Oficiais avisam que "nada os obriga a serem submissos"
A Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) avisa o Governo de que "nada os obriga a serem submissos, acomodados, ignorantes e apolíticos". "Pelos vistos daria jeito ao poder político que assim fosse", afirma a mesma entidade, numa carta aberta enviada ao ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, que é criticado no mesmo documento revelado nesta quarta-feira pelo jornal Diário de Notícias
De acordo com o mesmo jornal, a missiva é uma resposta a recentes declarações de Aguiar Branco sobre as Forças Armadas e que terão caído mal entre os militares. "As Forças Armadas são insustentáveis, senhor ministro? Não são! Estão!", argumenta a AOFA, que contesta também os cortes orçamentais e a equiparação dos militares aos funcionários públicos. Outras queixas têm a ver directamente com a carreira, como o congelamento das promoções. O ministro da Defesa estará nesta quarta-feira na cerimónia militar comemorativa dos 50 anos do navio-escola Sagres, pelas 10h45, no cais de Alcântara em Lisboa.
O responsável por esta pasta no Governo é acusado pela AOFA de cometer "uma insanável contradição": reconhece "existirem razões de descontentamento" nas fileiras, mas recusa receber as associações o que é "ignorar [o] quadro legal", escreve o Diário de Notícias.
Recentemente, Aguiar-Branco afirmou que os militares que "não sentem vocação, estão no sítio errado. Se não sentem, antes de protestar precisam de mudar de carreira. Sem drama, sme ressentimento". Para a AOFA, o direito ao protesto, à denúncia, existe e não pode ser confundido com fazer política. "Denunciar perante a opinião pública as medidas lesivas e (...) carregadas de falta de respeito pela dignidade de quem jurou e serve abnegadamente (sem se servir) a pátria é fazer política?", interroga a AOFA. "Será portanto política alertar para (...) a penalização dos militares e das Forças Armadas, dando a conhecer, a título de exemplo, a forma como (...) os militares vêem o modo como tem vindo a ser tratado o dossier BPN, obrigando uma significativa parcela do orçamento a ser desviada para dar cobertura, tudo leva a crer, às consequências de criminosos desmandos?"
Não consideramos política e, muito menos, política partidária, tal postura. Trata-se, isso sim, do uso de um direito que a própria cidadania impõe", escreve o DN, atribuindo estas declarações ao líder da AOFA, coronel Manuel Cracel.
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