segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Angoche - Segredo De Estado


O Mistério Do Ataque Terrorista Ao Navio Angoche

Em abril deste 2018 passaram-se 47 anos sobre o 'caso Angoche'
O que aconteceu à tripulação? Quem foram os autores do seu desaparecimento? Morreram ali? Todos eles? Porquê?

As versões são várias. Mas as pontas soltas que podiam conduzir à verdade foram todas 'aparadas'.

Vários dos suspeitos, quase sempre nos bastidores, assumiriam importantes cargos nas décadas seguintes.

O império e os seus destroços continuam com as mãos manchadas de sangue, não só de inimigos da pátria. 'Wiryamus', Angoche, Camarate... Quem mandou? O que quis ocultar?
Mesmo a esta distância, após o 25-Abril, nem Frelimo, nem PCP, que foram inicialmente apontados, nem militares portugueses de qualquer das franjas, ninguém se chegou à frente. Por umas razões ou por outras, neste jogo de espelhos.

E mais uma vez, nem sempre o que parece, é. Nunca houve qualquer submarino vermelho ou amarelo, obviamente, nem mão da Frelimo ou da Tanzânia! Enfim... os heróis da nova república não podem ser, ou não podem ser tidos, como assassinos, não se pode dizer que o novo monarca vai nu. Ou que a corte dos novos monarcas, afinal, porta incólume o segredo dos anteriores.

O CENÁRIO: PORTUGAL, ESTE PAÍS DE MITOS E MISTÉRIOS

A História de Portugal regista no seu seio um número considerável de mistérios ou de questões que até hoje não foram completamente esclarecidos. Revejo uma breve lista para que me chamaram a atenção: A questão sobre o “milagre” de Ourique; O que se passou nas primeiras cortes de Lamego; As navegações para Ocidente a partir dos Açores; O que aconteceu ao espólio do Infante D. Henrique; O significado do Políptico de S. Vicente de Fora; O que se passou em termos de navegações entre a viagem de Bartolomeu Dias e a preparação da Armada de Vasco da Gama; O afastamento de Pedro Álvares Cabral de qualquer vida pública após a viagem em que descobriu oficialmente o Brasil; A reforma das Ordens Militares ao tempo de D. João III; O desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer Quibir; O Processo dos Távoras; A expulsão dos Jesuítas; O porquê da construção do convento de Mafra; A morte de D. João VI; O assassinato do Rei D. Carlos I; O desaparecimento das jóias da coroa portuguesa; E, mais recentemente, a morte do General Humberto Delgado e o 'caso Angoche'. E o sempiterno, agora, Caso Camarate. Mas, vamos ao Angoche!

Em 26 de Abril de 1971, a "Hermenegildo Capelo" durante a sua comissão em Moçambique procedeu ao reboque do Navio Mercante da Companhia Nacional de Navegação, o “Angoche”, até a entrega deste à guarda do Comando Naval de Moçambique, encontrado que fora por um petroleiro, à deriva , a 50 milhas a Leste da costa de Moçambique entre Quelimane e Beira. Parcialmente destruído por um incêndio, na popa e. sem vestígios dos 23 membros da tripulação, e de um passageiro. Estávamos nos primeiros dias de um mistério que subsistiu até aos nossos dias.

CRONOLOGIA BREVE 

10-Abril-1971*escala o porto de António Enes.

22-Abril-1971*Um pedido da Base Militar de Nacala obriga o navio a fazer escala em Nacala. Nessa altura a sua carga era composta de:Farinha, açúcar, gasóleo, material de guerra [100 bombas de 50 kgs e cargas inertes para bombas de Napalm que transportava para a FAP, entre outro], caixas de material aeronáutico, e de engenharia.

23-Abril-1971*parte de Nacala rumo a Porto Amélia.

26-Abril-1971*às 7.30 horas é encontrado a arder ao largo de Mongicul, pelo petroleiro panamiano Esso Port Dickson. Durante todo esse dia a tripulação do petroleiro combateu o incêndio, que se calculou ter origem numa explosão, cerca de 12 horas antes [versão bastante contestada]. O comandante do petroleiro manteve absoluto sigilo acerca do achado (tendo rejeitado ajuda de outros navios) e o Angoche foi abordado, não tendo encontrado vestígios da tripulação. Com base em relógios de pulso achados no navio, calculou-se a hora da explosão entre as 22.45 e as 23.20 horas. Nesse mesmo dia foi dada ao Com. Naval de Moçambique, a notícia de que o navio não tinha chegado a P. Amélia.

27-Abril-1971*às 17.00 chega a informação de que tinha sido encontrado pelo Esso Port Dickson, não tendo sido facultada a sua posição. Nos seis dias seguintes efectuaram buscas a Com. Hermenegildo Capelo – uma fragata da classe João Belo - e a corveta João Coutinho, além de aviões militares e civis.

03-Maio-1971* a Hermenegildo Capelo avista o petroleiro que tentava passar o cabo de reboque ao salvadego alemão Baltic.

06-Maio-1971* chegam ao porto de Lourenço Marques (Maputo) escoltados pela fragata, iniciando-se as investigações por parte da PIDE/DGS, que duraram meses sem se chegar a qualquer conclusão. Marcelo Caetano em comunicado tentou explicar que alguns tripulantes tinham morrido na explosão, e os restantes ao se atirarem ao mar, haviam sido comidos por tubarões. Nunca foram encontrados quaisquer corpos. (Artigo de A.A. Morais, publicado na Revista de Marinha em Janeiro de 1996).

O EMBARQUE:

O navio não era de passageiros mas levava um passageiro a bordo, a quem se deu uma boleia, o que era estranho. Houve uma outra coisa curiosa: a mudança, à última hora, do radiotelegrafista. O radiotelegrafista que era para ir resolveu não ir. Pode ter sido uma mera coincidência, mas é curioso que assim tenha sido. O comandante e parte da tripulação eram da Ericeira.

APÓS O INCIDENTE:

Avistado a arder, por um petroleiro. A tripulação deste apaga o fogo.

HÁ MANCHAS DE SANGUE NO NAVIO. HOUVE INCÊNDIO MAS NÃO EXPLOSÃO.
NÃO HÁ NINGUÉM A BORDO. HÁ UM CÃO.
Como atrás se disse, o reboque do navio estava a ser passado a um rebocador, o Baltic, quando foram interceptados pela marinha portuguesa, e entregue o Angoche às autoridades, sendo fundeado na baía Espírito Santo, defronte a Lourenço Marques. A primeira pessoa que fez a investigação a bordo do Angoche foi o inspector Casimiro Monteiro (PIDE). Verificou que 'as armas não estavam lá'.

ONDE PÁRA A TRIPULAÇÃO? DIVERSOS CENÁRIOS E ESPECULAÇÃO

1 – Levados pela tripulação da embarcação autora da abordagem/ataque. Fala-se em Nachingweia, o campo da Frelimo na Tanzânia, e da sua morte aí. Referem-se recortes de um jornal chinês em que aparecem fotografados, em detenção.

2 – Devorados pelos tubarões/afogados ao saltarem desordenadamente para as águas ou baleeiras, devido a um incêndio, ou isso e serem depois eventualmente atingidos a tiro pela mesma embarcação/submarino (soviético?) que abordou o Angoche, no caso de um ataque por mar. Este cenário cabe ainda noutra versão que refere ter sido o Angoche bombardeado também a napalm por Fiats G91 da própria força aérea portuguesa tripulados por contestatários, cenário que a PIDE se esforçou por camuflar por ser o mais tremendo de todos.

3 – Uma última notícia relacionada com o navio “Angoche” é de Fernando Taborda, o último administrador português de Quionga: “Saiba o povo português que, em Março de 1974, foi descoberta, na foz do Rovuma, uma baleeira do navio “Angoche”, com insígnias começadas por NA confirmada pelo cabo de mar de Palma e que, sobre ela, nunca me foi dada resposta à circular que mandei para a Capitania de Porto Amélia.” - In Quionga, meu amor

PORQUÊ?

Versão A) Contrariar a génese de um movimento de guerrilha contra a Tanzânia encabeçado pelo tanzaniano-moçambicano Óscar Kambona. Algum do armamento do Angoche seria para esse grupo – a PIDE já trabalhava esse corpo militar, o que é confirmado até por Óscar Cardoso (PIDE/Flechas) em entrevista: ‘havia informadores na Tanzânia em ligação a Oscar Kambona, o chefe da oposição a Julius Nyerere. Mas o controlo era feito através de Lisboa, pela secção central na António Maria Cardoso, chefiada por Álvaro Pereira de Carvalho’.

B) Révanche a uma acção de forças sul-africanas ocorrida contra um barco tanzaniano em Dar-es-Salaam mas em que Portugal ficara como suspeito – afirma o operacional Orlando Cristina (Renamo/Jorge Jardim/exército português).

C) As hipóteses mais simples (ou menos conspirativas) apontariam para um acto de loucura de algum tripulante, que tivesse morto os seus companheiros e depois se atirasse ao mar, ou coisas desse género(clandestinos a bordo…)

D) Incêndio a bordo. A tripulação abandona o navio precipitadamente. O incêndio consome o navio. O(s) salva vidas com a tripulação afunda-se. 

E) Em dada altura foi a mais plausível: Afirmação de força da ARA – Acção Revolucionária Armada (dissidentes extremistas do PCP e a que estava ligado Vítor Crespo), que demonstra poder sabotar os meios da guerra colonial. Ligam os vestígios explosivos/incendiários ao mesmo material utilizado na sabotagem dos hélis em Tancos e na de um navio na doca de Alcântara. 

“Quem fez explodir os helicópteros de Tancos, fez explodir o Angoche. É que as duas explosões foram provocadas pelo mesmo tipo de explosivo, do mesmo lote. Nós tínhamos um laboratório de polícia no 3º andar da António Maria Cardoso e que era dirigido pelo dr. Carlos Veloso, que ainda é vivo. Foram aí feitas análises para apurar responsabilidades, tendo-se concluído precisamente que as duas acções foram realizadas com o mesmo lote de explosivo. 

É evidente que o processo do Angoche desapareceu sem deixar rasto. O processo demonstrava que o crime foi perpetrado pela ARA, com a conivência de oficiais superiores da Marinha, entre eles o Vítor Crespo, que nos meios castrenses e não só era também conhecido por Vítor Copos. É que o PCP teve sempre, e ainda tem, os seus informadores na Forças Armadas. Ora, foi precisamente através desses informadores que o PCP soube que o Angoche transportava material de guerra para o norte de Moçambique”. (…) – Óscar Cardoso / PIDE.

F) Tráfico de Armas

G) Transportava Ouro... de algum assalto? Para subsidiar alguma guerra ou corpo de mercenários para uma das ilhas do Índico?

H) Nenhuma das anteriores. Talvez a mais simples de todas. Sempre esteve à frente. E sempre atiraram areia para os olhos fazendo olhar noutra direcção.

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