sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Rocha ou fungo? Polémica marciana nas mãos da justiça


NASA garante ao i que já fez verificações e é mesmo uma pedra. Juiz vai avaliar se a agência fez o suficiente

"Qualquer adulto inteligente, um adolescente, uma criança, um chimpanzé, um macaco, um cão ou um roedor com uma ponta de curiosidade iria aproximar-se para ver melhor." Rhawn Joseph não poupa na ironia na petição interposta dia 27 de Janeiro contra a NASA no Tribunal Distrital do Norte da Califórnia. O astrobiólogo, conhecido pelos seus trabalhos científicos que especulam sobre a existência de vida extraterrestre, reclama uma ordem judicial para que a NASA seja obrigada a fazer imagens microscópicas do achado que a 17 de Janeiro classificou como "algo nunca visto" e que agora diz ser uma rocha. O caso está nas mãos do juiz sénior Ronald M. Whyte, que ainda não agendou audições. Mas a NASA já foi notificada.

Na petição, Rhawn Joseph relata que após a agência espacial ter revelado imagens captadas pelo rover Opportunity - de uma estrutura em forma de taça e do tamanho de um donut que não estavam naquele sítio 12 dias antes - ele aumentou as fotografias divulgadas e, garante, na primeira já surgia a mesma estrutura, mas mais pequena. Perante essa evidência, e porque não há marcas no chão compatíveis com um impacto de meteorito ou uma eventual deslocação causada pelo rover - as hipóteses da NASA -, acredita que é possível tratar-se de um fungo semelhante a um cogumelo, estrutura que na Terra chamamos de apoteca e é composta de liquéns e cianobactérias. "A explicação da NASA é bizarra, absurda, ignorante e quase mágica. Uma rocha ou um meteoro não crescem", lê-se na petição, onde o investigador questiona o porquê de a NASA só ter divulgado imagens feitas a três metros da estrutura, de baixa resolução e desfocadas.

O caso foi nos últimos dias remetido para o reino do insólito e a agência espacial garante não haver dúvidas de que o objecto é uma rocha e que fez imagens mais aproximadas. "A NASA tem divulgado publicamente a investigação em curso que inclui imagens aproximadas da rocha a que chamámos Pinnacle Island", disse ao i o director de comunicação, Allard Beutel, adiantando, contudo, que a agência está a inteirar-se do processo legal e responderá no "momento apropriado".

Embora Joseph não esteja vinculado a nenhuma universidade, tem livros e artigos publicados e contactos com cientistas da área sugerem que não é visto como uma figura completamente esotérica. "Ele tem direito à sua opinião e devemos respeitá-la", disse ao i Christopher House, especialista em astrobiologia da Universidade da Califórnia. Contudo, avisa que a "Cosmology"- revista científica onde a tese do fungo foi aceite para publicação - não é muito credível, embora siga as regras da revisão por pares. "Os contributos que lá aparecem devem ser vistos com cautela." Para este investigador, a NASA agiu bem: "Tanto quanto sei, fizeram imagens microscópicas. É um uso notável de tempo valioso, por isso compreendo que sigam em frente", diz, entendendo que continuar seria um desperdício - a mesma palavra que usa para classificar a opção do colega de avançar com uma acção legal: "Não me parece razoável, é um desperdício do dinheiro dos contribuintes e uma distração numa missão importante."

Se esta tem sido a principal postura da academia perante Joseph, há quem a conteste. O argumento de que os impostos são para gastar em investigação séria é desde logo invocado pelo astrobiólogo, que lamenta que ninguém na agência tenha respondido aos seus contactos e avisa que o tempo é vital, pois se for um fungo pode desaparecer. Já a ideia de que a revista ou o autor da petição são pouco credíveis é contestada por Rudolph Schild, que fala em causa própria já que é editor da "Cosmology" - dois funcionários da NASA estão entre os revisores - mas é também astrofísico na Universidade de Harvard. "Nunca vi nada que justificasse críticas, excepto talvez que os seus trabalhos empurram as fronteiras do conhecimento, o que inevitavelmente gera resistências", disse ao i. "Se houver alguma hipótese de a rocha ser especial, deve ser tratada assim. Será mais importante que outros estudos em curso, como a exploração em torno da história da água em Marte. Devia ter prioridade máxima."


Fonte: Jornali

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