Cientistas da Universidade de Barcelona descobriram que a pequena alma-negra (Bulweria bulwerii) consegue voar longas distâncias entre as ilhas Canárias e o arquipélago dos Açores, em busca de comida.
Em causa está uma monografia produzida a partir de estudos realizados entre 2010 e 2018 numa colónia de nidificação destas pequenas aves marinhas no ilhéu de Montaña Clara, nas ilhas Canárias.
Os investigadores analisaram os dados obtidos em 105 almas-negras seguidas através de aparelhos de geolocalização, informa um comunicado da Universidade de Barcelona. Desta forma, estudaram as rotas migratórias e os locais onde estas aves passam os meses mais frios do ano.
A maior parte da população mundial destas aves está no Oceano Pacífico. No Atlântico, reproduzem-se regularmente nas ilhas Canárias, Açores, Madeira e Cabo Verde. Passam a maior parte da vida em alto mar e só vêm a terra para se reproduzirem.
Alma-negra. Foto: Raül Ramos (UB-IRBio)
São consideradas Em Perigo tanto em Espanha como em Portugal, ameaçadas “pela predação de mamíferos introduzidos [nas ilhas] (gatos e ratos), perda dos habitats naturais devido às urbanizações costeiras e também pela poluição causada pela luz e poluição marinha.”
Os cientistas concluíram que na época de reprodução, entre Maio e Agosto, as almas-negras voam das Canárias para os Açores em busca de comida, percorrendo quase 2.000 quilómetros. “Viajam por cima das águas oceânicas – onde vivem as presas – e fazem viagens de ida e volta para a colónia.”
Macho e fêmea dividem-se por turnos para cuidarem do único ovo, em períodos que podem chegar aos 15 dias, o que permite ao outro membro do casal percorrer grandes distâncias à procura de alimento. Percorrem os dois o mesmo número de quilómetros.
De acordo com os investigadores, vão em busca de peixes, de pequenos cefalópodes e alguns crustáceos, que estas aves caçam normalmente durante a noite, quando as presas sobem à superfície para comer. Durante o dia, as almas-negras preferem repousar sobre as águas.
Já depois do período de incubação, que dura 45 dias, a pequena cria “tem de ser alimentada frequentemente e as rotas ficam reduzidas a metade da sua extensão habitual.”
A equipa concluiu ainda que na época de invernada, de Novembro a Fevereiro, as almas-negras analisadas migram sempre para os mesmos locais, no Atlântico Centro e no Atlântico Sul.
Estes trabalhos foram desenvolvidos no âmbito do programa Migra, promovido pela Sociedad Española de Ornitologia (SEO/Birdlife International).
Inês Sequeira
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