Os primeiros dados recolhidos pela sonda espacial europeia já fornecem o retrato mais detalhado de sempre de um cometa.
Sete artigos publicados esta quarta-feira pela revista Science formam o primeiro conjunto de resultados científicos obtidos com base nos primeiros meses de observação do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko pela sonda Roseta da Agência Espacial Europeia (ESA).
Recorde-se que o “encontro” da sonda com o cometa aconteceu em Agosto do ano passado e que o File – o pequeno robô que a sonda transportava – pousou na superfície do bólide em Novembro. Ora, embora o File tenha entretanto entrado em hibernação, a sonda Roseta continua muito activa, estando a decorrer a bordo 11 experiências científicas cujo objectivo é perceber o comportamento do cometa à medida que este se aproxima do Sol.
Os artigos agora publicados descrevem, com um nível de pormenor nunca antes atingido, a forma do cometa, a sua composição e as características da sua superfície, entre outras coisas, “realçando o desempenho do conjunto de instrumentos high-tech a bordo da Roseta”, frisa a Science em comunicado.
Uma das conclusões a que chegaram os cientistas envolvidos nestas pesquisas é que o núcleo de 67P – isto é, o seu centro sólido, feito de poeiras, rochas e gases congelados – terá uma consistência porosa, quase esponjosa. Uma outra é que a superfície do núcleo do cometa está coberta de uma camada de compostos orgânicos opacos que quase não contém água congelada.
Os cientistas pensam que essa desidratação se deve provavelmente ao facto de a maior parte da água gelada do cometa ser ejectada para o espaço, sob forma de vapor de água, ao nível da sua zona mais estreita. Esta descoberta poderá ainda significar que o cometa era inicialmente uma única massa (e não duas que se fundiram numa só) e que foi encolhendo pelo meio, “como uma maçã roída", explica um comunicado da Universidade de Maryland (EUA), cujos cientistas realizaram este estudo.
Uma outra descoberta, que diz respeito à natureza dos compostos orgânicos à superfície do núcleo, revelou-se surpreendente. Os investigadores esperavam detectar as “assinaturas” de moléculas mais complexas do que aquelas que encontraram efectivamente. O resultado poderá dar pistas sobre a forma como as moléculas que contêm carbono surgiram e se espalharam pelo sistema solar.
A sonda também analisou a espessa nuvem de poeiras e gases que envolvem o núcleo do cometa – e os cientistas tiveram, aqui também, uma surpresa, ao constatar que, apesar da fraca gravidade do cometa, há nessa nuvem partículas “suficientemente grandes e pesadas para desafiar a pressão da radiação solar” à que o cometa é exposto.
Num outro estudo ainda, descobriu-se que a composição dessa nuvem, dessa “atmosfera”, varia ao longo do tempo, por vezes num intervalo de poucas horas, lê-se num comunicado do Instituto de Investigação do Sudoeste, no Texas (EUA). Mais precisamente, contém por vezes muito mais dióxido de carbono do que vapor de água. A observação poderá indicar que o próprio núcleo de 67P é muito mais heterogéneo do que se pensava, contrariando a ideia de que os cometas são feitos principalmente de gelo.
Fonte: Publico
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