quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Estudo associa químico na água da torneira a cancro da bexiga. Portugal em maus lençóis


Mais de 6500 casos anuais de cancro na bexiga, cerca de 5% de todos os casos na Europa, incluindo em Portugal, podem ser atribuídos à exposição a químicos (trihalometanos) na água potável, segundo um estudo divulgado esta quarta-feira.

Apesar de o nível médio de trihalometanos na água potável se situar abaixo do limite máximo (100 microgramas por litro) permitido na União Europeia em todos os 26 países analisados, há picos de concentrações máximas que excedem o limite em nove, grupo em que se inclui Portugal, concluiu um estudo de investigadores do Instituto de Saúde Global de Barcelona. A concentração anual média de THM na água da torneira em território luso é de 23,8 microgramas por litro, abaixo do limite, mas por vezes excede o valor limite.

Os investigadores listam como países com maior incidência de casos de cancro da bexiga atribuíveis a exposição a THM o Chipre (23%), Malta (17%), Irlanda (17%), Espanha (11%) e a Grécia (10%). Portugal regista uma incidência de 9,1%, o que significa que cerca de 9% dos casos de cancro da bexiga registados no país podem relacionar-se com os trihalometanos. No extremo oposto estão a Dinamarca (0%), a Holanda (0,1%), a Alemanha (0,2%) a Áustria (0,4%) e a Lituânia (0,4%).

Os trihalometanos formam-se no processo de desinfeção da água e são um conjunto de quatro compostos orgânicos: clorofórmio, bromodiclorometano, dibromoclorometano e bromofórmio. O potencial cancerígeno já era conhecido, mas o estudo pretende estabelecer uma relação direta entre a exposição a esses compostos e casos de cancro da bexiga.

"Investigações anteriores haviam estabelecido uma associação entre a exposição prolongada a THM - seja por ingestão, inalação ou absorção dérmica - e o aumento do risco de cancro da bexiga", refere o comunicado do Instituto.

Os autores do estudo, publicado no boletim científico "Environmental Health Perspectives", analisaram dados recentes sobre os níveis de THM nas redes municipais de água da Europa e estimaram a carga de doença para o cancro da bexiga atribuível à exposição a este composto. "O maior desafio foi recolher dados representativos sobre os níveis nacionais em todos os países da UE. Esperamos que estes dados estejam mais prontamente acessíveis no futuro", disse Cristina Villanueva, que coordenou o estudo.

Os investigadores enviaram questionários a entidades responsáveis pela qualidade da água municipal a requisitar informação sobre a concentração total e individual de trihalometanos nas torneiras da rede de distribuição e nas estações de tratamento de água. Complementarmente, foram obtidos dados de outras fontes, como publicações online, relatórios e literatura científica. Os dados são referentes ao período entre 2015 e 2018, em 26 países da União Europeia, cobrindo 75% da população, que revelaram diferenças consideráveis entre países.

O número potencial de casos de cancro na bexiga foi estimado através de um cálculo estatístico relacionando os níveis médios de THM com a informação internacional disponível sobre as taxas de incidência deste tipo de cancro em cada país. No total, os investigadores concluíram que 6561 casos de cancro da bexiga por ano na UE são atribuíveis à exposição a trihalometanos.

Os autores do estudo recomendam que os países com níveis mais elevados de THM na água tratada façam esforços para reduzir esses compostos e estimam que, se os 13 países com os níveis mais elevados de THM reduzissem essa concentração, poderiam ser potencialmente evitados 44% dos casos anuais de cancro da bexiga atribuíveis a exposição a THM.

Fonte: JN

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