domingo, 17 de dezembro de 2017

Évora. Com dois mil anos, o templo que resiste ao tempo está de boa saúde

Remplo Romano rabilitado. Foto:Rosário Silva

Intervenção realizada no monumento nacional envolveu um investimento de cerca de 50 mil euros

De passagem por Évora, Ana Paula assiste à desmontagem dos andaimes que nos últimos quatro meses ladearam o Templo Romano.

Comercial, na área do imobiliário, a visitante já tinha ouvido falar das obras no monumento, mas o assunto não lhe tinha despertado curiosidade até chegar esta manhã à cidade e deparar-se com a operação.

“Já conhecia Évora, até porque venho cá várias vezes, mas fiquei mesmo curiosa para ver como ficou o templo”, diz. E como lhe parece que ficou?

“Parece-me bem, noto que está mais limpo dando-lhe um aspecto mais atraente e de boa saúde. Lá em cima (capitéis) a brancura é notória”, constata Ana Paula que aproveita para fotografar o monumento, agora de cara lavada.

Em Junho deste ano, desprendeu-se um fragmento de um dos capitéis e a Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA) decidiu avançar com uma “empreitada de urgência” para prevenir em vez de remediar.

“Por motivos de segurança foi necessário estabilizar esta situação, daí a intervenção urgente”, contudo, refere Rafael Alfenim, “quisemos também fazer o mapeamento de todas as patologias e todos os problemas que os materiais têm”.

O especialista da DRCA recorda que já tinham sido feitos estudos sobre “a resistência sísmica do templo”, mas não tinha sido “avaliada correctamente a questão dos materiais (pétreos), e este alerta fez com que despoletássemos esta acção”.

Com dois mil anos de história e de exposição, este emblemático monumento apresentava uma série de problemas, nomeadamente a existência de fungos que tapavam o mármore dos capitéis e o granito das colunas e arquitraves.

Investigadores e técnicos de várias entidades e instituições uniram-se no combate às fragilidades do templo, tendo inclusive sido testado, pela primeira vez, um biocida.

“É um composto, um metabolito produzido por uma bactéria, não tóxico, que abre as membranas dos fungos, matando-os”, revela António Candeias, director do Laboratório Hercules.


“É completamente inócuo e como estávamos na fase final de testes de campo, esta foi uma oportunidade única pois é diferente trabalhar em proveta e trabalhar em obra mesmo”, acrescenta o responsável pela unidade de investigação da Universidade de Évora.

O “açougue” que é Património Mundial

Datado do século I, o templo romano de Évora terá sido fortificação no inicio, e foi, seguramente, açougue desde a atribuição do foral à cidade de Évora, em 1501, por D. Manuel I, funcionando como tal até 1836. Em 1871, o arquiteto italiano Giuseppe Cinatti foi contratado com o objetivo de recuperar o monumento, removendo os elementos que haviam sido acrescentados durante a Idade Média, restaurando o edifício.

A ultima intervenção de vulto aconteceu entre 1987 e 1995. As escavações realizadas pelo Instituto Arqueológico Alemão colocaram a descoberto, os espelhos de água que rodeavam o templo.

Nos últimos quatro meses, os especialistas procederam à limpeza do monumento, com a retirada da “almofada biológica” que escondia alguns problemas.

Nuno Proença, especialista em conservação e restauro mostra-se “satisfeito e surpreendido” com o resultado final da intervenção.

O responsável da empresa que desenvolveu os trabalhos, não tem dúvidas de que as pessoas vão ver “as superfícies bastante diferentes” ao mesmo tempo que podem observar “os capitéis muito trabalhados, muito ricos, lavrados de uma forma extraordinária com um enorme rigor estético e técnico”.

O material recolhido no decurso da investigação vai ser estudado em laboratório para, no futuro, ajudar “a tratar e resolver problemas concretos e encontrar novas soluções”, assegura Nuno Proença que classifica esta intervenção como “momento único para avançarmos um pouco mais com todas as ferramentas que temos ao nosso dispor num determinado momento histórico.”

A satisfação é partilhada por António Candeias, do Laboratório Hércules que considera ter sido “uma oportunidade para recolher materiais” que vão “dar informação sobre as técnicas de construção e alguns materiais ainda do período romano”, originando uma “melhor compreensão da história do monumento.”

A intervenção realizada no monumento nacional, abrangido pela classificação do centro histórico da cidade como Património Mundial, pela Organização das Nações Unidas, para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), envolveu um investimento de cerca de 50 mil euros. Os trabalhos desenvolvidos contaram com a participação das universidades de Évora e de Coimbra.

Fonte: RR

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