Depois de três meses de testes bem-sucedidos em órbita, o telescópio espacial CHEOPS conseguiu determinar o diâmetro de um planeta maior do que Júpiter.
Ao fim de três meses de testes em órbita, o telescópio espacial CHEOPS, da Agência Espacial Europeia (ESA), observou a estrela HD 93396, para tentar detetar o trânsito do já conhecido exoplaneta KELT-11b, um “júpiter quente” 30% maior do que Júpiter. A grande precisão dos instrumentos do CHEOPS, em parte desenvolvidos pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), permitiram calcular o diâmetro deste planeta em cerca de 181 600 quilómetros, com uma incerteza a rondar apenas os 2%.
Fazer medições com precisão do diâmetro de exoplanetas, em particular de exoplanetas mais pequenos, é uma das missões mais ambiciosas do CHEOPS. Mas antes de ser declarado apto para cumprir esta tarefa, o pequeno telescópio de 30 centímetros de diâmetro, e desenhado para poder operar em modo quase-automático, teve de passar uma série de testes nos últimos três meses. Alguns dos seus alvos foram estrelas estáveis e com características bem conhecidas, que permitiram aos investigadores do consórcio – do qual o IA faz parte verificar se o satélite tinha a precisão e estabilidade necessária para cumprir esse objetivo.
O certo é que os testes realizados demonstraram não só que a equipa de Terra consegue comandar o satélite apesar do estado de emergência em que se encontram grande parte dos países Europeus, como também que este tem a precisão fotométrica necessária para cumprir os seus objetivos científicos.
“As primeiras medições obtidas servem acima de tudo para mostrar a excelência e o potencial da missão CHEOPS. Estamos certos que nos próximos meses teremos notícias de resultados fantásticos”, refere Nuno Cardoso Santos, líder da linha de investigação em “A deteção e caracterização de outras Terras” do IA e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP),
Imagem artística do trânsito do “Júpiter quente” KELT-11b em frente à
estrela HD 93396, com respetivo gráfico da diminuição da curva de luz.
(Crédito: ESA/Airbus/Consórcio CHEOPS)
Expectativas superadas
Foi também a partir do Porto que Susana Barros recebeu os primeiros resultados do CHEOPS. “Estamos todos muito contentes. São melhores do que o esperado!, confessa a investigadora do IA, para quem “isto significa que vamos poder atingir os objetivos da missão: estudar a composição e atmosfera de exoplanetas, e talvez descobrir pela primeira vez exo-luas.”
Já Sérgio Sousa, outro dos investigadores do IA/U.Porto envolvidos nesta missão, avaliam os resultados agora conhecidos como “apenas um início muito promissor. O tratamento dos dados do satélite, quer do ponto de vista da redução dos dados, quer do ponto de vista da sua análise científica, tem ainda muita margem de progressão. Por isso, e apesar dos resultados serem já fantásticos, ainda esperamos melhorar mais a precisão de medir o tamanho destes exoplanetas.”
Superada que está a primeira faase de “avaliação”, o CHEOPS está agora a transitar da fase de testes para o começo da fase de operações científicas, que deve arrancar até ao final do mês de abril.
Um mundo novo por descobrir
Para já, os investigadores do consórcio já começaram a observar os chamados “alvos científicos iniciais”, uma seleção de estrelas e sistemas planetários que servem de demonstração para o tipo de observações planeadas com este satélite e que incluem, por exemplo a “super-terra quente” 55 Cancri e, cuja superfície terá lagos de lava, ou o “neptuno quente” GJ 436b, que está a perder a sua atmosfera devido à radiação da sua estrela-mãe.
Outro objeto nesta lista de alvos científicos iniciais é uma anã branca, o primeiro alvo do programa de observadores convidados da ESA, que irá proporcionar a investigadores fora do consórcio a oportunidade de usar as capacidades da missão CHEOPS.
Esta é a primeira missão dedicada a observar trânsitos exoplanetários em estrelas onde já se conhecem planetas, em praticamente qualquer direção do céu. Tem a capacidade única de determinar com precisão a dimensão de exoplanetas na gama entre as super terras e os neptunos, para os quais já se conhece a massa.
O CHEOPS irá ainda determinar com precisão o diâmetro de novos exoplanetas descobertos pela próxima geração de instrumentos em observatórios à superfície da Terra ou ainda identificar potenciais alvos cujas atmosferas possam ser caracterizadas por esses instrumentos.
Portugal na linha da frente
O consórcio do CHEOPS é liderado pela Suíça e pela ESA. Conta com a participação de 11 países europeus, sendo que em Portugal a participação científica é liderada pelo IA.
A participação do IA no consórcio do CHEOPS faz parte de uma estratégia mais abrangente para promover a investigação em exoplanetas em Portugal, através da construção, desenvolvimento e definição científica de vários instrumentos e missões espaciais, como o CHEOPS ou o espectógrafo ESPRESSO, já em funcionamento no Observatório do Paranal (ESO).
Esta estratégia irá continuar durante os próximos anos, com o lançamento do telescópio espacial PLATO (ESA), ou a instalação do espectrógrafo HIRES no maior telescópio da próxima geração, o ELT (ESO).
Fonte: Universidade do Porto
Sem comentários:
Enviar um comentário