Milhares de vítimas inocentes por um só ditador
Há nove anos as tropas dos EUA e da Grã Bretanha “levaram” nas suas baionetas a democracia para o Iraque. Precisamente neste dia os tanques das forças da coalizão entraram em Bagdá e ajudaram a multidão jubilosa e derrubar o monumento de Saddam Hussein.
O derrubamento de Saddam Hussein foi um dos objetivos dos exércitos da coligação que tinham invadido o país sem o respectivo mandado da ONU, alegando a busca de armas de extermínio em massa. Estas armas jamais foram encontradas, mas os americanos conseguiram prender o ditador. O tribunal, pressionado por militares estrangeiros, reconheceu Saddam Hussein culpado pelo massacre de 148 habitantes de uma aldeia xiita, onde tinha sido cometido um atentado contra ele. Hussein foi enforcado.
No entanto, o presidente do Instituto do Próximo Oriente Evgueni Satanovski está convencido de que a “democracia trazida nas pontas das baionetas” afetou dolorosamente todas as famílias iraquianas.
“De acordo com os dados oficiais, o número de vítimas chega a centenas de milhares, mas de acordo com os cálculos não oficiais de defensores de direitos nacionais, este número já ultrapassou um milhão. O número de refugiados e de deslocados é igual a cinco milhões e meio. Quase dois milhões deles vivem na Síria, cerca de um milhão, na Jordânia. Eles não obtiveram da ONU o status de refugiados e são absolutamente indefesos”.
As tropas dos EUA e da Grã Bretanha admitiram também a eliminação pratica da comunidade cristã no Iraque. Note-se que na época de Saddam Hussein várias pessoas chegadas ao ditador eram cristãos.
Os xiitas professam o separatismo radical e são apoiados nisso por Teerã, inimigo intransigente de Washington. Quanto a regiões sunitas, estão foram assoladas não somente por americanos, mas também pela polícia e exército do Iraque. Os curdos, - outrora uma minoria nacional oprimida, - criaram no norte do país um enclave que praticamente não depende do centro e expulsam dali os árabes. Os americanos lesaram Saddam Hussein mais lesaram ainda mais dolorosamente os iraquianos, - afirma o vice-diretor do Instituto de análise política e militar Aleksandr Khromchikhin.
“No Iraque por enquanto não há guerra civil mas ela pode eclodir a qualquer momento. O país avança, antes, por força de inércia. Quanto ao Curdistão, este já é um território independente “de facto”. A tensão entre os sunitas e os xiitas é muito grande”.
Certamente, a substituição forçada do regime no Iraque foi a precursora da chamada “primavera árabe” no Norte da África e no Próximo Oriente. Em toda parte ela começava como um movimento pelo derrubamento dos ditadores. Ben Ali foi derrubado e fugiu na Tunísia. Hosni Mubarak, preso ao seu leito, é processado no Egito. O presidente do Iêmen Ali Abdallah Saleh foi afastado do poder. Na Líbia foi linchado Muammar Kadhafi. Todavia, os resultados geopolíticos do derrubamento destes governantes, que estiveram no cume do poder várias décadas, são funestas. Eis a opinião de Serguei Demidenko, perito do Instituto de estimativas e análises estratégicas.
“A derrocada de todos estes regimes odiosos não contribuiu absolutamente para consolidar a estabilidade e a democracia no Próximo Oriente e no Norte da África. É um fato evidente. O seu resultado mais importante é o reforço imenso do fator islamita na região. Se o poder ficar nas mãos de islamitas radicais, a situação será má a não poder mais. O poder nas mãos de islamitas moderados também não promete nada de bom. A região degrada rumo ao caos e à instabilidade”.
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