Os restos mortais do que se pensa ser um leão-das-cavernas foram encontrados na Sibéria. O pequeno animal, perfeitamente preservado, provocou uma nova discussão no seio da comunidade científica: clonar ou não espécies já extintas?
Boris Berezhnev, um russo que procura caudas de mamute na Sibéria Oriental, fez uma descoberta inesperada em setembro: a múmia incrivelmente peluda e bem conservada de um felino da Idade do Gelo.
A comunidade científica está entusiasmada com a descoberta, embora alguns cientistas acreditem que se trata de um leão-das-cavernas, uma subespécie já extinta, enquanto outros pensam tratar-se de um lince.
Berezhnev encontrou o felino nas margens do rio Tirekhtykh, na república russa de Iacútia. O pequeno animal tem 45 centímetros de comprimento e faleceu, provavelmente, com um e meio a dois meses de idade – caso seja um leão-das-cavernas – ou com quatro meses, se for um lince.
O paleontólogo Albert Protopopv, líder da equipa de cientistas da Academia das Ciências da República de Sakha que está a estudar a múmia, diz que ainda não teve muito tempo para o fazer, mas que “é uma aposta segura afirmar que o animal data do Pleistoceno“, uma época compreendida entre os 2,6 milhões e 11,700 anos atrás.
Outras duas crias de leão-das-cavernas tinham já sido encontradas há dois anos na mesma região da Sibéria. No entanto, acredita-se que este novo espécime esteja em melhores condições.
Inicialmente, os cientistas pensavam que o primeiro par encontrado – Uyan e Dina – tivesse 12 mil anos, data em que a espécie se extinguiu. Mas pesquisas posteriores descobriram que têm, na verdade, 55 mil anos de idade. Embora seja necessário realizar mais testes à cria mais recente, a estimativa é de que tenha entre 20 e 50 mil anos.
A múmia da cria de leão-das-cavernas tem 45 centímetros de comprimento.
Estas análises adicionais ao animal são necessárias para poder determinar com exatidão a sua idade, sexo, causa da sua morte – e, finalmente, qual é de facto a sua espécie.
O estudo torna-se interessante caso se prove que se trata de um leão-das-cavernas, já que o último conhecido (Panthera spelaea) viveu há cerca de 14 mil anos atrás. Estudos genéticos confirmam que Panthera spelaea e o leão africano moderno (Panthera leo) são “irmãos” que se tornaram espécies separadas há 1,9 milhões de anos.
O leão-das-cavernas deu então origem ao leão americano (Panthera artox), que também já se extinguiu há 300 mil anos atrás.
Por outro lado, se for um lince, será igualmente interessante, dado que poderá ser a múmia mais completa da espécie, como explicou Olga Potapova, curadora das coleções do sítio arqueológico Mammoth Site of Hot Springs, em South Dakota, nos EUA.
Ressuscitar a espécie
Desde que a primeira dupla foi descoberta, muitos cientistas manifestaram interesse em cloná-la, interesse esse que foi agora renovado.
A ciência não é o principal entrave, já que, em 2008, cientistas clonaram um rato a partir de restos congelados de um rato que havia falecido há 16 anos. A questão ética de trazer espécies extintas à vida é a mais preocupante.
Se por um lado, seria incrível ver e estudar um leão-das-cavernas vivo, por outro, são desconhecidos os efeitos sobre os ecossistemas de ressuscitar uma espécie já extinta.
Há quem defenda o uso destes recursos em espécies que estão em perigo atualmente, para evitar a sua extinção, ao invés de nos concentrarmos nas espécies que já cá não estão.
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