Um robô que paga contas com uma troca de olhares ou um carro que encomenda o jantar são alguns dos novos serviços que a Visa está a testar
Mede menos de um metro e meio, tem olhos escuros e nasceu no Japão. Trabalha atualmente como rececionista mas quer dar um novo rumo à carreira. Com a ajuda da Visa, está quase a conseguir. Chama-se Pepper e é um robô humanoide, o que significa que é capaz de interpretar emoções.
No último Visa Futures, um evento anual de tecnologia que teve lugar em Barcelona, a Pepper foi apresentada como assistente pessoal. Basta olhá-la nos olhos e pedir-lhe algo tão simples como pagar a conta da luz. A pequena robô não lhe vai perguntar o que dizem os seus olhos, porque vai conseguir lê-los.
As capacidades da Pepper são apenas uma amostra do que está a ser feito no setor dos pagamentos com a ajuda da biometria e da inteligência artificial. Através de duas dezenas de parcerias com empresas como a Google, IBM ou Shazam, a Visa quer trazer o futuro ao presente o mais depressa possível.
“A tecnologia de base que torna tudo isto possível está cada vez mais acessível e não falta muito para que possamos fazer pagamentos imediatos em todo o lado. Qualquer dispositivo móvel vai ser um terminal de pagamento”, explica Jonathan Vaux, vice-presidente do Departamento de Inovação da Visa, ao Dinheiro Vivo.
Mas se a biometria já é hoje relativamente comum, por exemplo nos smartphones que identificam os utilizadores através da impressão digital ou do reconhecimento facial, na Visa já se pensa na próxima etapa. “Chamamos-lhe biometria de comportamento”, adianta Jonathan Vaux.
“Não é só a nossa impressão digital que é única, a nossa forma de caminhar ou de piscar os olhos também são únicas. E vamos poder provar a nossa identidade assim. Quer comprar uma garrafa de vinho? Na loja vão saber se tem mais de 18 anos. Quer fazer check-in num hotel? Não vai ser preciso mostrar o passaporte.
E será possível fazer pagamentos assim porque a certa altura todos os nossos dispositivos estarão ligados. É como se nos tirassem todos os obstáculos do caminho”, antevê o responsável da Visa. O cenário próximo da ficção científica não assusta o especialista. Jonathan Vaux defende que nos tempos que correm “o tempo vale mais do que o dinheiro” e que as gerações atuais “não são preguiçosas, são pobres em tempo”.
É por isso que qualquer invenção que permita poupar minutos “vai sempre dar certo”, afirma, enquanto aponta para um Bentley que a Visa transformou num carro capaz de, por exemplo, encomendar o jantar e mandar entregá-lo à porta, apenas com um comando de voz. Retalho, banca ou transportes são alguns dos setores que mais vão sentir a chicotada tecnológica.
“Fazer compras tornou-se numa forma de entretenimento, numa experiência. As lojas vão antecipar o que queremos ver e o que queremos comprar, porque terão acesso aos registos do que procuramos online, ou seja, os nossos dados serão constantemente alavancados”.
Tal como a Amazon está a fazer em Denver com a Amazon Go, também a Visa tem na manga uma solução que permite aos consumidores entrar na loja, agarrar no produto que querem comprar e sair sem passar pela caixa, com o pagamento a ser debitado automaticamente.
O método é seguro, garante Jonathan Vaux, mas não irá eliminar milhões de postos de trabalho? “Os funcionários vão continuar a ser necessários nas lojas, mas em vez de estarem atrás de uma caixa a passar produtos, vão ser embaixadores das marcas.
Ao criarem uma ligação com o cliente, aumentam a confiança na marca. É um pouco o que já acontece nas lojas da Apple, onde os funcionários estão a dar explicações e conselhos aos clientes.
E pessoas satisfeitas compram mais”, acrescenta. A desmaterialização definitiva do dinheiro é um dos objetivos das empresas de pagamentos. Paula Antunes da Costa, Country Manager da Visa em Portugal, não acredita que os cartões desapareçam tão depressa, como aconteceu na Suécia onde hoje só 2% dos pagamentos não são eletronizados. “Mas lá chegaremos, esse é o sonho de qualquer governo e é para aí que devemos caminhar.”
Fonte: DV
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