quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Desigualdade pode ser mais acentuada em Marte


Como seria a vida em Marte? Temos tendência a julgar que a vida no Planeta Vermelho seria mais risonha, mas em termos de desigualdades, Savannah Mandel garante que isso não é verdade.

A antropóloga espacial Savannah Mandel passou dez semanas no “aeroporto” norte-americano para naves espaciais comerciais, no deserto do Novo México, a fazer trabalho de campo para a sua dissertação. Durante essas semanas, Mandel cruzou-se com vários trabalhadores “dispostos a arriscar tudo” para participar em empreendimentos no Espaço.

O motivo? “Eles acreditam que as viagens espaciais garantem o futuro da humanidade”, explica Mandel, apesar de sustentar que os problemas da humanidade não desaparecem noutro planeta. Aliás, podem até piorar quando se trata de desigualdade, frisou, citada pelo OZY.

Com apenas 23 anos, Mandel é um dos membros mais jovens de um pequeno grupo de antropólogos ao redor do mundo, que centra todas as suas atenções em estudar de que forma os seres humanos se relacionam com o Espaço.

Valerie Olson, pioneira no campo e professora da Universidade da Califórnia, em Irvine, estima que existam menos de 100 antropólogos do Espaço na Terra. No entanto, a especialista sublinha que, devagarinho, o campo está a crescer.

A investigação de Mandel sobre o Spaceport America é inovadora: a jovem debruçou-se sobre a vida dos trabalhadores. Atualmente, trabalha como escritora científica do Instituto Americano de Física e é também uma escritora de ficção científica dedicada a completar um romance sobre um robô.

Este ano, o The Geek Anthropologist publicou um romance de Mandel sobre o primeiro antropólogo na Lua. Na história da autora, a reprodução lunar deve ser aprovada, havendo apenas um ponto, em toda a nave, apelidada de “O Condado”, onde um casal pode conceber.

Recentemente, a conferência sobre Espaço e Humanidade, realizada em Lexington, no Kentucky, juntou desde académicos a artistas, para refletir como os seres humanos serão afetados pelas mudanças espaciais, como reconhecer e evitar preconceitos, por exemplo.

Mandel falou sobre um artigo que escreveu, no ano passado, para o The Geek Anthropologist, descrevendo os perigos de um “Efeito Elísio“, segundo o qual a comercialização do Espaço – como mineração de asteróides – aprofunda as disparidades globais de riqueza, uma vez que a lei existente é obscura.

Num artigo deste ano, desta vez para o Anthropology News, Mandel ecoou o tema, alertando sobre o “imperialismo lunar“, segundo o qual os países ocidentais com mais recursos financeiros olham o para o Espaço com a mentalidade colonial forjada pela sua própria história.

A antropologia do Espaço recebe muito menos recursos académicos e governamentais do que outras disciplinas. Mandel quer continuar, mas não tem certeza se poderá construir uma carreira na academia por causa da sua paixão assumida por ficção científica.

Ainda assim, torna-se urgente trazer este tipo de temas para cima da mesa. As startups espaciais, e até a própria NASA, beneficiariam em poder contar com o contributo de antropólogos do Espaço, uma vez que apresentam narrativas e perspetivas diferentes, com foco na conservação como forma de proteger um novo mundo logo desde o início.

Mandel deseja que todo o seu trabalho inspire as pessoas sobre o que está por vir. “Adoro o Espaço, mas realmente quero que não deixemos a Terra no pó. Estamos a mover-nos muito rapidamente para um futuro interestelar”.

Fonte: ZAP

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