segunda-feira, 11 de março de 2013

“Papa que se meta com o Banco do Vaticano não se aguenta”

Luís Miguel Rocha em entrevista ao i.
” tem novo livro. O thriller “A Filha do Papa” chega hoje às livrarias
Um Papa, Pio XII, que se apaixona e mantém uma relação com uma madre, Pasqualina. Dessa relação nasce uma filha que é escondida de todos, até do pai. Depois junta-se um banco de investimento do Vaticano com tentáculos em organizações duvidosas, um jovem padre raptado e um agente da Santa Sé que tenta salvar a filha do Papa. Está apresentada a receita para o novo thriller de Luís Miguel Rocha “A Filha do Papa”. Com 37 anos, o ex-operador de câmara das missas da TVI, lançou o primeiro livro em 2005 “Um País Encantado”. Nessa altura ainda não tinha descoberto os thrillers sobre o Vaticano, sabia apenas que a sua “escrita causava efeito”. Seguiu-se “O Último Papa” que vendeu meio milhão de exemplares. Tornou-se no primeiro e único português bestseller do “New York Times” mas diz que isso não abona muito a favor dos americanos. “Quer dizer, temos o Saramago, Nobel, quando ele não consegue, pensas-se que não consegue ninguém.” O sexto livro chega depois da renúncia do Papa Bento XVI e nas vésperas do início do conclave. Temas para conversar com Luís Miguel Rocha não faltam. E quase duas horas com o i são prova disso.
Foi pontaria ter o novo livro sobre o Vaticano a sair numa altura como esta ou sabia que isto podia acontecer?
Entre os vaticanistas falava-se. Vamos lá ver, não é que Bento XVI não tivesse dado sinais. Já em 2010 tinha falado ao seu biógrafo, Peter Seewald, que renunciar não era vergonha. Mas o mais interessante é que quando foi a Aquila, em Agosto de 2010, colocou a sua estola no sepulcro do último Papa que renunciou voluntariamente, Celestino V. As informações que eu tinha – e tenho a sorte de ter algumas informações privilegiadas no Vaticano – indicavam que algo ia acontecer. Até me lembro de um almoço de Natal que tive aqui em Lisboa com polícias e lhes disse: “Preparem-se para um conclave no início do ano”. Mas pensava que ele ia morrer, nunca me passou pela cabeça uma renuncia. Não havia precedente. Por acaso, o meu livro era para sair em Novembro, mas adiei.
Porquê?
Muitos leitores estão agora a pensar: “Foi por isto que adiou”, mas não. Novembro é uma altura de Natal, quando saem muitos autores conhecidos, não é o meu campeonato.
As razões para a renuncia levantam muita especulação, fala-se do Vatileaks, dos escândalos homossexuais...
A homossexualidade existe no Vaticano, desde que o Vaticano existe. O Papa renúnciar porque descobre isso, não me parece. A opinião de quase todos os vaticanistas é que a renuncia se deve a uma razão simples: Bento XVI era fraco politicamente. Quando se é Papa há duas funções bem delineadas, a parte religiosa e a política. Enquanto João Paulo II era muito bom na política, era fraco teologicamente, só que para colmatar essa falha tinha junto dele Ratzinger, futuro Bento XVI, o melhor teólogo da actualidade. Já Bento XVI não conseguiu assessorar-se de pessoas que percebessem de política. Mas o maior problema foi meter-se com o Banco do Vaticano. Papa que se meta com Banco do Vaticano não se aguenta.
Não?
João Paulo I morreu, João Paulo II levou um tiro na Praça de São Pedro e depois  disso mudou a sua política sobre o Banco do Vaticano e torna o Instituto para as Obras de Religião (IOR) num paraíso fiscal ainda maior. Bento XVI queria transparência total para o Banco do Vaticano e como é que faz isso? Criando um organismo chamado AIF – Autoridade de Informação Financeira –, que é uma espécie de departamento que inspecciona a parte financeira do Vaticano._Além disso, pede à UE que faça uma auditoria.
Como é que isso correu?
Bem, temos de perceber que o Banco do Vaticano, o IOR, vive de investimentos. E temos os que, como Bento XVI defendem transparência do sistema financeiro, ou seja, que cumpra os requisitos internacionais e não sirva para branqueamento de capitais nem para albergue de dinheiros de corrupção, de partidos italianos, da máfia, e nem sirva para financiamento ilegal de organizações terroristas. Do outro lado temos Tarcisio Bertone e Angelo Sodano, que são obscurantistas, e querem que o sistema financeiro continue a ser um paraíso fiscal. E quem ganhou? Estes últimos, porque não se conseguiu fazer auditoria. Toco nesses temas no meu livro e aliás, a ideia para o Banco do Vaticano foi de uma senhora chamada Pasqualina.
Qual era o objectivo desse banco?
O IOR foi criado em 1942 para guardar os donativos para crianças com doenças, órfãos, etc. O nome é Instituto para as Obras de Religião, depois transformou-se numa banco de investimento. Como é que uma ideia fabulosa, da mulher mais poderosa da igreja de sempre, se transformou nisto? Repare ela foi a primeira e única mulher a ter presenciado um conclave.
Como é que conseguiu entrar?
Até Paulo VI os cardeais podiam levar um serviçal, e o futuro Pio XII resolveu levar a Pasqualina.
Como é que a aceitaram?
O conclave aconteceu em 1939, e ela estava no Vaticano desde 1930, estava na Secretaria de Estado porque o Eugenio Pacelli era cardeal Secretário de Estado e ela era a sua assessora. Embora tenha causado escândalo, estava no seu direito. São histórias magnificas. Este livro é sobre isso: como é que uma religião que fala muito do “amai-vos uns aos outros” e não deixa que se amem dentro dos seus muros?
Acha que algum dia vai mudar?
Gostava muito, mas não estou a ver.
Acaba por ser uma hipocrisia porque rompem o voto, como Pio XII?
Usam uma técnica do:_“Façam o que quiserem, tentem é que não se saiba”. Mas quando se sabe é triste. Associamos o celibato à castidade, ou seja, que só devem ser casados com Deus mas até ao Concílio de Trento, os padres podiam casar se o Papa autorizasse. Em 1500 e qualquer coisa, é que isso é alterado e deixam de poder casar. Porquê? Muito simples: quando os padres casavam para quem ia a herança?
Para os filhos.
Se não casam, fica na Igreja e o património aumenta sempre. Ainda hoje se um padre morrer vai outro para casa dele. O património é sempre da Igreja. Não é uma questão de castidade, é uma decisão pragmática de impedir que o património seja delapidado.
No fundo, a Igreja trata-se é de uma instituição financeira?
Seguramente. A Igreja Católica tem duas estruturas fundamentais: a religiosa e a política. Quando falamos de Vaticano estamos a falar da parte política, nunca da religiosa. Ao pensarmos num Papa, bispo e cardeal imaginamos padres e missas, quando na realidade devíamos estar a pensar em ministros, políticos e chefes de estado. 95% das suas funções é tomar decisões políticas e de gestão.
E tal como nos partidos há negociações de bastidores, polémicas. Na semana passada um grupo de cardeais exigiu conhecer as conclusões da investigação encomendada por Bento XVI à fuga de informação do Vatileaks. O que acha dessa situação?
Saíram mais informações, sabemos agora que o secretário de estado Bertone, através da Gendarmaria do Vaticano, a polícia de segurança pública e investigação forense, mandou escutar e investigar os cardeais eleitores no último ano. Ou seja, pensamos assim: será porque há uma toupeira ou porque queria ganhar alguma influência sobre os cardeais? Dá azo a estas questões. Sabemos que o grande responsável pela resignação de Bento XVI chama-se Tarciso Bertone.
Porquê?
É o mais odiado do colégio cardinalício, os cardeais não gostaram nada das suas políticas enquanto Secretário de Estado, e Bento XVI podia ter trocado de homem. Bertone é uma raposa matreira e soube munir-se das pessoas certas. Juntos são uma das facções mais importantes, os bertonianos, mas há dez neste conclave. Nenhuma tem dois terços.
Como vão chegar a um consenso?
Gabo a inteligência de Ratzinger. A lei do conclave de João Paulo II dizia que o Papa tinha de ser eleito por uma maioria de dois terços, no entanto, se após 34 votações não tivessem maioria, podia ser maioria simples: 50% + 1. O que é que faz Bento XVI? Altera e obriga a que seja necessário dois terços para eleger um Papa. Nenhuma destas facções tem dois terços, vai ter de haver cedências. Temos quatro candidatos fortes, o brasileiro, Odilo Pedro Scherer, Leonardo Sandri e dois italianos: Angelo Scola, arcebispo de Milão, e Gianfranco Ravasi. O que não quer dizer que não apareça um outsider.
Que tipo de Papa precisa a Igreja neste momento?
Tem de ser muito forte porque vai ter problemas com o Banco do Vaticano, e vai ter de lidar com isso. A UE também já os avisou que ou resolvem o assunto ou começam a pagar impostos. Isso sim é uma chantagem a sério.
Terá de existir mais transparência? É complicado para os fiéis aceitar que há dinheiros de máfia..
Isso respondo com o meu livro “A Filha do Papa”. Mas primeiro temos de ir mais atrás. Entre 1870 e 1929 estivemos num limbo que se chama a Questão Romana. O_Papa tinham perdido terras e estava na falência. Foi Pio XI e Benito Mussolini que resolvem esta questão, entre 26 a 29. Curiosamente é o irmão de Eugenio Pacelli [futuro Pio XII], Filipe Pacelli, que faz o negócio. Conseguiram uma indemnização enorme de Mussolini, e até lhes construíram o caminho de ferro mais pequeno do mundo tem 325 metros e raramente é usado. Depois disto entregam o departamento financeiro a um banqueiro chamado Bernardino Nogara que tinha uma missão: impedir que a situação se repita. Ele aceitou com uma condição.
Qual?
O Vaticano não tinha nada a ver como e onde ele aplicava o dinheiro, desde cumprisse a lei. Fizeram-se auditorias e não encontraram um único problema. Ele deixou o Vaticano com tanto dinheiro que nem o conseguem gastar. No entanto, esse banco tem acções em fábricas de armamento, de contraceptivos, pornografia. Como dizia Paul Marcinkus, antigo presidente do Banco do Vaticano: “A Igreja não se rege com avé-marias”. Repare, o Vaticano é o segundo maior accionista da empresa Beretta, de armamento. 
Essas contradições chocam e fascinam, mas não existem noutras religiões?
Não porque como me dizia um padre há umas semanas esta é a empresa mais antiga do mundo. Tem perto de 2 mil anos e ganham dinheiro todos os dias, aqui nas igrejas onde deixamos as esmolas. É uma organização genial. Até as igrejas são construídas por mecenas. Eles nunca gastaram dinheiro. Sabia que até 1940 havia um imposto em Portugal para a construção da Basílica de São Pedro? Quem acabou com isso foi Salazar.
Não é de estranhar que as pessoas quando descobrem essas coisas se desiludam com a Igreja?
Acho que as pessoas olham para a religião, que quer dizer religar, de uma forma mais pessoal e acabam por já não ir para uma coisa tipo ninho de víboras do Vaticano que só pensa em dinheiro. No fundo, vão à volta, se não conseguem separar a gestão de um Estado da religião. O Papa gere um Estado com muito poder que não tem classe média, nem povo, só classe dirigente. Não tem greves, manifestações. É um Estado ditatorial que não paga impostos, mas usam os esgotos de Roma, mais uma vez sem pagar. A gasolina no Vaticano custa 0,35¬/litro... É um mundo à parte.
É crente?
Não, não acredito em nada. Quer dizer, tem dias. Mas não sou católico praticante.
Nunca foi?
Fui obviamente quando não tinha opção. A partir do momento em que comecei a ter direitos de opção percebi que não era para mim. Até 2005 a única coisa que sabia era que o Papa era João Paulo II e aparecia à janela a saudar os fiéis. A partir do momento em que comecei a embrenhar-me na história do Vaticano, e comecei por João Paulo I que era um homem impressionante, nunca mais parei.
Mas como começa esse fascínio?
Foi um acaso. Trabalhava em televisão e conheci pessoas ligadas ao Vaticano que me contaram a história de João Paulo I, e percebi que tinha de saber mais. Depois quando se entra por uma porta, nunca mais se pára. Por exemplo, porque é que hoje é dia 5 de Março de 2013? Foi o Vaticano. Basta pensar na história fabulosa do calendário gregoriano, criado pelo Papa Gregório XIII.
Fala quase como um historiador.
Estou a tirar História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, se calhar é por isso.
Mas o seu percurso profissional não é esse?
Não. Quando começo a investigar o Vaticano, percebi que precisava de estudar História, de ter mais sustentação e bagagem.
Sempre se imaginou escritor?
Acho que ninguém se imagina escritor. Aconteceu. Já tinha um valor a mais nas aulas de português pela forma com o escrevia, sabia que a minha escrita causava efeito. Porque não aproveitá-la? Foi mais ou menos isso.
Porquê os thrillers?
A primeira coisa que escrevi foi um histórico, “Um País Encantado” sobre a monarquia, o início da República, e o Estado Novo. Essa é mais a minha onda. O thriller não é bem, porque é extremamente difícil de escrever, tem muitas regras.
Tem vontade de escrever mais livros desse género do que thrillers?
Tenho, mas agora não é possível. Gostava de ser recordado sobretudo como um escritor de qualidade. Com thrillers não se vai a lado nenhum, é um género mal criticado. É quase como as comédias no cinema, a maior parte nem é considerada. O thriller é um bocadinho assim, mas é um dos géneros mais lidos. Quem é que tem razão: críticos ou leitores?_Não sei.
Neste novo livro o que queria mostrar aos seus leitores?
Queria focar-me no Pio XII. Para mim, foi o Aristides de Sousa Mendes em grande escala.
Apesar da opinião pública o ver como colaborador de Hilter?
É muito injusto. Foi o melhor Papa do século XX. É muito fácil investigá-lo, há muita informação disponível porque tentaram beatificá-lo. Ele tinha como o melhor amigo um judeu, chamava-se Guido Mendes, e em criança, o Papa frequentava o sabat. Outro facto, durante a II Guerra Mundial mandou falsificar certidões de baptismo para entregar a judeus que estavam escondidos em mosteiros. É uma injustiça dizer que é o Papa de Hitler. Como é isso é possível se o ditador alemão mandou matá-lo duas vezes?
Quando?
Uma em 1940, chamava-se Operação Pontífice e outra Operação em 1943 chamada Rabat. Na primeira Hitler desistiu, mas em 1943 deu ordens ao comandante italiano Karl Wolfe que o levasse para o Liechtenstein e aí o matasse. Pio XII decidiu que se fosse retirado do Vaticano deixaria de ser Papa e os cardeais deviam procurar refúgio num país neutro, Portugal, e elegeriam outro papa. Toda a fronteira do Vaticano ficou cercada por 700 soldados alemães. Como é que o Papa soube desta tentativa? O próprio Karl disse-lhe que tinha ordens para o matar mas não queria cumpri-las. Hitler estava a perder a paciência enquanto tudo se ia sendo protelado, até que os Aliados invadem Roma e deixou de fazer sentido.
Essa polémica com o nazismo surge porque o Papa nunca falou contra Hitler._Porquê?
Sim, mas há documentação, que não é secreta, com pedidos de vários padres de países como Polónia, Holanda, Áustria a dizer: “Sua Santidade não fale se não vamos sofrer”. Na Holanda, um bispo denunciou o nazismo e mataram 40 mil católicos holandeses. Por outro lado, era um homem de leis, ou seja, denunciava juridicamente. Hitler, sabe-se nos julgamentos de Nuremberga, tinha na secretária 55 protestos de Pio_XII e gozava com eles.
Neste livro foca principalmente o romance entre Pio XII e a Madre Pasqualina._Podemos dizer que é uma história de amor?
Sim, queria escrever a história de amor entre um Papa e uma freira que achei fabulosa. Parti para o livro com essa perspectiva e todas as condicionantes da opinião pública sobre Pio XII. No início nem gostava muito dele, mas descobri um homem fantástico.
Qual foi o facto mais marcante que descobriu?
Tinha um estômago muito débil. Quando foi para a Nunciatura em Munique houve um escândalo porque foi de comboio e existia toda uma carruagem de comida, acharam um exagero. Outro facto é de ter recusado ser Papa. Quando lhe perguntaram no conclave, ele recusou. Quem foi atrás dele foi a Pasqualina, que o encontrou a chorar. Outra coisa gira é que o seu passatempo favorito em criança era celebrar missas. Fui descobrindo esse homem, percebi que há uma tendência de apagar Pasqualina da História.
Foi difícil investigá-la?
Muito. Ela era uma mulher fabulosa que se dedicou a ele de alma e coração, que não gostava da Igreja do dinheiro e foi contra a contratação do banqueiro Bernardino Noara. Ela era o lado da fé, ele o político.
Sendo os dois membros da Igreja, como lidaram com a relação proibida?
Penso que tiveram muitas inseguranças. Ele mais do que ela. Ela sempre soube seu lugar, nos bastidores. Mas ele confidenciava-lhe tudo, até negociações importantes, como as do Tratado de Latrão. E  sempre a defendeu, quando algum Cardeal lhe faltava ao respeito, ele obrigava-o a pedir-lhe desculpa, isto a um príncipe da Igreja era impensável. Ela era alemã, pragmática e inflexível a gerir o palácio apostólico. Por exemplo, os cardeais estavam habituados a entrar e ser vistos pelo Papa, com ela era preciso marcar audiência e a alguns era-lhes negada. Depois do Papa morrer, não foi muito bem tratada. Teve de deixar o Vaticano até às 20h do dia do funeral e foi vista com uma mala e a gaiola do pássaro de Pio XII. No entanto, o_Papa João XXIII fez uma coisa interessante, pô-la a gerir uma casa para mulheres sem marido. 
A hipótese de terem tido uma filha é um rumor ou real?
Fala-se disso. Os rumores vêm de 1960.
Há provas?
Não existem. Uso a ficção para falar sobre isso. Mas a investigação vai mais além e aponta até um nome, seria uma filha chamada Ana que foi criada por uma família de funcionários do Vaticano. É perfeitamente possível, mas lá está, não podemos ter a certeza.
O que se sabe de filhos de Papas?
Os Papas sempre tiveram filhos. Além de Alexandre VI, Júlio II, Pio V, Paulo III. Na altura do Renascimento, por exemplo, as filhas dos Papas eram usadas como princesas para casarem com nobres, os filhos eram cardeais sobrinhos ou recebiam títulos militares porque existia exército. Hoje seria mais como escrevi no meu livro, ou seja, totalmente escondidos.
Nos thrillers sobre o Vaticano há sempre uma fronteira ténue entre realidade e ficção, como é que os leitores lidam com isso?
Há um padre que nos critica muito e diz que o que fazemos não é justo, porque confundimos as pessoas. Temos muitas doses de informação real e ainda ficção. Mas esse é o jogo. Se quisesse escrever algo mais profundo, fazia um ensaio. O que quero é que o leitor se divirta. Monto um espectáculo, com doses cavalares de informação histórica. Mas o leitor do thriller vai ver se é verdade ou não, visita as igrejas de livro na mão e acaba por distinguir as coisas.
A investigação é uma parte importante do seu trabalho enquanto escritor?
É, mas não faço uma investigação focalizada, e sim geral. Analisando ao calhas, até que algo me chama atenção. Aqui foram os rumores da filha do Papa. E a partir daí focalizo a investigação. Há rumores intensos, com direito a dar-lhe nome e ainda indicavam que Pasqualina escondeu de Pio a filha. Uma mulher que sabe que prejudica o trabalho do homem que ama, e se sacrifica desta forma... Uma das frases que uso o livro que faz muito sentido: Por vezes Roma exige sacrifícios de certas pessoas para espiar os pecados do mundo.
Utiliza muitas fontes, como um trabalho jornalístico.
Sim, e agora com a resignação tem sido uma loucura de solicitações. Tenho jornalistas que me ligam e perguntam:_“quem vai ser o próximo Papa?”. Há que ter calma, espero acertar mas não sei. Sabe, não é indo ao topo da hierarquia que se tem informação no Vaticano. Aliás, como em lado nenhum. Temos mais informação se formos ao motorista do que ao homem que anda no banco de trás do carro.
E já tem ideia para o próximo livro?
Sim e já tem um título, chama-se “A Resignação”. É inevitável.
Ser bestseller do “New York Times” mudou a sua vida?
Não. Quer dizer, agora antes de me apresentarem, dizem que sou bestseller e comercialmente é muito usado. É mais uma nota para o currículo. Qualquer autor gostava de o ser e fico muito contente com esta distinção. Mas acho estranho ser o primeiro português. Não abona muito a favor dos americanos. Temos o Saramago, que foi Nobel, se o Saramago não chega ao top, não chega ninguém. Mas não, olhe, chegou o escritor de thrillers do Vaticano.



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