão veio a seguir, em 2013, mas onde o DAE não participou enquanto força constituída, mas com vários elementos para lá destacados, tal como na atual missão no Mali.
E, no entretanto, estiveram numa miríade de ações a bordo dos navios da Armada, em operações da NATO de natureza antiterrorista, em particular no Mediterrâneo. Isto além das missões em apoio à Polícia Judiciária e à Polícia Marítima, quer na abordagem de embarcações suspeitas, quer na vigilância de eventuais locais de desembarque de droga ou de outras atividades ilícitas, em conjugação com a Força Aérea. E mesmo aqui num cenário onde a possibilidade de haver reféns é equacionada, uma das outras ações do DAE.
Perfil
Entrar no DAE não é para todos, de facto, mas não porque é preciso ser-se um superhomem ou estar na juventude plena.
Bem pelo contrário, a quase totalidade dos seus elementos tem idade bem superior aos 30 anos, homens maduros com capacidade para pensar por si próprios e avaliar os riscos, sem cair em aventuras e excessos. E o que mais lhes é exigido é concentração e calma, confiando que o homem que está a seu lado pensa e age da mesma maneira.
É algo que fica claro no treino de tiro com fogo cruzado a que o JN assistiu. Duas linhas de operações especiais que avançam uma para a outra, disparando munições reais com as pistolas-metralhadoras para o alvo, que surge, ao fundo, entre dois camaradas, que fazem exatamente o mesmo.
Se assim já é difícil, muito mais se torna quando o carregador fica vazio e o militar puxa da pistola Glock 17. E sabe-se o quanto é fácil falhar no tiro de arma de mão. Mas no DAE não pode haver falhas. Talvez por isso seja afirmado que só ao fim de cinco anos, em média, um homem do DAE seja considerado “pronto”.
Cooperação
Cooperar com forças congéneres é essencial para este tipo de forças, uma vez que as operações conjuntas são sempre de prever.
Exercícios com os SEALS norte-americanos são comuns, assim como com as forças especiais polacas, o GROM.
Mas o trabalho conjunto apenas parcialmente significa troca de experiências, porque, no mundo das operações especiais, cada um guarda para si aquilo que considera mais relevante.
E as famílias?
Falar do trabalho do pai é normal para qualquer criança. Mas não para o filho de um elemento do DAE.
Quanto muito, poderá dizer que o pai é militar e fuzileiro, mas não pode ir mais além. Na verdade, nunca poderá vir a saber o que ele realmente faz.
E se a vida militar impõe um conjunto de restrições, no caso de um DAE a limitação é total. A própria mulher do militar também está condicionada.
Sabe que o marido está no DAE, mas não pode dizer a ninguém. E ele e o marido apenas pode informar que, por exemplo, vai estar uns dias ausente, mas nunca dizer para onde ou o que vai fazer ou quando regressa. E mesmo quando acaba a missão mantém-se o mesmo muro de silêncio.
Afinal, um DAE não é apenas um operacional. Pelas suas mãos passam não apenas o planeamento de uma ação, mas também relatórios e dados com origem nos serviços de informações militares e civis, portugueses e estrangeiros.
Ao ingressar nesta força transforma-se também num alvo – que pode ser extensível também à sua família. O segredo é tudo!
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os melhores entre os bons
ResponderEliminarNeste caso dos DAE recomenda-se poucos comentários! No entanto não posso deixar de assinalar o orgulho que todos nós Fuzileiros sentimos nesta força de Èlite que é imprescindivel ao nosso País e ás nossas forças armadas, para dar resposta ás necessidades e ás responsabilidades que cada vez mais vão surgindo, nos novos quadros de Operações e intervenções bélicas que vão sendo redesenhados internacionalmente. E com uma diversidade e velocidade estonteantes!!! Lembrár também que nós temos tradições fortissimas nesta área de forças Especiais Militares de interveção rápida.No tempo da Guerra Colonial tivemos homens muito bons a fazer as chamadas Operações Ocultas de Assalto e Pirataria, e intervenções de longo raio de alcance e acção. E eram feitas por Fuzos Páras e Comandos, sempre com resultados muitíssimo bons. Portanto temos razões mais do que suficientes para nos sentirmos Orgulhosos da existência dos nossos DAEs... Fuzos Sempre.
ResponderEliminarPenso que a 1ª acção, ou pelo menos que foram destacados fora de territorio portugues, foi a Operação Cruzeiro do Sul em 1992, aquando da aproximação de Savimbi a Luanda, o NRP "vasco da Gama" dirigiu-se para Angola com 9 valorosos e distintissimos fuzileiros do DAE, digo isso com conhecimento de causa visto pertencer a guarnição da Vasco da Gama por essa altura.
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