domingo, 21 de outubro de 2018

Cientistas querem abrir buracos nas nuvens com raios laser para passar informação a uma velocidade sem precedentes


Raios laser a temperaturas elevadíssimas para abrir caminho a comunicações por satélite a alta velocidade. Parece ficção científica, mas os cientistas contam ter o sistema em funcionamento já em 2025

Uma das vantagens da transmissão de dados através de laser é evidente: pode transmitir 10 mil vezes mais informação do que as tradicionais ondas de rádio. Até aqui, o problema estava nas nuvens, cuja densidade impedia os raios laser de transferir a informação, mas o obstáculo pode ser ultrapassado em breve, segundo um estudo publicado na revista científica Optica, por cientistas da Universidade de Genebra.

A ideia é criar um laser a temperaturas muito elevadas - mesmo muito elevadas (estamos a falar de 1500 graus centígrados) -, capaz de abrir temporariamente um buraco na nuvem e assim deixar o raio com a informação passar.

Além da limitação quanto ao volume de informação,a comunicação por frequência de rádio tem levantado várias questões ligadas à segurança, a que se junta também o limite das frequências disponíveis.

"Os comprimentos de onda muito curtos conseguem transportar 10 mil vezes mais items de informação do que a frequência de rádio e não há limites quanto ao número de canais", congratula-se Jean-Pierre Wolf, professor de Física na Faculdade de Ciência da UNIGE, no comunicado sobre a descoberta.

Mais uma vantagem, nas palavras do especialista: "Os lasers também podem ser usados para atingir uma única pessoa, o que significa que é uma forma de comunicação altamente segura."

O laser criado pela equipa liderada por Wolf produz uma onda de choque que afasta as partículas de água suspensas que formam a nuvem. Foi, de resto, a descoberta deste tipo de lasers ultra-potentes que valeu o Prémio Nobel da Física de 2018 ao norte-americano Arthur Ashkin e a segunda metade em conjunto ao francês a Gérard Mourou e à canadiana Donna Strickland.

Guillaume Schimmel, outros dos investigadores envolvidos no projeto, resume o processo: "Só é preciso manter o raio laser na nuvem e enviar o laser que contêm a informação ao mesmo tempo."

A Universidade esclarece que esta espécie de "abre-caminho" a laser está a ser testado em nuvens artificiais com 50 centímetros de espessura, mas com 10 mil vezes mais água por centímetro cúbico do que uma nuvem natural. Até agora, demonstrou funcionar, mesmo com as nuvens a deslocarem-se e os cientistas preparam-se para testar o raio em nuvens mais densas, com até um quilómetro de espessura.

CLARA CARDOSO

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