Em janeiro, um programa de computador criado por dois investigadores norte-americanos, o Libratus, provou ser capaz de vencer os melhores do mundo no póquer. Agora, quase um ano depois, os investigadores revelam como foi possível.
Segundo o estudo publicado domingo na revista Science, a aprendizagem do Libratusbaseia-se em três módulos. O estágio inicial baseia-se em ensinar uma versão simplificada do jogo, fazendo com que o sistema considere 10161 hipóteses possíveis de decisão.
Após a primeira fase, o sistema é capaz de criar um mapa estratégico para seguir. Depois, o programa aprende a partir de jogadas que não estão inseridas na versão simplificada do póquer. Já o terceiro módulo dedica-se ao “auto-aperfeiçoamento”, mas sem se aproveitar das fraquezas do adversário.
“Geralmente, em jogos, a inteligência artificial aprende a basear-se no jogo do adversário e encontrar falhas na sua estratégia (por exemplo, abandonar demasiadas rodadas) e explorar esses erros”, lê-se no estudo. “O problema é que ao explorar os oponentes, a inteligência artificial abre-se a ser, ela mesma, enganada”.
Segundo o Público, o terceiro módulo analisa o tamanho das apostas dos adversários para, assim, detetar possíveis “buracos na estratégia” e saber se estão a fazer bluff.
Em suma, o Libratus aprende a arte de fazer bluff – ao apresentar jogadas de forma aleatória para confundir os oponentes – e interpreta a informação enganosa para conseguir ganhar o jogo.
Tuomas Sandholm, professor de ciências da computação da Universidade de Carnegie Mellon, e Noam Brown, estudante de doutoramento no mesmo departamento, afirmam que este foi um verdadeiro desafio, mas foi assim que se tornou possível o computador vencer quatro dos melhores jogadores do mundo num torneio de 20 dias.
A inteligência artificial já venceu em vários jogos de estratégia, como o Go, mas o póquer é uma área muito mais complicada por esconder certos elementos. Ao contrário do póquer, “nos sistemas de informação perfeita, ambos os jogadores sabem o estado do jogo a qualquer ponto”, explicam os autores do relatório.
Este é um importante avanço para o futuro e difusão das aplicações de inteligência artificial. Conforme afirmam os investigadores, “as técnicas que desenvolvemos podem ser utilizadas noutros sistemas de informação, incluindo aplicações que não são meramente recreativas”.
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