terça-feira, 26 de novembro de 2019

O busto de Nefertiti foi finalmente revelado em 3D (e está disponível online)


Após três anos de uma intensa batalha legal, o famoso Busto de Nefertiti está disponível ao público em 3D, graças ao especialista em digitalização e artista Cosmo Wenman.

A história do busto de Nefertiti começa em 1345 a.C., no Egito, e termina agora, num portal de partilha de design digital chamado Thingiverse.

No início deste mês, o artista e especialista em digitalização Cosmo Wenman anunciou que o Museu Neues, em Berlim, lhe enviou uma pen drive com digitalizações coloridas do famoso busto de Nefertiti, depois de uma batalha legal de três anos pelo lançamento dos dados. A 13 de novembro, Wenman disponibilizou, online e gratuitamente, essas mesmas digitalizações.

O artefacto foi descoberto em 1912 pelo arqueólogo alemão Ludwig Borchardt e, desde aí, traçou um caminho contencioso. De acordo com um relatório de 2012, de Ishaan Tharoor, da Time, as autoridades egípcias começaram a pedir à Alemanha o retorno do artefacto assim que perceberam a sua importância.

Embora o governo nazi de Adolf Hitler parecesse pronto para devolver o busto durante a década de 1930, o ditador mudou de ideias, declarando que “nunca abandonaria a cabeça da rainha”. A escultura passou a II Guerra Mundial numa mina de sal, mas foi recuperada pelos “Homens dos Monumentos” das forças aliadas, em 1945, e exibido novamente em Berlim.

O Egito não desistiu e continuou a solicitar o retorno do artefacto, ainda que com pouco sucesso. Em 2011, o Conselho Supremo de Antiguidades do país enviou uma petição à Fundação do Património Cultural da Prússia, que administra o museu onde se encontra o busto em exibição.

Na altura, em comunicado citado pela Reuters, o presidente Hermann Parzinger afirmou que a posição da fundação sobre o retorno de Nefertiti permanecia inalterada. “Ela é e continua a ser a embaixadora do Egito em Berlim.”

Mais recentemente, o foco deste debate, que dura há vários anos, mudou de rumo e centra-se agora na digitalização. São vários os museus que criam imagens tridimensionais dos seus artefactos, mas só alguns disponibilizam essas digitalizações ao público. O Museu Neues, em Berlim, decidiu manter a digitalização a cores do busto de Nefertiti trancada a sete chaves.

No entanto, em 2016, dois artistas revelaram o resultado de um suposto “assalto digital” que resultou numa réplica perfeita da obra. Nora al-Badri e Jan Nikolai Nelles colocaram um scanner Kinect modificado no museu e usaram-no para criar um modelo digital em 3D do busto.

Na prática, os dois artistas conseguiram captar clandestinamente um extenso conjunto de imagens da famosa obra de arte, esculpida há 3300 anos, e utilizaram-nas para criar uma réplica em três dimensões.

Para Wenman, a digitalização era de alta qualidade e demasiado semelhante a uma outra digitalização encomendada pelo museu.

“Na minha opinião, é altamente improvável que as duas digitalizações do busto correspondam tão intimamente”, escreveu Wenman, em 2016. “Parece ainda menos provável que uma digitalização de uma réplica seja tão parecida. Acredito que o modelo lançado pelos artistas foi, de facto, o resultado da própria digitalização do Museu Neues.”

As pessoas querem dados, defendeu Wenman. Assim sendo, “quando os museus se recusam a fornecê-los, o público fica no escuro e aberto a obter dados falsos ou incertos”, justificou, citado pelo Smithsonian.

Depois do “roubo”, Wenman lançou a sua própria campanha para adquirir as digitalizações do museu. Como o artista relata no blog Reason, quando enviou uma solicitação citando as leis alemãs de liberdade de informação que se aplicam a instituições financiadas pelo Estado, o museu encaminhou-a à Fundação do Património Cultural da Prússia.

De acordo com Wenman, a fundação alegou que “dar cópias dos dados da digitalização ameaçaria os seus interesses comerciais”. Por isso, ofereceu-se para deixar Wenman a visitar o consulado alemão em Los Angeles, nos Estados Unidos. Lá, o especialista teve permissão para ver as digitalizações sob supervisão.

A digitalização captura todos os detalhes que tornaram o busto tão icónico, incluindo o pescoço delicado de Nefertiti, a touca pintada, as maçãs do rosto altas e o delineador marcado e nítido.

Mas também inclui um detalhe extra: um aviso de direitos de autor da Creative Commons Attribution gravado digitalmente na parte inferior da escultura. A licença descreve três condições para o uso da digitalização – o modelo deve ser atribuído ao museu, não pode ser usado para fins comerciais e qualquer coisa feita a partir dele deve estar disponível para reutilização por terceiros.

A legalidade da reivindicação de direitos de autor do Museu Neues permanece incerta. Segundo Michael Weinberg, diretor executivo do Centro Engelberg de Leis e Políticas da Inovação da Escola de Direito da NYU, o aviso pode ter sido adicionado para desencorajar o uso generalizado da digitalização.

“Estas regras só importam se a instituição que as impõe possuir um direito autoral aplicável. Não há razão para pensar que uma digitalização de um objeto físico em domínio público esteja protegida por direitos autorais nos Estados Unidos”, rematou, citado pelo Slate.


Fonte: ZAP

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