quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Como é que o peixe-gelo-austral não congela


Descodificados mais de 30 mil genes de peixe da Antárctida.

Durante a sua evolução, o peixe-gelo-austral (Chaenocephalus aceratus) perdeu os glóbulos vermelhos, mas mesmo assim não tem falta de oxigénio. Agora uma equipa internacional de 22 cientistas sequenciou o genoma deste peixe que vive na Antárctida e publicou os resultados na revista Nature Ecology & Evolution.

Ao todo, os investigadores mapearam 30.773 genes e localizaram-nos ao longo dos cromossomas deste peixe, que vive maioritariamente no oceano Antárctico. “O mapa indica os genes que se adaptaram ou desapareceram à medida que os peixes se aclimatizaram durante o aumento das concentrações de oxigénio enquanto o oceano Antárctico arrefecia”, lê-se num comunicado da Universidade do Oregon (EUA), que esteve envolvida neste trabalho.

Para sobreviver a um oceano tão frio, o peixe-gelo-austral perdeu durante a evolução os glóbulos vermelhos (que transportam oxigénio). Mesmo assim, Manfred Schartl, da Universidade de Würzburgo (Alemanha), salienta que o peixe-gelo-austral não tem falta de oxigénio. A baixas temperaturas, a saturação de oxigénio na água do mar e, desta forma, a de todos os fluidos corporais do peixe, é tão elevada que o transporte de oxigénio deixa de ser necessário.


Peixe-gelo-austral JOHN POSTLETHWAIT/UNIVERSIDADE DE OREGON

Outra das particularidades deste peixe é a capacidade de produzir proteínas “anticongelantes”, que o protege de morrer de frio. Este estudo dá ainda outras pistas sobre a sua evolução. “As populações de peixe-gelo apareceram no final do Plioceno [há 3,3 a três milhões de anos] depois de as temperaturas na Antárctida terem descido 2,5 graus Celsius”, assinala Manfred Schartl. Há 77 milhões de anos, o peixe-gelo-austral divergiu da linhagem do seu antepassado comum com o esgana-gatas.

Este estudo pode ainda ser essencial para a investigação biomédica. “Sob condições naturais, estes peixes desenvolvem fenótipos que correspondem a doenças humanas”, refere Manfred Schartl.

Fonte: Publico

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