terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Milhares de milhões de toneladas de microorganismos, incluindo bactérias "zombie", sob os nossos pés

Este nemátodo vive a 1,4 Kms abaixo da superfície, neste caso de uma mina
de outro na África do Sul  Extreme Life Isyensya, Belgium
Uma equipa internacional de cientistas descobriu um ecossistema subterrâneo com o dobro do tamanho dos oceanos do planeta e que abriga milhares de milhões de toneladas de microorganismos

A quilómetros da superfície da Terra, há uma espécie de "Galápagos subterrâneos", lar de várias formas de vida, algumas com milhões de anos, e que incluem bactérias que "mal estão vivas" e que os cientistas classificam como "zombies".

A descoberta resulta do trabalho, ao longo de uma década, do coletivo de mais de mil investigadores do Deep Carbon Observatory (DCO), que se congratula com as novas perspetivas da vida "que nem sabiam que existiam".

As amostras foram retiradas a partir de buracos com mais de 5 quilómetros de profundidade e perfurações subaquáticas.

Apesar do calor extremo, da ausência de luz, da falta de nutrientes e da grande pressão, os cientistas estimam que a biomassa deste ecossistema subterrâneo tenha entre 15 a 23 mil milhões de toneladas. Se o número, só por si, é imponente, faça-se a comparação: é centenas de vezes o peso combinado de todos os humanos. Já o volume corresponde quase ao dobro do de todos os oceanos da Terra - 2 a 2,3 mil milhões de quilómetros cúbicos.

Do ecossistema fazem parte milhões de tipos diferentes de bactérias e micróbios como os archaea e os eukarya. Os cientistas acreditam agora que 70% de todas as bactérias e archaea vivem no subsolo.

"É como encontrar um reservatório de vida completamente novo na Terra", entusiasma-se Karen Lloyd, professora associada na Univerisdade do Tennessee, EUA. Já Mitch Sogin, co-presidente do DCO, compara o achado à descoberta de uma nova Amazónia: "Há vida em toda a parte e em toda a parte há uma abundância surpreendente de organismos inesperados e invulgares."

A revelação deixa, por outro lado, mais perguntas do que respostas, com o início da vida à cabeça: a vida começou em profundidade e depois "migrou" para a superfície, em direção ao Sol?, questionam os cientistas, no relatório. "Ou a vida começou em água morna à superfície e migrou para baixo?" Mas há mais dúvidas: "Como é que ausência de nutrientes e as temperaturas e pressão extremas afetam a distribuição microbial e a diversidade no subsolo?"; "Qual a principal fonte de energia para a vida no subsolo?"

"Os nossos estudos sobre os micróbios da biosfera profunda produziram muito conhecimento novo, mas também a tomada de consciência do quanto temos de aprender sobre a vida subterrânea", resume Rick Colwell, da Universidade do Estado de Oregon.

A equipa do DCO reúne 1200 cientistas de 52 países, com especialidades desde a geologia à microbiologia, da química à física.

CLARA CARDOSO

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