quarta-feira, 29 de setembro de 2010

História da Aviação nos Açores


A história da aviação nos Açores inscreve-se na história da aviação em Portugal.
Encontrando-se o arquipélago dos Açores em posição estratégica no oceano Atlântico, entre a Europa e a América do Norte, assumiu papel fundamental desde o início da navegação aérea transatlântica.
A Primeira Guerra Mundial
Avião de carga da Força Aérea dos Estados Unidos estacionado na Base das Lajes.
No contexto da Primeira Guerra Mundial a cidade da Horta, no Faial, sofreu bombardeamento por parte do Império Alemão (Dezembro de 1916). No ano seguinte, a cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, foi bombardeada por um submarino alemão classe U-115 (4 de Julho de 1917).
Desse modo, já em 1918, tendo os Estados Unidos ingressado no conflito, Ponta Delgada passou a sediar um base naval da US Navy, guarnecida por navios, submarinos e hidroaviões Curtiss MF, com a missão de identificar e combater os submarinos da Marinha da Alemanha que incursionavam em águas do arquipélago. Ainda no contexto do conflito, e nos anos subsequentes, a Marinha Portuguesa projetou instalar na Horta um Centro Aero-Naval, que entretanto jamais chegou a se materializar. Do mesmo modo, em 1919, a Real Força Aérea britânica projetou adquirir uma ilha nos Açores, para instalação de uma base terrestre para prover apoio às operações aéreas no meio do Atlântico.

O período entre-Guerras

Nesse período uma verdadeira corrida pela travessia aérea do Atlântico teve lugar, graças ao incentivo de periódicos como o londrino "Daily Mail", que promoveu um concurso com um prémio de dez mil libras esterlinas ao aviador que conseguisse fazer o primeiro vôo sem escalas, em menos de 72 horas, entre os Estados Unidos, o Canadá, ou a Terra Nova e as Ilhas Britânicas.
Nesse contexto, três hidroaviões quadrimotor da Marinha dos Estados Unidos da América intentam a primeira travessia, de 16 para 17 de Maio de 1919. Apenas um deles, sob o comando de Albert Cushing Read, conseguiu completar o percurso, tendo feito escala na baía da Horta a 17 de Maio, e regressado por Ponta Delgada, onde fez escala a 20 de Maio. Ainda nesse ano, um hidroavião que viajava entre a Inglaterra e os Estados Unidos da América, fez escala na baía do Faial. A partir de então, as travessias oceânicas passaram a suceder-se com frequência cada vez maior, utilizando as ilhas dos Açores como escala, nomeadamente com ameragens na baía da Horta.
Com o advento do dirigível, o arquipélago foi sobrevoado em 1924, 1927 e 1930, pelos Zeppelin que faziam a ligação entre a Alemanha e os Estados Unidos.
Em Abril de 1926 partiu de Lisboa o vôo do hidroavião Fokker, batizado como "Infante de Sagres", pilotado pelo tenentes da Marinha Portuguesa, Moreira de Campos e Neves Ferreira, às ilhas da Madeira e dos Açores.,[1] tendo chegado a Ponta Delgada em 9 de Maio.
No ano seguinte (1927), o marquês Francesco De Pinedo, coronel da Força Aérea Italiana, foi forçado a amarar a cerca de 200 km da ilha das Flores, após ter partido da Terra Nova. O hidroavião Savoia-Marchetti S.55, batizado como "Santa Maria II", foi rebocado para a Horta, onde sofreu reparações.[2] No mesmo ano, em Novembro, um hidroavião Junkers D 1230 e um Heinkel D 1220 fizeram escala também na Horta, onde encontraram a pioneira da aviação estadunidense Ruth Elder, que tentava imitar o feito de Charles Lindbergh pilotando um pequeno monoplano acompanhada pelo piloto, capitão George Haldeman, que fora forçada a amarar na costa norte da ilha Terceira devido a problemas mecânicos, tendo a aeronave se incendiado.[3]
Em 1928 escalam na Horta o piloto inglês F. T. Courtney, pilotando um Dornier Wal G-CAGI[4] (Junho) e o tenente da Marinha da França De Paris, num pequeno hidroavião, o "La Frégate" (Julho).
Na ilha Graciosa registou-se um acidente fatal quando, ao anoitecer de 13 de Julho de 1929 um biplano Amiot 123 capotou durante uma aterragem de emergência, tentada nuns campos próximos do lugar da Brasileira. A aeronave, tripulada pelos aviadores polacos Ludwik Idzikowski e Kazimierz Kubala, tinha descolado na madrugada daquele dia do campo de Le Bourget, nos arredores de Paris, com destino a Nova Iorque, na segunda tentativa polaca de fazer o primeiro vôo transatlântico de leste para oeste. O major Idzikowski faleceu no acidente e o co-piloto, Kazimierz Kubala, sofreu ferimentos ligeiros. A aeronave foi consumida pelas chamas durante a operação de resgate quando alguém aproximou um archote dos destroços. Atualmente um cruzeiro marca o lugar do acidente.
Ainda em 1929, as forças armadas portuguesas apoiam a construção do Campo de Aviação da Achada, na Terceira, com uma pista de 600 metros de extensão por 70 metros de largura, e de onde, a 4 de Outubro de 1930, descola o primeiro avião, o biplano monomotor Avro "Açor", pilotado pelo Capitão Frederico Coelho de Melo.[5]
Entre 1930 e 1933, a companhia de aviação estadunidense Pan American realiza testes na baía da Horta para a operação de uma rota comercial transatlântica. Nesse contexto, Charles Lindbergh acompanhado por sua esposa, Anne Morrow, a serviço da Pan American, aí amarou a 21 de Novembro de 1933, com o seu monoplano "Spirit of St. Louis". A partir de então, até à década de 1940, diversas companhias aéreas passaram a utilizar as àguas das ilha, nomeadamente o canal entre as ilhas do Pico e do Faial, como ponto de apoio para as suas rotas entre a Europa e a América do Norte.
Em Abril de 1931, no contexto da Revolta dos Açores, a baía da Horta foi a base de três pequenos hidroaviões da Marinha Portuguesa, que se deslocaram à Terceira com a missão de sobrevoar Angra do Heroísmo e o Monte Brasil, lançando panfletos convidando os militares sublevados a render-se.

A Segunda Guerra Mundial

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Marinha Portuguesa instalou um Centro Aero-Naval em Ponta Delgada. Ao mesmo tempo, foi implantado o Aérodromo Militar de Santana, o primeiro aeroporto na ilha de São Miguel, no lugar de Santana, em Rabo de Peixe, no Concelho da Ribeira Grande. No lado Norte da ilha, operou como aeroporto militar, de 1939 a 1945, quando constituiu a Base Aérea nº 4.
Na Primavera de 1941, quando era iminente um avanço das tropas alemãs sobre a península Ibérica, Oliveira Salazar ponderou a retirada do governo português para os Açores, com o apoio da Grã-Bretanha. Foi nesse contexto que se constituiu o grupo de trabalho luso-britânico com a incumbência de estudar e projetar a construção de bases aéreas no arquipélago.
Ao mesmo tempo, partiu de Lisboa no vapor "Mirandela" (4 de Junho de 1941) uma carga de 30 biplanos Gloster SS.37 (Gloster Gladiator), 5 monoplanos de transporte Junkers Ju 52, material de apoio e pessoal em direção aos Açores. Em São Miguel foram desembarcados 15 Gloster e os 5 JU 52, constituindo-se a Esquadrilha de Caça Expedionária nº 1 na BA-4; as demais aeronaves seguiram para a Terceira, onde constituíram a Esquadrilha de Caça Expedionária nº 2 da Força Aérea Portuguesa. Ainda nesse ano, a Grã-Bretanha enviou para São Miguel 12 caças Curtiss P-36 Mohawk, que passaram a constituir a Esquadrilha de Caça Expedicionária nº 3.
O ataque a Pearl Harbor, no oceano Pacífico, por parte de forças do Japão (Dezembro de 1941), levou a rever as diretrizes portuguesas em estudo com os britânicos, paralizando temporáriamente as atividades do grupo. Em 1942, Humberto Delgado foi nomeado representante do Ar para as negociações com a Grã-Bretanha para a cedência de bases nos Açores. Por sua eficiência nessa comissão, o governo britânico, mais tarde, veio a condecorá-lo com a Ordem do Império Britânico, salientando que Delgado arriscara a sua carreira e o seu futuro pela causa dos Aliados e da liberdade.[6]
Os meses de Maio e Agosto de 1943 constituíram-se em momentos de intensas negociações, que culminaram com o início da construção da base aérea britânica nas Lajes, na ilha Terceira. Aqui, com relação ao Campo da Achada, essa pista tinha a sua operação prejudicada pelo nevoeiro que a encobre durante parte do ano, e a solução encontrada foi deslocar as operações para a planície das Lajes, construindo-se uma nova pista. Após extensas negociações, em acordo firmado entre Portugal e a Grã-Bretanha (1 de Agosto de 1943), o primeiro concedeu à segunda facilidades na Base Aérea nº 4 e na das Lajes, visando utilizá-las como bases para a luta anti-submarina no Atlântico Norte, recebendo em troca a cessão de seis esquadrilhas de caças Hawker Hurricane.
Desse modo, em 8 de Outubro de 1943 desembarcou no porto de Pipas, em Angra do Heroísmo, um contingente de três mil militares ingleses, rumando para as Lajes, onde iniciaram imediatamente os trabalhos de terraplenagem da pista de aviação, no lugar de Terra Chã. Antes do fim desse ano, o Grupo de Esquadrilhas nº 247 da Royal Air Force Coastal Command, afundou o primeiro submarino alemão na região.
No início de 1944 foi a vez do desembarque de tropas estadunidenses, em Angra e em Praia da Vitória, um efetivo de 1400 homens transportando 1700 toneladas de equipamento para nova ampliação e reforço da pista das Lajes.
O passo seguinte dos Estados Unidos foi a construção da base na ilha de Santa Maria. Esta foi feita sob a orientação da Pan American, uma vez que o Estado Português, sem querer despertar a ira da Alemanha Nazi, apenas acatou o projeto a pretexto de tratar-se de uma instalação civil. O aeroporto em Santa Maria foi inaugurado a 28 de Novembro de 1946.

O pós-Segunda Guerra e a constituição da SATA

Findo o conflito, em 1946, o aeródromo de Santana foi convertido em aeroporto civil, com duas pistas relvadas, uma com 1500 metros de extensão e outra com 100 metros,[7] fazendo ligação com o Aeroporto Internacional de Santa Maria e com o Aeroporto das Lajes, na Terceira. Foi desativado com a inauguração do Aeroporto de Nordela em Ponta Delgada, tendo operado até 10 de Agosto de 1969.
SATA
Desde a década de 1940 a Transportes Aéreos Portugueses operava vôos regulares para os Açores. Entretanto, a operação regular civil dos aeroportos construídos no arquipélago durante a Segunda Guerra - na Terceira, em São Miguel e em Santa Maria -, iniciou-se a partir da entrada em operação da Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos (SATA).
Ainda à época da Segunda Guerra, um grupo de cinco açorianos notáveis (entre os quais Augusto Rebelo Arruda) fundou a Sociedade Açoriana de Estudos Aéreos, Limitada (21 de Agosto de 1941) , com o objetivo de obter a autorização do Estado português para a exploração das ligações aéreas entre as ilhas do arquipélago e entre estas e Lisboa.
Seis anos mais tarde, alcançado o objetivo proposto, a razão social da empresa foi alterada para Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos, Limitada. Nesse mesmo ano ( 1947), a 15 de Junho, a empresa inaugurou os voos com o Beechcraft (CS-TAA) – batizado como "Açor". A aeronave transportava 2 tripulantes e 7 passageiros, e fazia as ligações entre as ilhas de São Miguel (pela pista de Santana até 1969, e de Nordela a partir de então), de Santa Maria e da Terceira.
No ano seguinte a SATA recebeu duas aeronaves de Havilland DH.104 Dove (23 de Maio de 1948), com capacidade para 9 passageiros e 700 kilos de carga cada uma, que iniciaram operações a 1 de Agosto do mesmo ano. Ainda nesse mês de agosto, pelas dez horas do dia 5, o "Açor" registou dificuldades após a descolagem de São Miguel para Santa Maria, vindo a despenhar-se no mar. Os dois tripulantes e os quatro passageiros pereceram, e a carga foi perdida no trágico acidente.

Da década de 1960 aos nossos dias

Em 21 de Agosto de 1963, a frota da SATA foi aumentada pela aquisição de uma aeronave Douglas DC-3, com capacidade para 26 passageiros.
No final da década de 1960 foram construídos novos aeroportos no arquipélago: desse modo, foram inaugurados e abertos ao tráfego aéreo civil:
1969 - o Aeroporto de Nordela (hoje Aeroporto João Paulo II), próximo a Ponta Delgada, na ilha de São Miguel;
Desde a sua inauguração o Aeroporto de Nordela passou a servir como Base Operacional da SATA e, dois anos depois, em 1971, a TAP Portugal passou a realizar voos regulares entre Lisboa e Ponta Delgada. Em 1972, a SATA adquire as aeronaves Avro HS 748 (com capacidade para 48 passageiros), que operava desde 1969. Após a Revolução dos Cravos (1974), em 1976, a Força Aérea Portuguesa cedeu à SATA duas aeronaves Douglas DC-6, tendo ainda sido proposta a regionalização da empresa à Assembleia da República.
Entretanto, a regionalização só seria alcançada a 17 de Outubro de 1980, quando foi adquirida ao Grupo Bensaúde, passando 50% das acções pertencer ao Governo Regional dos Açores, e o restante à TAP Air Portugal, EP. Passou assim a constituir-se como empresa pública sob tutela do Governo Regional, sob a razão social de Serviço Açoriano de Transportes Aéreos, Empresa Pública, mas mantendo a sigla SATA. Nesse mesmo ano, a empresa aderiu à Associação Europeia de Companhias Aéreas Regionais (ERA) e à Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA).
Paralelamente, no início da década de 1980, de 1981 a 1983, foram construídos e inaugurados, pelo Governo Regional, aeroportos nas demais ilhas do arquipélago, que passavam a ser servidos pela SATA:
o Aeroporto da Horta (Faial);
Por sugestão do Dr. Mota Amaral, então Presidente do Governo Regional dos Açores, em 1986 a empresa aérea regional passou a designar-se SATA Air Açores. Desde o ano anterior (1985) a Azores Express, empresa do Grupo SATA, efectuava voos "charter" entre o arquipélago e os Estados Unidos da América. Outra empresa do grupo, a SATA Express, passa a efectuar voos charter entre os Açores e o Canadá.
O final da década, é marcado pela mudança na programação visual e na comunicação social da empresa regional: em 1988, a SATA altera as suas cores e passa editar a revista de bordo bilíngue Paralelo 38, actualmente Espírito Açoriano/Azorean Spirit. Além disso, entre 1989 e 1990, os Avro foram substituidos pelos ATP da British Aerospace. A primeira dessas aeronaves, batizada como "Santa Maria" entrou ao serviço em 1989; a segunda, como "Flores", em 1990; e a terceira, como "Graciosa", em 1991. Ainda em 1991, iniciam-se as ligações civis para a ilha do Corvo, com um Dornier 228-212 da SATA a substituir um Aviocar C-212 da FAP.

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