quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Aconteceu há 69 anos: Submarino alemão afundado ao largo da costa Sul do Pico

02 Fevereiro 2011 [Regional]

Fonte da Foto: Forum WW2TALK
Há um submarino alemão ‘U 581’ afundado a Sul da ilha do Pico (posição estimada 39.00N/30.00W), ao largo do Guindaste, depois de ter sido alvo de um violento ataque de navios de guerra destroyers ingleses que escoltavam o navio transporte de tropas ‘Llangibby Castle’. Atingido por bombas de profundidade, o ‘U 581’ vem à superfície e seria afundado no local. Aconteceu, precisamente, há 69 anos. Os pormenores são descritos num trabalho de investigação do jornalista Gustavo Moura.
Completam-se hoje sessenta e nove anos que ocorreu um combate a Sul do Pico, por fora do lugar do Guindaste, entre destroyers ingleses que escoltavam o transporte de tropas “Llangibby Castle” e o submarino alemão “U 581”, comandado pelo capitão-de-fragata Werner Pfeifer e que terminou com o afundamento do submarino. Estávamos em 1942, no auge da Batalha do Atlântico, da Segunda Guerra Mundial.
O episódio começa muito antes, a 16 de Janeiro, quando o “Llangibby Castle” é torpedeado pelo submarino alemão “U – 402”, sob o comando do capitão-de-fragata Siegfried Forstner. O episódio ocorreu a nordeste dos Açores, numa posição 46º04’ e 19º 06’ e o transporte seguia integrado no comboio WS – 15 transportando 1.500 militares ingleses para Singapura, via África do Sul. O torpedo atingiu a popa do “Llangibby Castle” inutilizando os lemes, provocando várias destruições e matando 25 militares. Mas o comandante, capitão da marinha mercante Bayer, conseguiu manobrar o navio utilizando os hélices e seguiu rumo à Horta para reparações. No caminho para o Faial o “Llangibby Castle” foi de novo atacado, desta vez por um bombardeiro alemão “Condor”, e sofre novas avarias e dois feridos graves, um deles o contra-mestre George Readen e a destruição de duas baleeiras salva-vidas.
Reparações e funerais na Horta
Finalmente a 19 de Janeiro o “Llangibby Castle” chegou à Horta. Dos escombros da popa foram retirados três cadáveres que foram lançados ao mar em caixões de chumbo hermeticamente fechado, fora do limite de três milhas das águas territoriais, de bordo de um cargueiro inglês, o Silivri” que ocasionalmente estava na Horta a reabastecer de carvão.
A cerimónia teve a participação das autoridades portuguesas, representadas pelo Patrão-Mor da Capitania da Horta, Gabriel Gonçalves, o Piloto-Mor do porto da Horta Herculano da Silveira e o Piloto João Faria.


Fonte: Google Maps

O contra-mestre George Readen ficou internado no “Hospital Walter Bensaúde” para tratamento.
Feitas as reparações, utilizando cimento e madeira para tapar os rombos, o Llangibby Castle” largou do Faial escoltado por três destroyers ingleses e o rebocador de alto mar “Thames”, da mesma nacionalidade.
Possivelmente avisados por agentes alemães, nessa época havia nos Açores informadores de ambos os lados dos beligerantes, recordemos que a Horta era no tempo uma base de apoio utilizada pelos Aliados para reabastecimento de carvão, frescos e reparações muito movimentada, o submarino “U 581” aguardava a Sul do Pico a passagem dos navios.
Uma versão diferente, que não possível confirmar, é a de que o submarino estaria a repousar sobre o fundo de areia do local. A este propósito, recorde-se que desde o tempo da Segunda Guerra Mundial, correm rumores de que esta prática era comum, nos fundos arenosos das ilhas, nomeadamente as costas Sul de São Miguel e do Pico e que frequentemente eram aproveitadas para os submarinos adquirirem mantimentos frescos a comerciantes e pescadores locais, citando-se mesmo alguns nomes. Mas estas informações nunca puderam ser confirmada, apesar das muitas diligências feitas pelo autor, tanto junto de fontes da marinha portuguesa, como nos arquivos e museus da marinha de guerra alemã.
Aviso de espiões ou encontro ocasional?
No seu livro “ Judeus em Portugal na II Guerra Mundial”, a historiadora Irene Flunser Pimentel conta que um filho de um inspector da PVDE, antecessora da PIDE, Paulo Cumano, “acusado de ter trabalhado para os serviços alemães … o que causava aos ingleses grande preocupação, por pertencer a um organismo sensível com funções de prevenção de fugas de informação sobre operações britânicas nos Açores, e de o seu filho estar estacionado, precisamente, numa dessas ilhas Atlânticas, onde havia uma base Aliada.”
No mesmo livro, Irene Flusner Pimentel conta que uma organização de espiões alemães, denominada “organização de Bremen” tinha agentes em Lisboa, na Madeira e nos (Horta) e em Angola (Luanda e Lobito) e que era dirigida por Hans Friederick Grimm e Hans Schols. Segundo a mesma historiadora, a PVD prendeu uns e expulsou outros, entre os quais Willy Duhr, que vivia na Horta e foi expulso de Portugal.
Ainda a este propósito, recordo que um meu tio paterno, Jorge Palhinha Moura, que muito mais tarde foi Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada e durante cerca de trinta ano, que incluíram todo o período da Segunda Guerra Mundial, foi telegrafista do paquete “Lima” da já desaparecida “Empresa Insulana de Navegação” que fazia as ligações mensais Lisboa-Madeira-Açores, contar que um dia navegando entre Santa Maria e o Funchal foram mandados parar por um submarino inglês que enviou a bordo uma escolta armada. Observando a cena estava um passageiro, jovem alemão que embarcara no Faial e que ao reconhecer ser um submarino inglês, despediu-se das pessoas com quem conversava e desceu ao camarote regressando com uma pequena mala e uma pasta com dois pesados bocados de chumbo. Atirou a pasta borda fora e esperou calmamente que os militares ingleses exigem ao comandante do navio, capitão da Marinha Mercante João Cândido da Silva a sua entrega, que fez sem qualquer resistência ou comentário.
Casos de espionagem nos Açores, são igualmente referido pelo historiador José António Barreiros, no seu livro “Espionagem alemã em Portugal 17 de Abril de 1942 a 27 de Abril de 1945”. Também o Dr. Álvaro Monjardino, numa conferência proferida na década de setenta do século passado, a propósito de episódios ocorridos nos Açores durante a “II Guerra Mundial”, refere, e citamos de cor, a localização na ilha Terceira de um aparelho de transmissões telegráficas rudimentar, sintonizado para uma estação alemã, mas cujo utilizador nunca foi identificado.
Ataque frustrado e submarino afundado
De uma forma ou outra, o certo é que o “U 581” foi detectado pelos navios ingleses que o atacaram com bombas de profundidade. Gravemente avariado, o “U 581” veio à superfície e é afundado pelo destroyer inglês “HMS Westcott”, com a morte de 4 tripulantes. Trinta e sete são feitos prisioneiros, transportados para Inglaterra e internados num campo de concentração do qual somente são libertados em 1947. O comandante do “U 581”, capitão-de-fragata Werner Pfeifer, foi um dos sobreviventes, falecendo a 31 de Maio de 1993, com 81 anos, pois nascera a 2 de Maio de 1912 na cidade de Dresden.
Um dos oficiais alemães, o tenente Walter Sitek, consegue escapar nadando cerca de seis quilómetros até terra sendo recolhido no lugar do Guindaste por João Francisco da Rosa Júnior e Manuel dos Santos que mais tarde foram por isso agraciados pelo Instituto de Socorros a Náufragos com a Medalha de Cobre por, segundo o despacho oficial, “no dia 2 de Fevereiro de 1942, no local do Guindaste, freguesia da Candelária (ilha do Pico) haver concorrido para o salvamento de um oficial alemão naufrago de um submarino alemão.”
O tenente Walter Sitek conseguiu regressar à Alemanha, através de Espanha, e voltou ao mar, comandando três submarinos, os “U-17”, “U-981” e o “U-3005”, sobrevivendo à “II Guerra Mundial”.
Conta-se no Pico que ao chegar a terra o oficial alemão olhou o relógio de pulso e disse ter nadado determinadas horas, o que causou espanto nos que o acolheram, pois desconheciam haver relógios de pulso à prova de água. Será verdade? Pelo menos na nossa infância era tema de muita conversa no Pico e em São Jorge.
O “U 581” foi construído pela empresa alemã “Blohm & Voss”, de Hamburgo, ainda hoje um dos mais importantes construtores mundiais de submarinos. Foi a construção 557, lançado à água em Junho de 1941 e entrando ao serviço em Julho seguinte. Depois de um período de treinos de mar, largou para a primeira, e última, patrulha a 1 de Dezembro de 1941 para se perder junto ao Pico a 2 de Fevereiro de 1942.
Os destroços do “U 581” restam no fundo do mar, numa posição estimada 39.00N/30.00W e, que se saiba, nunca mereceram a atenção de investigadores de naufrágios.

Fontes consultadas:- Sites da Internet “U Boats” e “Germany Navy History”; “Maresias”, de Goulart Quaresma; Ermelindo Ávila, várias crónicas no jornal “O Dever”; Álvaro Monjardino, conferência proferida na década de sessenta do século passado; Irene Flunser Pimentel, livro “Os Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial”.

Autor: Gustavo Moura


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