A participação das mulheres na aviação militar não é algo novo: a presença feminina nas operações existe desde que a aviação se tornou uma estratégia de combate.
Observando-se a história da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, entre os Aliados, já haviam centenas de mulheres-piloto nas WASPs – Women Airforce Service Pilots (que faziam o translado em voo de aeronaves militares de suas fábricas para os pontos de embarque para as áreas de combate).
No entanto, embora menos conhecido, um dos mais interessantes históricos da participação feminina na aviação militar deste período é o das “Nachthexen” (do alemão, “Bruxas da Noite”), como ficaram conhecidas pelos pilotos alemães as aviadoras soviéticas do 46º Regimento de Bombardeio Noturno Taman.
Em 1941, após a invasão nazi à ex-URSS, milhares de mulheres ocuparam lugar no campo de batalha. Entre elas, jovens que estudavam no Instituto de Aviação. Os regimentos femininos de combate aéreo se formaram a partir de outubro do mesmo ano, quando o Alto Comando Soviético autorizou a piloto Marina Mikhailovna Raskovaa organizar o Grupo de Aviação Especial Feminino Nº 122.
Todas as aviadoras eram voluntárias, muitas delas quase adolescentes. Porém, Marina Raskova tinha o perfil ideal para a tarefa de coordená-las: além de sociável e óptima administradora, era piloto experiente. Desde 1935, ela havia quebrado vários recordes aéreos de velocidade e distância de voo, sem falar de seus notáveis conhecimentos científicos e artísticos.
Raskova comandou o curso de formação e suas candidatas completaram o curso de voo e navegação aérea em apenas seis meses, o que normalmente era concluído em unidades masculinas em 18 meses. Assim, consagrou três regimentos aéreos femininos: o 586 IAP (Regimento de Caças), o 587 BAP (Regimento de Bombardeiros) e o 588 NBAP (Regimento de Bombardeio Nocturno), que ficou conhecido como as “Bruxas da Noite”.
O 588 NBAP iniciou suas operações em 1942, na Ucrânia. Em setembro de 1942, Valerya Khomiakova abateu uma aeronave alemã JU-99, tornando-se a primeira piloto soviética a destruir um avião inimigo à noite. Ao longo dos meses seguintes, várias foram as pilotos heroínas que conseguiram obter excelentes resultados.
Progressivamente, as mulheres do regimento foram recebendo tarefas militares arriscadas e participaram de momentos históricos de resistência. As missões realizadas pelas “Bruxas da Noite”, no entanto, podiam ser consideradas autênticas operações suicidas.
Costumavam ser feitas com dois primeiros biplanos em grupo, cuja tarefa era chamar a atenção e serem focados pelos reflectores, enquanto um terceiro avião seria o responsável pelo lançamento das bombas sobre o alvo.
As aviadoras, aliás, pilotavam sem pára-quedas, de modo a pesarem menos e ficarem mais velozes. Isto porque voavam biplanos Polikarpov Po-2, construídos em madeira, cujas velocidades eram a metade de qualquer aeronave militar alemã.
Esta característica, no entanto, em vez de lhe colocarem em desvantagem, as faziam mais eficientes, uma vez que eram muito mais fáceis de manobrar e fazerem uma torção, tornando-as difíceis de serem “caçadas”.
Outra de suas habilidades incluíam ainda localizar alvos inimigos a bordo de aeronaves sem nenhum tipo de radar – sendo que somente voavam durante a noite!
Pois mesmo assim, por vezes operando com deficiência de material, em aviões obsoletos e perigosos, passando frio, fome e esgotamento, as “Bruxas da Noites” causaram grandes perdas ao inimigo. Especialmente, souberam ferir o ego alemão, a ponto de se tornarem uma obsessão entre os inimigos nazis.
Nas memórias do Ás Hauptmann Johannes Steinhoff, condecorado com a Ordem da Cruz de Cavaleiro por suas 101 vitórias, encontra-se o registo: “Nós simplesmente não podíamos acreditar que os aviadores soviéticos que nos causaram o maior problema eram MULHERES (sic). Elas não temiam nada. Vinham noite após noite em seus lentos aviões e não nos deixavam em paz!”
A 6 de janeiro de 1943, o regimento foi premiado com o título de 46º Regimento de Bombardeio Nocturno Taman, tendo realizado 23.672 missões com lançamento de três toneladas de bombas sobre o inimigo.
Ao todo, 23 representantes foram agraciadas com a Estrela de Ouro de Herói da então URSS. Entre elas, cabe destacar Nadezhda “Nadia” Popova, uma das mulheres mais condecoradas do exército soviético, falecida em 2013, com idade de 91 anos.
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