quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Ossos humanos em edifício do Vaticano poderão ser de Emanuela Orlandi


A descoberta de ossos humanos debaixo do solo de um porão da Nunciatura da Santa Sé em Roma fez aumentar a hipótese que se possa tratar dos restos mortais de Emanuela Orlandi, a jovem filha de um empregado do Vaticano cujo desaparecimento há 35 anos é um dos grandes mistérios de Itália.

A Procuradoria de Roma abriu uma investigação por delito de homicídio e ordenou uma análise dos restos encontrados por alguns operários na tarde de segunda-feira enquanto realizavam obras na Nunciatura, explicou o Vaticano em comunicado.

“O procurador chefe de Roma, Giuseppe Pignatone, pediu à Polícia Científica e à Polícia de Roma que averiguem a idade, o sexo e a data de morte“, lê-se no texto oficial. Não foi avançado mais nenhum detalhe, nome ou nota oficial por parte da Procuradoria.

Mas nos meios de comunicação italianos disparou imediatamente a possibilidade de que estes restos pertençam a Emanuela Orlandi, a rapariga de 15 anos que desapareceu a 22 de junho de 1983 quando a caminho da escola de música de San Apolinar, no centro de Roma, sem que desde então tenha havido notícias sobre o seu paradeiro.

“Será importante estabelecer o sexo, a idade e o período no qual foram enterrados antes de chegar a qualquer conclusão” explicou à EFE o porta-voz do Vaticano, Greg Burke.

As notícias na imprensa italiana levaram também a uma reacção da família da jovem, que através da sua advogada, Laura Sgro, fez saber que tinham sido pedidas informações à Procuradoria e à Santa Sé sobre como foram encontrados os ossos e, principalmente, a razão por que foram associados ao caso do desaparecimento de Emanuela.

Os meios de comunicação adiantaram esta quarta-feira a hipótese de que se trate na realidade de restos que pertencem a duas pessoas, já que foram encontrados em dois lugares diferentes – o que sugere que se possa tratar de Mirella Gregori, outra jovem desaparecida também nesse mesmo ano e da qual nunca mais houve notícias.

O caso Orlandi está revestido de várias facetas misteriosas, mas quais se cruzam todo o tipo de teorias que juntam mafiosos, a Igreja Católica e até mesmo o turco Ali Agca, que em 1981 atentou contra o papa João Paulo II.

Ali Agca assegurou então que o desaparecimento das adolescentes estava ligado a uma exigência de que ele fosse colocado em liberdade e assegurou que estavam vivas, mas a hipótese nunca foi tida como credível, já que o terrorista mudou de versão em diversas ocasiões.

Não é a primeira vez que a descoberta em Roma de alguns ossos faz pensar no desaparecimento de Orlandi. Em 2012, encontraram-se restos ósseos não identificados ao lado do túmulo, na basílica de San Apolinar, de Enrico De Pedis, chefe do “Bando de la Magliana”, a máfia de Roma durante os anos 70 e 80.

A pista de que alguém teria encarregado este grupo do sequestro de Orlandi foi uma das hipóteses avaliadas durante a investigação, sobretudo depois de a namorada de De Pedis, Sabrina Minardi, ter dito à procuradoria de Roma que tinha sido encarregada de meter a jovem no seu automóvel e levá-la ao local que o seu parceiro lhe tinha indicado.

Segundo a versão que Minardi apresentou na altura, a jovem teria sido sequestrada por indicação do arcebispo americano Paul Marcinkus, então director do Instituto para as Obras Religiosas, mais conhecido como Banco Vaticano, “para dar uma lição a alguém”.

Após estas revelações, foi aberta uma investigação a Piero Vergari, o ex-reitor da basílica de San Apolinar que autorizou que De Pedis fosse enterrado na basílica de San Apolinar, e que tinha trabalhado durante algum tempo na Nunciatura do Vaticano onde foram encontrados os restos.

São muitas a hipóteses avançadas durante todos estes anos sobre este caso, e a família nunca se cansou de procurar a verdade – um esforço que agora ganha ímpeto com a descoberta dos restos ósseos.

Fonte: ZAP

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